Impulsionada pela recessão, a desigualdade de renda no Brasil teve, em 2019, o quinto ano consecutivo de alta, conforme estudo publicado pela FGV
O Brasil está entre os países com maiores desigualdades do mundo, por tributar proporcionalmente mais os pobres e menos os ricos. Os dados comprovam que a elite brasileira paga menos impostos que a classe média e a população de baixa renda
O rendimento médio mensal de trabalho da população 1% mais rica foi quase 34 vezes maior que da metade mais pobre em 2018. A parcela de maior renda arrecadou R$ 27.744 por mês, em média, enquanto os 50% menos favorecidos ganharam R$ 820. Desde o golpe de 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff, a desigualdade avança. Na comparação com 2017, houve um aumento de 8,4% na renda das pessoas mais ricas – e, para piorar, uma queda nos ganhos das classes que formam os 30% mais pobres.
Um estudo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) na sexta-feira (4) compilou dados que permitem constatar a crescente desigualdade social no Brasil por diversos ângulos. Para se alimentar, por exemplo, os brasileiros pertencentes à camada de renda mais pobre comprometem, proporcionalmente, três vezes mais do total do seu orçamento mensal do que a população mais rica, formada por famílias de renda superior a R$ 23,8 mil.
Apesar de as mulheres apresentarem melhor desempenho na educação e terem maior expectativa de vida no Brasil, a renda delas é 42,7% menor que a dos homens (10,073 para mulheres contra 17,566 para homens), segundo dados divulgados nesta quinta-feira (13) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). A média de renda per capita do país é de 13,755
O discurso do governo Temer sobre uma suposta “retomada da economia” não se sustenta mais. A renda dos trabalhadores, o nível de emprego e o crédito estão rastejando, muito abaixo do esperado pelos economistas neoliberais e o mercado. Pior ainda: nos primeiros meses de 2018 a renda real parou de crescer e os trabalhadores começaram a registrar queda do poder de compra.
Apesar de o governo Michel Temer comemorar o que chama de fim da recessão, 900 mil brasileiros deixaram de integrar as classes A e B no ano passado, quando considerado o critério de renda. É o que aponta um levantamento do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco. Boa parte dos que foram rebaixados passou a integrar a classe C. O movimento é inverso ao que aconteceu nos governos do PT, quando 32 milhões ascenderam das classes D e E à C.
Dados do IBGE divulgados nesta quarta-feira (11) mostram que, em 2017, um ano após o golpe parlamentar que tirou do poder a presidenta eleita Dilma Rousseff, a desigualdade aumentou e os rendimentos caíram. Sob a gestão Michel Temer, a renda média mensal dos trabalhadores mais pobres – grupo que contém 4,5 milhões de pessoas, ou 5% da população trabalhadora – recuou de R$ 76, em 2016, para R$ 47 no ano passado.
A renda pessoal de pelo menos um em cada três paulistanos diminuiu ao longo de 2017. A queda no rendimento é sentida, principalmente, entre os mais pobres (renda familiar até dois salários mínimos) e a classe média (até cinco salários). Quase a metade (47%) afirmou que seus ganhos mantiveram-se estáveis. Apenas os mais ricos, em faixa de renda superior a R$ 4.685 por mês, perceberam aumento nos seus rendimentos.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgada hoje (29) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que, em 2016, o rendimento médio mensal real dos 88,9 milhões de trabalhadores do país, com 14 anos ou mais de idade, resultou em uma massa mensal de rendimento (total pago à população ocupada) de aproximadamente R$ 191 bilhões e um rendimento médio de R$ 2.149.
O retorno das políticas neoliberais impõe a transição das tradicionais classes médias assalariadas e de trabalhadores industriais para o novo e extensivo precariado e o avanço da classe média proprietária dos pequenos negócios. Em síntese, o rebaixamento da condição salarial.
Por Márcio Pochmann*
A Oxfam estima que negros e brancos só terão uma renda equivalente no país em 2089, daqui a pelo menos 72 anos. “A gente fez um cálculo da média da equiparação salarial entre negros e brancos de 1995 a 2015 e projetou o resultado para saber em quanto tempo, seguindo o ritmo desses 20 anos, se chegaria à igualdade de salários”, explica Rafael Georges, cientista político e coordenador de campanhas da Oxfam Brasil, ao Uol.