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Avante!: O imperialismo japonês move-se

O Japão teve eleições. O Partido Liberal Democrático (PLD), o partido histórico do grande capital nipônico, no governo quase ininterruptamente há 54 anos, foi derrotado e o Partido Democrático Japonês (PDJ) nascido nos flancos do PLD alcançou uma espectacular maioria absoluta. Os comentaristas de serviço apressaram-se a falar de “fim da era liberal” e mesmo do nascimento de “um novo Japão”.

Por Albano Nunes, para o jornal Avante!

É a variante japonesa da operação Obama nos EUA. Uma classe dirigente desacreditada e corrupta manobra para defender o seu férreo domínio sobre a sociedade.

O Japão está atolado numa crise econômica e social endêmica de grandes proporções. A segunda economia mundial, que durante décadas foi considerada “locomotiva” do desenvolvimento capitalista, vive em estado de recessão/estagnação há quase vinte anos e perde posições no mercado global.

E o Japão onde vigorava o chamado “emprego para toda a vida” (é certo que com base num peculiar e tenebroso mecanismo de exploração) é hoje um país com 5,7% de desempregados (o maior índice desde o fim da Segunda Guerra Mundial), em que um terço dos assalariados são precários e onde existem mais de 10 milhões de trabalhadores pobres.

A vitória do PDJ reflete uma vontade de mudança que esbarra com a falta de reais alternativas. Neste contexto, é encorajador que o Partido Comunista Japonês, o único partido que persistentemente combateu a política interna e externa do governo PLJ-Komeito, tenha alcançado um expressivo resultado eleitoral com 4,94 milhões de votos e 7,03% do eleitorado.

Mas se há ângulo importante para observar as eleições japonesas, ele é o da política externa e da defesa nipônica. Em que sentido se orienta a política do PDJ? Do desarmamento? Da liquidação das armas nucleares, como exige o combativo movimento da paz japonês? Da retirada das bases militares e das tropas norte-americanas estacionadas no Japão desde a Segunda Guerra Mundial e que tem sido objeto de grandes protestos populares? Do respeito pela Constituição e particularmente do seu artigo 9.º que proíbe a participação de forças armadas japonesas fora do Japão?

Não, nada disso. Tudo indica aliás que o PDJ, sob o slogan de "maior autonomia militar do Japão" face aos EUA, e à semelhança da União Europeia, intensifique a corrida aos armamentos, acelere os esforços para rever a Constituição e envolva ainda mais as “Forças de Auto-Defesa” em agressões no estrangeiro. Trata-se de um caminho para que os comunistas japoneses alertam. A mistura da crise capitalista e do militarismo encerra grandes perigos.

A História não se repete, mas encerra lições que não devem ser ignoradas. O desenvolvimento tardio do capitalismo japonês, o militarismo e o expansionismo imperialista estiveram sempre ligados.

A Segunda Guerra Mundial começou praticamente com a agressão do Japão na Manchúria em 1931 e ainda hoje estão bem vivos na memória do povo chinês os crimes praticados pela soldadesca imperial na disputa inter-imperialista pela fragmentação e domínio da China.

Sem esquecer, entre muitos outros países ocupados, a martirizada Coreia, que durante mais de quarenta anos sofreu sob a bota do ocupante japonês até à sua libertação revolucionária, mas que continuou e continua a ser alvo do cerco imperialista.

No momento em que assistimos às mais indecentes operações de revisão da história da Segunda Guerra Mundial, é indispensável a maior vigilância perante o crescimento do militarismo japonês.

E tanto mais quando os grandes grupos econômicos nipônicos actuais são em larga medida herdeiros e continuadores daqueles que empurraram o Japão para o “Pacto Anti-Comintern” com Hitler e para a sua criminosa aventura na Ásia.

E quando a Aliança Militar nipo-norte-americana com que o imperialismo procura impor a sua lei no Extremo-Oriente e Oceano Pacífico se tem reforçado incessantemente.

Fonte: Avante!