Opinião: Por que Protógenes escolheu o PCdoB

Opinião de Luiz Carlos Orro,  membro do Comitê Central e presidente estadual do PCdoB de Goiás sobre a recente filiação do delegado da Polícia Federal, Protógenes no PCdoB. (Publicada no Diário da Manhã – 23/09/2009 – www.dm.com.br)

Opinião: Por que Protógenes escolheu o PCdoB

Tão logo o delegado Protógenes Queiroz anunciou sua filiação ao PCdoB, neste início de setembro, as bocas de matilde começam a funcionar. Aqui mesmo, nas páginas democráticas do Diário da Manhã, encontramos investidas maledicentes. Por obra daqueles miseráveis raciocínios maniqueístas, foi só se filiar ao Partido Comunista e o homem que era tão bom há poucos dias agora já recebe a pecha de mau, que fugiu da luta, etc, etc. Quanta bobagem. Essa crítica ao delegado é coisa de gente que se pretende ser a senhora da razão, se arvora em juíza suprema da ética e da moral, em agente de mesquinho patrulhamento.As razões da filiação do Delegado da Polícia Federal Protógenes ao Partido Comunista do Brasil são consistentes e coerentes, se ancoram nas concepções de transformações estratégicas do nosso País, no papel histórico que os comunistas tem jogado na história republicana.

Em entrevista recente, vamos encontrar as razões fundamentais da decisão, pela boca do próprio protagonista. “Esse partido consegue se superar, retirar todas as pedras e os espinhos do caminho e se colocar no cenário nacional aliado a uma proposta de um Brasil diferente. O PCdoB é a sigla vitoriosa, dentre todas as existentes”, explica Protógenes no sítio www.vermelho.org.br. Como é sabido, várias siglas partidárias ofereceram convites para que Protógenes se filiasse, de olho na elevada popularidade da causa que o delegado encarna. Ele cita o PSDB, DEM, PDT, PSB, PSOL e PCdoB. E ele diz por que o mais difícil foi escolher o partido, afirmando que salvo raríssimas exceções, não temos partidos políticos no Brasil comprometidos com interesses nacionais. Temos partidos que atendem a interesses de grupos ou de pessoas. De tempos em tempos – principalmente em período eleitoral – essas legendas buscam o voto para legitimar o processo eleitoral, sem nenhum compromisso com a população. “E afirmo que ficaria mais fácil para a população entender a política a partir do momento em que todos os escândalos ocorridos na República fossem resolvidos não à sombra, mas sim à luz do dia, de maneira que todos nós, cidadãos e eleitores, tivéssemos acesso às informações com a transparência a que temos direito. Qual senador foi à população explicar o que ocorria no Congresso? Ficam no parlamento se digladiando, flagelando a política brasileira. Eles mesmos se desqualificam e acabam desrespeitando o nosso voto, o que é mais grave”, desanca o intrépido delegado.

Protógenes avalia que após a ditadura militar, a política revelou um grupo que optou por uma política neoliberal e a adotou o Estado mínimo como meta, caracterizado pelas privatizações. Esse grupo achava que assim conseguiria atender às necessidades básicas da população com o dinheiro apurado nas privatizações e combater a miséria, aumentar acesso à educação, à segurança etc. Porém, esse modelo faliu porque o dinheiro sumiu sem nenhuma explicação, nem punição. Prossegue analisando que o outro bloco, de esquerda – que se formou com PT, PCdoB, PDT, PCB, PSB e mesmo PPS – tinha o objetivo de resistir a esse modelo neoliberal que não estava dando certo. E que se formou então um campo de resistência em torno dos trabalhadores, buscando no processo de reconstrução do país um modelo mais focado no social, nas populações mais carentes. Desse enfrentamento pelo voto, veio a vitória com a eleição de Lula. E esta foi uma vitória histórica da classe produtiva. Um operário de pouco estudo deu certo porque tinha a visão de que o Estado precisava ser mais rápido em suas ações.

Protógenes tira de letra a aparente contradição entre ser um militante do governo Lula e um embandeirado da “luta anticorrupção”, asseverando que: “ Para mim, não foi difícil. Tive a percepção de que havia um projeto em movimento que precisa avançar e que não seria construído em quatro ou oito anos. Mas a minha percepção é de que nesses dois mandatos avançamos muito e conseguimos reverter aquele processo anterior em que o Estado não tinha nenhuma presença no campo social. Lula teve essa percepção e a coragem de, como primeiro projeto, implantar um programa de combate à fome, além do Bolsa Família, que consistem em levar uma fatia do bolo do Estado para a população mais carente, atendendo às suas necessidades mais primárias. Portanto, fatos ocorridos em suas administração não desqualificam o projeto de país que ele iniciou e o credencia como o presidente mais importante da história da República brasileira após Getúlio Vargas. Essa marca ninguém tira dele.”

Como se vê, por uma outra leitura, vamos dar razão ao doutor Protógenes, que mostra que tem faro fino também na política. Para quem o critica, talvez guiada por acontecimentos meramente conjunturais, esposando visão tacanha e míope dos processos políticos, sociais e econômicos, decerto que o alcance das razões do camarada Protógenes resta inatingível.

* Luiz Carlos Orro é membro do Comitê Central, presidente estadual do PCdoB em Goiás e secretário municipal de Esporte e Lazer de Goiânia.