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Para Brasil, "solução negociada já está a caminho" em Honduras

O porta-voz da Presidência da República, Marcelo Baumbach, avaliou nesta quinta-feira (24) em Brasília que "a solução negociada já está a caminho", na crise de Honduras e "existem sinais de que o governo golpista poderia entrar em negociações". O secretário-geral da OEA (Organização de Estados Americanos), José Miguel Insulza, irá a Tegucigalpa na sexta-feira ou sábado, chefiando uma missão "para estabelecer o diálogo".


"Acreditamos que existe uma possibilidade de uma solução negociada para este problema. O Brasil acredita mais ainda que a solução negociada já está a caminho. Já existem sinais de que o governo golpista poderia entrar em negociações", afirmou Baumbach.

Zelaya "ficará o quanto for necessário"

O porta-voz Marcelo Baumbach disse que o presidente Miguel Zelaya poderá ficar o tempo que quiser abrigado na embaixada brasileira em Tegucigalpa. "É claro que o presidente Zelaya ficará na embaixada brasileira o quanto for necessário para que se resolva a situação. O Brasil deu abrigo para o presidente Zelaya, ele corre o risco de ser preso ao sair da embaixada", lembrou Baumbach.

O próprio Zelaya denunciou nesta quinta-feira que tem recebido ameaças e provocações em seu celular. Os golpistas suspenderam o toque de recolher na cidade, o que permitiu manifestações a favor e contra Zelaya, mas a embaixada brasileira permanece cercada por tropas policiais e militares.

O Ministério das Relações Exteriores informou que 100 pessoas estão com Zelaya na embaixada. Questionado se o grupo também é considerado abrigado, o porta-voz esclareceu: "Se as pessoas entraram na embaixada brasileira e pediram essa proteção se supõe que elas necessitem. O governo brasileiro não está preocupado no momento em fazer uma seleção de quem precisa ou não estar lá."

Desde a volta de Zelaya a Tegucigalpa na segunda-feira (21), a crise hondurenha voltou a assumir tons dramáticos. O aparato do regime golpista prendeu mais de cem pessoas e matou um senhor de 65 anos, Francisco Alvarado, que sucumbiu aos ferimentos a bala que recebeu na terça-feira, no bairro Flor de Campo. Mas os últimos movimentos da crise indicam que os golpistas podem ser obrigados a recuar.

Missão Insulza: "agora, negociações"

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A missão de diálogo encabeçada por Insulza é um indício. Eoi anunciada em Pittsburgh pelo embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Antonio Patriota. "O chanceler Amorim está coordenando a organização de uma missão que irá a Honduras amanhã ou depois de amanhã", disse Patriota.

Além do chefe da OEA, participarão representantes de outros governos latino-americanos, inclusive o do Brasil, disse o embaixador. O secretário da Espanha para a Ibero-América, Juan Pablo de Laiglesia, anunciou em Madri que também integrará a missão.

O objetivo da viagem é "estabelecer o diálogo entre o presidente Zelaya, que foi constitucionalmente eleito, e os golpistas. Sem a presença internacional é difícil que isso ocorra", explicou Patriota.

Insulza esteve em Tegucigalpa no mês passado, mas esbarrou na negativa do governo golpista de Roberto Micheletti em aceitar o plano Árias, formulado pelo presidente da Costa Rica, Oscar Árias. Desde então o diplomata chileno vinha condicionando o seu retorno a Honduras à possibilidade de efetivar o diálogo.

"Não vamos fazer o mesmo que na missão anterior. Já escutamos as partes, agora nos corresponde promover uma mesa de negociações", declarou Insulza. Segundo Insulza, "esta crise é uma grande oportunidade". "Com o protagonista (Zelaya) em Tegucigalpa, o que precisamos é sentar e conversar".

O assessor especial do presidente Lula, Marco Aurelio García, analisou que "a ida [de Zelaya] para Tegucigalpa criou uma pressão maior sobre o governo golpista". Em sua avaliação, a intenção de Micheletti era prolongar a crise até as eleições marcadas para novembro, julgando que depois delas a comunidade internacional reconheceria o presidente a ser eleito.

A ONU, porém, suspendeu o apoio à eleição, apontando que as condições do país não permitem uma consulta às urnas. "Nós fomos muito claros ao dizer que não aceitaríamos o resultado das eleições", concordou Marco Aurélio.

Amorim: "A crise é uma oportunidade"

O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, também fez declarações em apoio ao gesto de Zelaya, inclusive polemizando com a mídia brasileira. Para Amorim, a imprensa tem tratado o retorno de Zelaya a Honduras como uma crise, quando na verade é uma oportunidade para resolver o problema.

"Muito da mídia brasileira diz que a volta do Zelaya criou uma crise. Mas a secretária de Estado (dos EUA, Hillary Clinton), o secretário-geral da OEA, todos eles viram isso como uma oportunidade para resolver o problema", afirmou.

"Essa oportunidade, no caso, envolve riscos. Mas é uma oportunidade para que haja um diálogo, que é o que nós estamos querendo propiciar", analisou ainda o chanceler.

Da redação, com agências