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Brasil concentra mais terra do que renda, diz ministro

O índice de concentração fundiária no Brasil, que é um dos maiores do mundo, é ainda maior que o de concentração de renda, que também está entre os maiores do mundo. A informação foi dada pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, que participou de audiência pública promovida pela Comissão de Agricultura da Câmara para discutir os projetos de assentamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário e do Incra e os conflitos agrários no País.

Cassel foi questionado sobre a atualização dos índices de produtividade da terra para efeito de reforma agrária, prometido pelo governo ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que provocou a ira da bancada ruralista, contrária à medida. O ministro disse que a questão deve ser técnica, sem viés ideológico.

Ele disse que conversou com o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, “que tem uma discordância quanto à oportunidade de fazer esta revisão”, acrescentando que o assunto deve ser tratado com o presidente da República, “que, em última instância, é quem resolve este assunto”, destacou Cassel.

Stephanes vem sendo pressionado para não assinar a portaria de atualização dos índices pela bancada ruralista, composta em sua maioria pelo PMDB, partido que o indicou para o cargo. (Pressão do PMDB atrasa decisão sobre índices de produtividade)

Reversão do quadro

Na audiência, Cassel, que já assinou a portaria dos novos índices de produtividade da terra, adiantou os dados do Censo Rural do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que serão divulgados no fim deste mês. Os números indicam que nos últimos anos foram criadas mais de 350 mil propriedades rurais e que o tamanho médio delas diminuiu de 78 para 63 hectares. Segundo ele, essa é uma das indicações de que alguns quadros históricos no país estão se invertendo.

“Com os últimos 40 anos de industrialização e urbanização acelerada, o rural virou resíduo do urbano. A legislação brasileira define o rural por exclusão. Isto dá uma idéia de como tem sido tratada a questão do desenvolvimento rural no País. Temos que superar esta visão e está cada dia mais claro que temos duas agriculturas com muita capacidade produtiva e com capacidade de incorporar tecnologia e de trabalharem de forma complementar”, disse o ministro, referindo-se ao agronegócio e à agricultura familiar.

Conflitos lá e cá

Os conflitos de terra foram motivo de bate-boca entre parlamentares. O deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA), autor do pedido de audiência pública sobre conflitos no campo, acusou o Incra de financiar invasões de fazendas no Pará. Segundo ele, após as invasões, os sem-terra saqueiam as fazendas e matam o gado.

A declaração provocou reação do deputado Domingos Dutra (PT-MA), que acusou Queiroz de ter preconceito contra os sem-terra. Disse que o vídeo apresentado por ele é forjado e que é preciso fazer um balanço sério dos conflitos no campo.

Queiroz apresentou fotos de invasões de terras e um vídeo no qual homens encapuzados ameaçavam matar "posseiros", que ele identifica como empregados de fazendas. O deputado afirmou ainda que, no Pará, há terras suficientes para assentar 70 mil famílias, sem necessidade de desapropriação, o que não é feito por incompetência do governo.

Dutra afirmou que é difícil fazer uma discussão isenta na Comissão de Agricultura porque a maioria dos seus integrantes é proprietária de terras, inclusive de latifúndios improdutivos.

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, considerou injusta a denúncia de que o Incra estaria financiando invasões de terra com a distribuição de cestas básicas. "É uma simplificação do que ocorre", disse, esclarecendo que é política do Ministério do Desenvolvimento Social, e não da sua pasta, distribuir cestas para famílias em situações de risco. "O Incra em alguns estados ajuda nesta distribuição", explicou Cassel.

Reunião em Marabá

O ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva Filho, e o presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Rolf Hackbart, que participaram da audiência, afirmaram que vão dar encaminhamento às denúncias apresentadas por Giovanni Queiroz.

O ouvidor disse que haverá uma reunião em Marabá, no próximo dia 22, para resolver a situação de fazendas ocupadas na região. Gersino Filho convidou o deputado a participar da reunião e solicitou cópia do vídeo apresentado na reunião.

O presidente do Incra também se ofereceu para participar de uma reunião no Pará com o Incra do estado para tratar das denúncias que o deputado apresentou.

De Brasília
Com agências