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Favorito à Presidência uruguaia promete continuidade

Ex-líder guerrilheiro e favorito na corrida presidencial uruguaia, José Mujica tem usado o discurso da continuidade. Ele disse que manterá intacta a atual política econômica se chegar ao poder. E afirmou que não pretende recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

José Mujica, senador de 74 anos que foi preso durante a ditadura militar uruguaia (1973-85), é a aposta da coalizão da esquerda no comando do Uruguai. "Nós temos os mercados abertos. Hoje não dependemos do FMI e esperamos não depender por um bom tempo", Mujica disse à Reuters durante uma entrevista na sede de seu partido na noite de segunda-feira (7).

Pesquisas recentes mostram Mujica liderando a disputa com cinco candidatos para a eleição de 25 de outubro, que escolherá o sucessor do popular mandatário Tabaré Vázquez, mas ainda sem votos suficientes para evitar um segundo turno em novembro.

No fim de 2006, o governo de Vázquez, primeiro presidente socialista do país, quitou o total da dívida do país com o FMI, com pagamento de U$ 1,090 milhão. Mujica destacou o alto nível das reservas internacionais do Uruguai, de cerca de U$ 7,760 milhões , e a estabilidade de sua economia, que cresceu em ritmo forte.

Se chegar ao poder, Mujica disse que manterá os planos do ministro da Economia de Vázquez, o moderado Danilo Astori, seu candidato a vice-presidente. "Não gosto de experiências. Eu digo que se algo está funcionando, não mudamos. Temos que mudar o que não caminha", expressou.

"Não vou lidar com a economia assim abertamente. Sou um amador, não sei muito (…) Nós vamos continuar a política atual", apontou.

O cuidado em não se apresentar como um político radical é parte da estratégia para anular uma campanha de medo que a oposição vem fazendo junto ao eleitorado conservador. Reconhecido por sua forma coloquial de falar e de se vestir, Mujica é um candidato bem mais à esquerda que Tabaré Vazquez e seus adversários tentam criar um clima de incertezas devido à sua história e por sua proximidade a líderes mais progressistas, como o presidente venezuelano, Hugo Chávez.

"A centro-direita [Partido Nacional] tem feito a política do medo, explorando a veia um pouco conservadora de um país que quer mudança, mas não muita, algo suave. Por isso, nos apresentam como mensageiros da velha guerrilha, como um perigo aos investidores, mas temos garantido a maior estabilidade possível", diz Mujica.

O exemplo de Lula

Ao ser consultado sobre com qual mandatário da região se identifica, Mujica mencionou o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. O candidato tem dito que vai se inspirar na gestão de Lula,  seguindo a receita de um manejo responsável da economia e a ênfase em políticas sociais e de distribuição de renda. Também na campanha, Mujica tem se inspirado em Lula.

Assim como o brasileiro em 2002 – que divulgou a "Carta ao Povo Brasileiro" -, o uruguaio também tem distribuído documentos em que promete uma gestão econômica sóbria, mantendo a equipe do governo Vázquez.

Senador mais votado na última eleição, Mujica também exerceu o cargo de ministro de Agricultura e Pecuária no atual governo, mas nunca se acostumou a usar terno e gravata. Dono de um discurso permeado de gírias e metáforas, leva uma vida sem luxo em uma chácara perto de Montevidéu, o que provoca empatia e forte apoio da classe mais pobre. Também como fez Lula, contudo, antes de iniciada a campanha, Mujica passou a dedicar mais cuidado com a imagem.

Em entrevista à Folha de S. Paulo, quando questionado sobre as mudanças no visual, ele respondeu: "Algum preço tenho de pagar [para me adequar ao que esperam de um presidente], mas não posso pagar muito, porque aí me dou mal. Cada um é como é. E o hábito não faz um monge. Não?"

O candidato defendeu que é notório o preconceito que sofre pelo seu perfil mais popular. "Não me encaixo no estereótipo de presidente uruguaio, que sempre tem sido um senhor com cara de herói nacional, bem vestido. Eu tenho origem meio camponesa, pouco formal em minhas maneiras, um homem que não usa gravata. Mas para ver Lula coloquei um terno, para dizer às pessoas: se é preciso, vamos colocar, não há problema", disse. 

Mujica disse ainda que, se eleito, espera construir um governo de unidade nacional, fazendo alianças de classe. O candidato defendeu ainda a integração regional, com participação decisiva do Brasil. 

"O Brasil precisa liderar esse fenômeno de integração, mas quem lidera tem a obrigação de ser generoso. A Alemanha aprendeu isso depois de duas guerras. Pode contribuir para uma unidade maior, que é do que precisam os latino-americanos. Talvez o Brasil não precise por causa da economia, mas precisa politicamente", colocou.

 Duas pesquisas divulgadas

Segundo uma pesquisa recente, a esquerda tem entre 44% e 46% de apoio, enquanto o Partido Nacional de centro-direita tem entre 32% e 35%. O também centro-direitista Partido Colorado tem entre 9% e 10%.

Se nenhum partido superar 50% dos votos em outubro, a presidência e a vice-presidência serão definidas no segundo turno, marcado para 29 de novembro.

Com Folha de S. Paulo e Reuters