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Renato Rabelo: “É preciso elevar a consciência dos trabalhadores”

A afirmação foi feita pelo presidente do PCdoB durante debate sobre os projetos de resolução do 12º Congresso. O evento – que teve início ontem (14), em São Paulo, na sede do Comitê Central – é voltado para os quadros que desempenham tarefas nacionais em entidades dos movimentos sociais e procurou aprofundar a troca de ideias sobre os documentos.

Renato Rabelo

Ao fazer tal afirmação, o presidente do PCdoB explicava a busca, pelos comunistas, de aumentar o protagonismo dos trabalhadores na sociedade afim de que esta classe seja capaz de conduzir o povo na luta por uma nova sociedade. Para isso, defendeu o novo Programa Socialista que aponta, além do rumo (o socialismo) o caminho a ser percorrido: a implantação de um novo projeto nacional de desenvolvimento. “O programa é essencialmente o mesmo, defendendo a transição ao socialismo. Mas resolvemos atualiza-lo levando em conta lições que aprendemos ao longo de nossa trajetória”. Para ele, houve “grande avanço na análise do pensamento programático”.

Um dos pontos fundamentais apresentados pelo presidente é o fato de o novo programa situar suas indicações nas condições atuais do Brasil, partindo da reafirmação da via socialista. “No capitalismo, podemos ter apenas vitórias parciais. Daí a necessidade de darmos um terceiro salto civilizacional”. Este novo salto, defendido pelo PCdoB, é a chegada ao socialismo pela via da defesa de um projeto nacional. O primeiro e o segundo saltos verificados pelos comunistas ao longo da história brasileira são a formação da nação brasileira e a constituição do Estado moderno a partir dos anos 1930. “Ou seja, nosso programa não parte do abstrato”, colocou.

No atual programa do partido, diz Rabelo, “falamos muito do rumo – que por ser ainda desconhecido gerava especulação – e pouco do caminho”. Agora, no entanto, o foco está na trajetória a ser percorrida para a construção de uma nova sociedade. “O caminho é o curso e o nível da batalha política atual, é a discussão sobre qual o projeto de desenvolvimento nacional precisamos, uma vez que aquele implantado na era Vargas se esgotou no final dos anos 1970”. Depois disso, lembrou, “ficamos uns 20 anos em crise, sem projeto, com o país semi-estagnado. As políticas neoliberais fortalecidas a partir dos anos 1990 aprofundaram esse impasse”.

Portanto, para dar conta desse desafio, o partido procura partir da realidade atual, marcada pela necessidade de se continuar, a partir das eleições de 2010, o ciclo aberto em 2002 com a chegada de Lula à Presidência da República. “É preciso que a maioria do povo eleve sua consciência e entenda que é preciso outra sociedade. Isso depende de uma nova correlação de forças”. Segundo ele, hoje boa parte das forças que compõem o governo Lula “não têm essa consciência”.

Para construir um novo projeto, Renato Rabelo, com base nas deliberações do partido, colocou como fundamental lidar com quaro questões: política econômica, financiamento, nação e Estado. “Precisamos enfrentar o capital parasitário, que vive da especulação em detrimento da produção criando um cassino artificial desvinculado da realidade. E deu no que deu. Enquanto predominar a lógica rentista, teremos sérios obstáculos para um novo projeto nacional de desenvolvimento”.

Outro problema levantado pelo dirigente é a contradição existente no campo brasileiro: por um lado, latifúndios improdutivos e, por outro, um agronegócio altamente moderno. “Entra década, sai década e continuamos sem reforma agrária. É preciso ampliar o acesso à terra, mas também garantir crédito e infra-estrutura para o agricultor”.

No que diz respeito à nação, Renato Rabelo lembrou Nelson Rodrigues: “os brasileiros devem abandonar essa mentalidade de vira-lata, de que somos inferiores a outros povos. Não somos. Precisamos ter consciência de nação, defender o nosso país”. Ele defendeu a compra de equipamentos para a proteção do território. “Para defender o pré-sal, a Amazônia, o nosso país, é preciso armamentos, submarinos; afinal, temos um extenso território. A nossa luta se dá dentro da defesa nacional, atentando para o fato de que vivemos num Estado com fortes raízes antidemocráticas e ainda muito conservador”.

No que tange à política econômica, Renato Rabelo voltou a defender uma ampliação nos investimentos. “Precisamos de uma taxa de investimento de cerca de 30% para alcançarmos um crescimento de 5%. Chegamos a, no máximo, 19% porque houve aumento durante o governo Lula”. De acordo com o dirigente, “é preciso um pólo público bancário que esteja no mesmo nível do privado e maior controle sobre a rede privada; para isso precisamos de uma reforma do sistema financeiro que mude a lógica rentista”.

Por fim, Renato Rabelo alertou os militantes: “as mudanças não são feitas necessariamente por partidos comunistas, vide os exemplos da Venezuela, Bolívia e Equador. Mas, há uma lógica marxista. Neste sentido, se conseguirmos fazer o sucessor de Lula, avançaremos nesse sentido, ampliando nossas fileiras e contribuindo para essa tomada de consciência. Se não construirmos um governo fruto dos desejos da maioria, não vamos chegar a lugar nenhum”.

De São Paulo,
Priscila Lobregatte