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Capitalismo não oferece saídas virtuosas, diz José Reinaldo

“No 11º Congresso, já apontávamos a tendência à crise, à estagnação e denunciávamos a fragilidade das bases da fase expansiva do capitalismo, que confundiu alguns”, declarou José Reinaldo Carvalho, secretário de Relações Internacionais, em evento de apresentação das teses do 12º Congresso nesta semana, em São Paulo. “O tempo mostrou qual análise estava certa. Temos tranqüilidade para afirmar que a atual não é uma crise apenas financeira, mas econômica, sistêmica, própria do capitalismo”.

José Reinaldo Carvalho -set2009 - Priscila Lobregatte

Diante de lideranças comunistas atuantes nos movimentos sociais, o dirigente explicou que “toda crise do capitalismo é cíclica, mas a particularidade desta que estamos atravessando está no fato de ser mesclada com uma crise estrutural de longa duração”.

Embora os Estados Unidos sigam sendo o país mais rico do mundo, “sua hegemonia econômica está declinando; isso se dá, além de fatores estruturais, pela emergência de novos atores no cenário internacional”, como China, Índia, Rússia e mesmo Brasil. “Este também foi um fator interessante que tivemos, pois havia companheiros para os quais a chamada “era Clinton” restabeleceu, em patamares mais elevados, a pujança do capitalismo dos Estados Unidos. Magnificaram os fluxos financeiros e ignoraram o estoque da dívida americana, que fragiliza enormemente o padrão dólar”, argumentou.

Para José Reinaldo, a crise atual revelou com nitidez que “o capitalismo é um sistema historicamente superado por sua incapacidade de oferecer saídas virtuosas para seus problemas. Ou seja, em que pese a capacidade que a economia capitalista tem de se regenerar, não propõe alternativas que promovam o desenvolvimento econômico com bem-estar social e soberania”. Além disso, enfatizou que o sistema “impõe sérios sacrifícios intoleráveis aos trabalhadores e aos povos e gera lancinantes contradições sociais”.

O Consenso de Washington, ou a receita neoliberal, – implantada com mais força a partir dos anos 1990 quando as experiências socialistas foram derrotadas, marcando a emergência dos EUA como única potência – foi aplicado em praticamente todo o mundo, resultando num entrelaçamento entre as economias e, consequentemente, na contaminação de todas quando da ocorrência de crises como a atual. De acordo com José Reinaldo, também esta face do capitalismo mostrou seu fracasso. Em 2005, quando os comunistas realizavam seu 11º Congresso e criticavam o neoliberalismo, “ainda havia um contexto de grande fascinação pela economia norte-americana, que então apresentava resultados positivos. Aqueles que apostavam no sistema tachavam nossas teses de catastrofistas”, lembrou.

O maior problema da crise atual é que seus efeitos recaem especialmente sobre os ombros dos trabalhadores e dos países dependentes. “O preço cobrado é alto em termos de flexibilização dos direitos dos trabalhadores, diminuição dos postos de emprego e, principalmente, na geração de crises sociais. A tendência da grande burguesia monopolista e financeira é jogar a crise sobre os mais fracos”, apontou. No caso do Brasil, fez uma ressalva: “apesar dos efeitos negativos, o fato de nossa economia estar mais diversificada e menos dependente da norte-americana fez com que conseguíssemos passar pela crise em melhores condições do que outros países”.

Ofensiva imperialista

Do ponto de vista geopolítico, segundo José Reinaldo Carvalho, “a crise ocorre num momento em que o mundo vive ainda um período de grande ofensiva estadunidense e dos demais países imperialistas sobre os povos e nações oprimidas. Trata-se de uma ofensiva antidemocrática, antipopular e antinacional que ameaça a paz e a segurança no mundo, o que exige uma contra-ofensiva a partir, principalmente, da resistência às imposições dos Estados Unidos e da Europa.

O dirigente salientou, no entanto, que essas investidas “não devem ser analisadas apenas conjunturalmente; aliás, o PCdoB parte sempre da análise conjuntural ligada ao quadro histórico”. E alertou: “tudo isso começou de maneira brutal a partir da queda do muro de Berlim, prestes a completar 20 anos.

Resgatando a história recente, o dirigente lembrou que foi a partir do governo de George Bush pai que o cenário belicista se tornou mais acirrado, passando pelo “democrata” Bill Clinton e chagando a Bush filho, quando “se intensificou o ataque aos direitos dos povos e à soberania das nações com a proclamação da ‘guerra infinita contra o terrorismo’”. Naquele momento, recordou, “os EUA rasgaram de vez o direito internacional”.

Mesmo com a chegada de Barack Obama ao poder, o posicionamento dos EUA ainda não está claro. “Vivemos um ponto de inflexão nessa política, mas que não ficou definido ainda o caminho porque a retórica tem se diferenciado da prática. O principal foco de conflito permanece sendo o Oriente Médio, mas há muito interesse de sua gestão na América Latina”. Exemplo recente é a reativação da Quarta Frota e a instalação de sete bases militares na Colômbia.

Reação latina

O que tem mudado no contexto latino-americano é a posição soberana a partir de governos populares que pipocaram no continente depois da vitória de Hugo Chávez em 1998, transformando a América Latina num “pólo mais dinâmico da luta revolucionária e antiimperialista”, colocou o dirigente. Para ele, “este é o maior sinal das dificuldades e das crises do imperialismo porque em outras épocas, quando se sentia forte, aplicava golpes na região”.

Neste sentido, o PCdoB tem defendido os processos de integração – não apenas econômica, mas também política e cultural – que têm ocorrido entre os países latino-americanos. “São processos progressistas que podem ser importantes. Não devemos alimentar a cizânia entre os países governados por forças progressistas, porque as diferenças existentes são, na verdade, referentes às trajetórias de cada país e às correlações internas de forças. Lula e Chávez estão no mesmo campo, ainda que em níveis diferenciados”.

José Reinaldo Carvalho salientou ainda que “vivemos um momento peculiar, marcado pelo surgimento de várias vertentes de contestação ao domínio do imperialismo. Os Estados Unidos não conseguem impor seu imperialismo sem resistência. Os fatores de multipolaridade que surgem não significam a democratização espontânea das relações internacionais, mas fatores que podem gerar novas tensões e conflitos.”. Para ele, “a alteração de fundo pela qual lutamos passa pela generalização da resistência e da luta antiimperialista dos povos”.

Revolução social e socialismo

O secretário de Relações Internacionais apontou, por fim, as soluções que o documento congressual propõe: “A saída de fundo está na luta política dos povos, na revolução social e no socialismo. Não há saídas progressivas nos marcos do capitalismo. Somente o socialismo abrirá uma nova época de progresso para a humanidade”.

Para isso, disse, “é necessário apontar caminhos concretos, acumular forças, elaborar programas e plataformas de transição e abordagem da luta pelo socialismo, programas e plataformas que calem fundo na consciência e nos corações dos povos, que os mobilizem em torno dos grandes eixos que conformam a luta política pelo socialismo na atualidade: a independência e soberania nacionais, a democracia, o progresso social, o desenvolvimento e a paz”.

Segundo José Reinaldo “o socialismo não é uma utopia, mas um objetivo que pode ser atingido”. Ele destacou que “o PCdoB recolheu as experiências históricas e chegou à conclusão de que o socialismo, baseado na teoria marxista-leninista, sempre renovada e enriquecida pela vida, será obra da luta de cada povo, seguindo caminhos próprios, sendo anticientífico supor a existência de um modelo único de socialismo”.

Declarou ainda que “não haverá passagem abrupta do capitalismo ao socialismo e que o socialismo não será obra apenas de uma geração”. E, sobretudo, assinalou o dirigente, “o socialismo será fruto do agravamento das contradições políticas e sociais, não será uma evolução natural e pacífica da sociedade, mas resultado de uma árdua luta de classes entre os trabalhadores e seus aliados, por um lado, e das classes dominantes e o imperialismo, por outro”.

O secretário de Relações Internacionais do PCdoB destacou ainda que a luta pelo socialismo requer “o protagonismo e a hegemonia da classe trabalhadora, luta de massas, unidade do povo, formação de maioria política, alianças sólidas entre as forças progressistas e revolucionárias e o fortalecimento do partido comunista, de sua identidade como partido de trabalhadores e de todo o povo, da revolução social e política e do socialismo; um partido numeroso, forte, de massas, de militância consciente e quadros imbuídos do ideal comunista, da ética e da paixão revolucionárias. Um partido que tenha capacidade de se autocriticar e se renovar sem jamais perder o rumo e a essência revolucionária”.

De São Paulo,
Priscila Lobregatte