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Ahmadinejad propõe comprar urânio enriquecido dos EUA

Em entrevista concedida à revista americana Newsweek, a matriz mais séria de "veja", sua congênere publicada no Brasil, o presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad afirma que deseja cooperar com os Estados Unidos no âmbito de energia nuclear, destrói o mito criado pela mídia de que teria dito que o Holocausto judeu na segunda guerra não teria existido e fala sobre o que acha de seu colega americano, Barack Obama.

A entrevista, realizada em Nova York por ocasião da Assembleia Geral da ONU, que verá Ahmadinejad discursar na próxima quinta-feira (24), foi realizada por uma hora e meia por Lally Weymouth e editores da revista americana.

O site da Newseek publicou um resumo do que deverá colocar nas bancas no próximo fim de semana, destacando a tentativa de Ahamdinejad em "persuadir" os Estados Unidos em relação ao programa nuclear iraniano. A revista também questionou Ahmadinejad sobre a sua suposta negação do Holocausto judeu.

Leia abaixo trechos do que foi publicado nesta quarta-feira no site da Newsweek.


Enquanto o Irã tenta reiniciar relações com o Ocidente, porque o senhor volta a negar que existiu o Holocausto?

Você acha que o Holocausto é uma questão importante?

Sim, acho que é o maior crime do século 20.

Então você deve concordar que é um assunto importante. Você acredita que o Holocausto ainda tem o mesmo peso nos dias de hoje? Poderia me explicar como isso afeta as questões atuais?

Não importa o que eu penso. O que importa é o que o senhor pensa, presidente.

Eu compreendo, mas eu gostaria de conhecer seus pontos de vista, para resolver essa questão aqui.

O mundo quer saber o que o senhor pensa.

Quem é o mundo aqui?

O Irã está tentando melhorar suas relações com o Ocidente, como posso compreender. É claro que existiu um Holocausto. Porque o senhor diz que não existiu um Holocausto? O senhor acha que não deveria existir um Estado judeu, como Israel?

O que eu disse foi extremamente claro. Isso é uma abordagem acadêmida de um assunto crucial e também baseado em considerações humanitárias. O que eu disse é que na História aconteceram muitos eventos e que na Segunda Guerra aconteceram muitos crimes de guerra. Mais de 60 milhões de pessoas foram mortas e ainda mais pessoas foram obrigadas a deixar o lugar onde viviam. Então temos questões bem específicas sobre os eventos das duas grandes guerras, e eu não acho que vamos conseguir achar respostas a partir da propaganda que a mídia tem feito sobre isso. As questões pedem respostas convincentes. A primeira questão que faço e que quero compreender é, porque no meio de tudo o que aconteceu na Segunda Guerra Mundial, o Holocausto é mais considerado que qualquer outro evento?

A segunda questão é, por que os políticos ocidentais insistem em focar essa questão?

A terceira pergunta é como esse evento se conecta com as questões atuais que vemos ao redor do mundo hoje em dia? Isso foi uma questão histórica que aconteceu isoladamente sem provocar impacto nas atuais condições?

A próxima questão que deveriamos fazer a nós mesmos é que, se o evento ocorreu, onde ocorreu, quem foram seus agentes e qual é o papel desse evento sobre o povo palestino. Qual foi o crime que os palestinos cometeram para merecer o destino que os aflige como resultado? Por que, exatamente, os palestinos deveriam ser vitimizados? Você tem noção de que cerca de 5 milhões de palestinos foram expulsos de seu país e vivem hoje na condição de refugiados? Que papel tiveram eles no Holocausto? Por que o Holocausto é usado como pretexto para ocupar a terra de outro povo? Por que os palestinos devem perder suas vidas em nome disso? Você, certamente, sabe que existem um bloqueio generalizado contra o povo de Gaza

E eles estão atingindo Israel com mísseis.

No fim do dia, o povo de Gaza está dentro de suas casas, vivendo suas vidas e permanecendo no que é sua pátria. Quem é o ocupante ali? As resoluções das Nações Unidas condenam qual regime pela ocupação? Por que pessoas bem intencionadas podem aceitar que os resultados de um evento que ocorreu na Europa seja responsável pela ocupação de terras em outras partes do mundo? Se um crime aconteceu na Europa, por que o povo palestino deve pagar por ele? É realmente uma questão óbvia. Infelizmente os políticos ocidentais recusam-se a responder essas questões e desviam para outras áreas.

Somos radicalmente contra a morte de seres humanos. Sessenta milhões de pessoas foram assassinadas na Segunda Guerra Mundial e isso é absolutamente condenável. Não importa qual credo professavam, de qual etnia eram. Seres humanos e suas vidas devem ser respeitados simplesmente porque são seres humanos. Quero deixar claro que não estamos vivemos 60 anos atrás, estamos vivendo o hoje. Nós vemos o Holocausto como um pretexto para se cometer um genocídio contra o povo palestino.

Nas conversações mantidas com o Ocidente o senhor disse que não vai discutir o programa nuclear iraniano. Ainda mantém essa opinião ou admite ceder em troca de concessões do Ocidente? Porque, de outra maneira não haverá concessões do Ocidente, caso o senhor insistir na política de só obter concessões.

Acredito que, se nós violarmos as leis e regulamentos internacionais nós não teremos benefício algum. Todo mundo precisa seguir as leis internacionais. A questão nuclear pertence à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Ela tem um modo óbvio de tratar a questão. Nós temos compromissos, direitos e obrigações nesse quadro. Nós vamos obedecer a nossas obrigações e também vamos utilizar nossos direitos.

Mas vocês não seguiram suas obrigações. A ONU impôs sanções contra o Ira e retirou seus direitos em relação à AIEA. Vocês vão suspender o programa de enriquecimento? Vão cooperar com o protocolo adicional da AIEA, que assinaram inicialmente (O Irã retirou a assinatura posteriormente)

Baseados nos relatórios oficiais e rotineiros da AIEA, o Irã conduziu suas atividades nucleares dentro do quadro legal designado pela agência. Nos também, de forma voluntária, aceitamos as novas obrigações sobre e além do quadro legal. Mas nós não utilizamos integralmente nossos direitos. Os artigos Dois e Quatro do estatuto da AIEA dizem que aqueles que possuam tecnologia nuclear devem dar assistência às outras nações no desenvolvimento de seus programas pacíficos de tecnologia nuclear.

Entretanto, nem a Agência nem seus estados membros deram ao Irã quaisquer auxílio nesse sentido, embora tenhamos desempenhado nossas obrigações.

Senhor presidente, quero mudar de assunto e discutir a "questão" Barack Obama. Foi dito que ele escreveu duas cartas ao Supremo Líder do Irã nos últimos meses. Eu gostaria que nos contasse sobre o conteúdo dessas cartas e também o que pensa do presidente Obama. Como o compara em relação ao presidente Bush? Ele é um líder fraco, forte? É alguém com quem o senhor faria um negócio?

Você está me pedindo para lhe dar informações sobre cartas que você já conhece?

Eu li a respeito delas na imprensa iraniana.

Eu não leio a imprensa, portanto não conheço o conteúdo delas.

Então vamos falar de Obama.

Nós acreditamos que o desejo aqui nos Estados Unido por mudanças é algo que já está na pauta há algum tempo. Na verdade é um desejo do mundo inteiro. Sob o atual status quo, nada é viável no mundo hoje. Seguidas administrações americans tiveram um papel substancial na formação de várias questões mundiais de hoje. Nós achamos que a mudança é inevitável e necessária. É natural esperar que a administração americana mude por si só. Ao mesmo tempo, essas mudanças devem ser reais. Mudanças superficiais não seria suficientes para resolver nenhum dos problemas que enfrentamos — ela apenas complicariam esses problemas e atrasariam uma solução duradoura.

Esperamos que Obama esteja procurando, de fato, mudar as coisas. Desejamos ajudá-lo a realizar alguma mudança. Na reunião que mantivemos em Genebra, nos prontificamos a discutir algumas questões, inclusive nos prontificamos a comprar urânio enriquecido dos Estados Unidos para nossas necessidades.

Em troca, o Irã ofereceria soluções para as mudanças que Obama considera necessárias. Se as políticas de Bush forem mantidas, mas com uma nova roupagem, ele não conseguirá progressos, por que essa política está obsoleta. As políticas mudam. Se essas políticas não mudam, então nenhuma mudança real acontecerá.

Pode explicar melhor o que disse? Disse que em Genebra você concordou em comprar combustível nuclear enriquecido? É isso mesmo? Dos Estados Unidos?

Nós temos um reator em Teerã que produz medicamentos à base de tecnologias radioativas. Ele pode enriquecer urânio até o grau de 19,75%. Nós estamos preparados para comprar esse material. Nós estamos preparados para discutir a cooperação nesse nível [de medicina nuclear] com quem queira discutir nossas necessidades de compra de combustível. Eu acho que é uma proposta sólida que pode ser uma boa oportunidade para se iniciar uma conversação.

Como sabemos, vocês no Irã estão enriqueceno urânio. Isso é correto. A AIEA diz que vocês tem urânio enriquecido suficiente para construir um aparelho básico. Pelo que você disse, está sugerindo que vocês concordariam em suspender o enriquecimento de urânio?

O nosso nível de enriquecimento de urânio é atualmente de 3,5%, com uma probabilidade de chegar a 5%. Esse material será usado em usinas nucleares. Eles são inúteis para fazer bombas. Uma bomba exige um grau de 99% de urânio enriquecido. Achamos que bombas nucleares não são coisas boas de se ter. Você sabe quantas bombas nucleares os Estados Unidos tem?

Não, não sei. O Irã se comprometeria a jamais construir bombas nucleares?

Consideramos que as premissas que levam as nações a ter ou não armas nucleares estão erradas do início. Assim, nos propomos a participar de negociações sobre o desarmamento. De acordo com relatórios que recebemos, há mais de 10 mil ogivas nucleares nos Estados Unidos. Não acha engraçado dizer que é potencialmente perigoso para o mundo se o Irã tiver uma ogiva nuclear, embora nada se diga sobre os EUA possuirem milhares de vezes mais ogivas?

Honestamente, se as ogivas nucleares fossem úteis, a União Soviética jamais teria colapsado. Da forma como aconteceu, poderia ter usado suas ogivas. Essas ogivas poderiam ajudar a Otan a vencer a guerra no Afeganistão. Elas poderiam ajudar o regime sionista a vencer em Gaza e no Líbano.

A bomba atômica é o artefato mais anti-humanitário jamais produzido na história da humanidade. COm respeito à questão nuclear, nós temos duas propostas concretas para apresentar na mesa de negociações.

A primeira é o desarmamento e a prevenção da proliferação de armas nucleares. A segunda é pavimentar o caminho para o acesso coletivo às tecnologias nucleares pacíficas, pela cooperação entre todas as partes. Também pensamos no meio ambiente, sendo que devemos procurar por energias limpas, seguras, garantidas. Nossa posição é muto clara. Trabalhamos dentro dos padrões dados pela AIEA e cumprimos com nossas obrigações.