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Mudança de rumo no Japão impõe desafios

A vitória do Partido Democrata do Japão (PDJ), nas eleições gerais de 30 de agosto, era certa diante do incontrolável descalabro do Partido Liberal Democrático (PLD), no poder quase ininterruptamente por mais de 50 anos. O respaldo ao PDJ, fundado em meados da década passada, significou um castigo do eleitorado ao partido do premiê Taro Aso pelos anos de estancamento e má administração. 

Por Doris Calderón, em Prensa Latina

A até então principal força opositora conquistou 308 cadeiras das 480 que integram a Câmara de Representantes, enquanto o PLD mal conseguiu 119 e seu aliado o Novo Komeito perdeu 10, das 31 que controlava.

Ao assumir pela primeira vez o poder, o Partido Democrata terá como sócios o Partido Social Democrata e o Novo Partido Popular, os quais ganharam sete e três assentos respectivamente.

As eleições não somente mudam o panorama político no arquipélago mas abrem passagem à marcha de novas fórmulas para resolver as velhas preocupações dos japoneses, ainda agravadas pela crise econômica global.

O líder do PDJ, Yukio Hatoyama, reconheceu o valor dos eleitores ao optar por uma mudança de governo na votação, na qual se registrou uma participação histórica superior a 69 por cento.

Hatoyama, de 62 anos de idade, assumirá a chefatura de governo no próximo 16 de setembro, mas adiantou que não anunciará as nomeações para os postos chaves do gabinete até que sejam concluídas as conversas para formar coalizão.

O próximo premiê estará obrigado a aliviar o descontentamento arraigado na população nipônica, restaurar a credibilidade do governo e tratar de deixar para trás o prolongado período de mal-estar social e econômico.

Para restaurar a confiança dos japoneses, a formação política vencedora propõe-se a pôr fim à burocracia instaurada por sua predecessora em todas as esferas do Estado e implementar uma série de reformas.

No plano econômico, o Partido Democrata propõe-se a ajudar às famílias com crianças, reduzir os impostos e eliminar o pagamento de pedágio nas estradas para estimular os rendimentos nos lares e diminuir a dependência das exportações.

Outras reformas primordiais estão encaminhadas a solucionar o problema das pensões, crucial para uma sociedade envelhecida como a japonesa, e conseguir uma melhor redistribuição da riqueza lhe outorgando maior importância às zonas rurais.

Em matéria de política exterior, defende uma relação mais independente dos Estados Unidos, acabando com a missão logística de apoio à campanha militar de Washington e seus aliados no Afeganistão e revisar o status das forças estadunidenses no país asiático.

De acordo com o Partido Democrata, o papel mais ativo do Japão na arena internacional pode atingir-se sob o auspicio das Nações Unidas.

Um elemento muito positivo para a estabilidade do continente constitui-o o fato de que se busque estreitar os laços com os vizinhos asiáticos, sobretudo com China, que conta com uma crescente influência na região.

O meio ambiente é também uma prioridade para o futuro governo que se comprometeu a reduzir para 2020, em 25 por cento as emissões de gases com efeito invernadero com respeito aos níveis de 1990.

Está previsto impulsionar uma série de medidas no arquipélago, quinto emissor de gases com efeito estufa, dirigidas a renovar as moradias, subsidiar painéis solares e introduzir tecnologias limpas na fabricação de automóveis.

As iniciativas do Partido Democrata se implementarão no meio de um contexto difícil, no qual não faltarão tropeços e dissabores pois a segunda economia do mundo enfrenta a pior recessão desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

O Japão mostra como um de seus piores indicadores uma taxa de desemprego de 5,7 %, com tendência ao aumento nos últimos meses, apesar de que se registrou uma leve recuperação (0,9 por cento) no segundo trimestre do ano.

Ditas cifras revelam a insegurança trabalhista experimentada pelos japoneses como resultado da dependência corporativa dos trabalhadores temporários, que agora representam uma terceira parte da força trabalhista. Assim muitas empresas têm realizado cortes produtivos e de planilhas.

Esses problemas, entre outros, foram os que provocaram o aplastante revés do Partido Liberal Democrático que desde sua fundação em 1955 se manteve no poder e só cedeu 11 meses, entre 1993 e 1994.

Se fosse feito um flashback dos últimos anos do Partido Liberal se teria que destacar uma enorme falta de liderança, a impossibilidade de tirar o país da crise econômica, a demissão de vários ministros, denúncias de corrupção e a perda do controle do Senado.

O até então premiê Taro Aso destacou que o resultado eleitoral era muito grave e, nesse sentido, admitiu a incapacidade de seu governo de fazer frente e guiar ao país durante o período de emergência.

Além de Aso, o país do sol nascente teve outros dois premiês muito impopulares – Shinzo Abe e Yasuo Fukuda cada um durou em um ano no poder e não foi eleito nas urnas mas pelos 1,2 milhões de militantes do PLD.

Mudança é a palavra de ordem e é justamente o que ofereceu o Partido Democrata do Japão, bem mais próximo do indivíduo e da sociedade, terá que esperar os resultados, o percurso mal começa.

 

Fonte: Prensa Latina