Sem categoria

IBGE mostra recuo gradual e lento da desigualdade brasileira

O Brasil conseguiu em 2008 a proeza de desbancar El Salvador, em matéria de distribuição de renda. O índice de Gini, que mede a concentração dos rendimentos, recuou de 0,528 em 2007 para 0,521, segundo mostrou a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad) do IBGE, divulgada nesta sexta-feira. Também há diferenças profundas dentro do país, como mostra o mapa da concentração de renda por estado.


A pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística mostra que não existe uma relação direta entre estado rico e estado com melhor, ou pior distribuição de renda. O estado com menor desigualdade na renda entre os trabalhadores é o pobre Amapá (!), com índice 0,442. Mas o segundo colocado é rico, Santa Catarina, com índice 0,475.

O índice do Amapá é igual ao do Uruguai, o país latino-americano com distribuição de renda menos desigual. O número de Santa Catarina equivale ao de Moçambique.

Um índice inventado para medir desigualdades

O índice Gini (inventado pelo estatístico italiano Corrado Gini) é muito usado para medir a concentração de renda, mas serve para medir qualquer desigualdade. Ele varia de 1,000 (desigualdade absoluta: no caso da renda, por exemplo, uma pessoa tem tudo e os outros nada) até 0,000 (igualdade absoluta: todos têm uma mesma renda).

Também no extremo oposto, as maiores desigualdades não se devem ao tamanho da renda. A maior concentração de renda está no Distrito Federal, que tem a maior renda per capita do Brasil, mas exibe um indecente Gini de 0,618 (semelhante ao da República Centro-Africana ou de Serra Leoa, dois miseráveis países da África Subsaariana). Mais a segunda fenda mais concentrada é do pobre Piauí, com Gini de 0,579, entre o Paraguai e a África do Sul.

A tabela ao lado mostra a lenta melhoria do índice Gini brasileiro de distribuição de renda, em comparação com outros países. Aos poucos, penosamente, o país vai galgando algumas posições na melhoria da distribuição.

Avanço com FHC, 0,017; com Lula, 0,045

Em 1989, ano de hiperinflação, a desigualdade chegou no seu pico. O índice Gini da renda no brasil atingiu pornográficos 0,638 (nos dados atuais da ONU, apenas a Namíbia apresenta uma concentração maior).

Em 1995, primeiro ano do governo Fernando Henrique, o índice foi de 0,583. Em 2002, último ano de FHC, estava em 0,566 – um recuo de 0,017, principalmente devido à queda da inflação. Nos anos de Lula (até 2008), diminuiu 0,45, em especial devido a fatores como o Bolsa Família e a elevação do salário mínimo real.

Porém os números mostram que a posição do Brasil no ranking da distribuição de renda continua precária, sobretudo porque ela parte de um nível obsceno de concentração. Influem aí dois fatores: os pobres brasileiros são muito pobres; mas também os ricos brasileiros são muito ricos (o fenômeno que em 1974 o economista Edmar Bacha apelidou de 'Belíndia', um país que incluía uma Bélgica, rica, mas também uma Índia, miserável).

Pelo diapasão dos seis primeiros anos de Lula, seria necessário eleger mais dois presidentes que mantivessem o mesmo ritmo, apenas para chegar a um índice Gini da grandeza do uruguaio ou do mexicano. Para alcançar os países mais igualitários em sua renda, como os da Escandinávia (na casa dos 0,200) ou mesmo os da Europa Ocidental (da ordem dos 0,300), só com medidas de fundo que rompessem com o tímido gradualismo atual.

Nota 1: os dados de concentração de renda são apenas uma fração do verdadeiro retrato do Brasil que se encontra na Pnad. Clique aqui para ver outros números em
Pnad, do IBGE, faz radiografia dos brasileiros
. E clique aqui para abrir o pdf com as 217 páginas da publicação do IBGE.

Nota 2: a Wikipédia mostra uma interessante lista e um mapa dos índices Gini dos países do mundo, segundo a ONU, e outros dados de renda; clique aqui para ver, em português.