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Le Monde: G20 canta vitória

Em sua declaração final, os países do G20 se felicitam por ter "respondido bem" à crise e anunciam uma nova etapa da governança econômica e financeira mundial. Eles dizem desejar que o G20 substitua no futuro o G8 enquanto principal fórum de cooperação econômica internacional. O objetivo da reunião em Pittsburgh (EUA) estava fixado desde antes da cúpula das principais economias desenvolvidas e emergentes: evitar uma nova crise no mundo.

No projeto de declaração, os membros do G20 decidiram reforçar sua cooperação, a ponto de aceitar o direito de seus parceiros fiscalizarem o o modo como gerenciam suas economias, com ajuda do FMI (Fundo Monetário Internacional).

"Solicitamos a nossos ministros da área econômica que implementem um processo de avaliação mútua das implicações coletivas de suas políticas nacionais para a economia mundial", indica um resumo do projeto de declaração. Ainda por cima, os países do G20 decidiram que o Grupo, que compreende 90% do PIB (Produto Interno Bruto) do planeta, se tornará no futuro o principal fórum da cooperação econômica internacional, desbancando o G8.

Diante de uma economia internacional que se porta melhor embora ainda sofra com a crise financeira, alguns temiam que o G20 perdesse toda vontade de reformar a finança mundial. Mas os países-membros reafirmaram que não é hora de baixar a guarda.

O G20 confirmou portanto a necessidade de manter os planos de recuperação. "Concordamos em manter nossas medidadas de sustentação da atividade econômica até que a retomada esteja assegurada", indica o projeto de resolução. Os países do G20 também querem "reequilibrar o crescimento" da economia mundial: Em termos concretos, trata-se de reduzir o peso dos consumidores dos Estados Unidos na economia mundial, em proveito de seus homólogos chineses ou indianos.

Mas o otimismo estava de volta. Os chefes de Estado e de governo declararam-se convencidos de terem vencido sua batalha contra a crise. "Funcionou", proclama uma alínea do projeto de comunicado final.

Em sua cúpula anterior, no início de abril, em Londres, explicam, a economia se encontrava diante de um desafio sem precedentes "para nossa geração". Mas "nossa sólida resposta contribuiu para frear o agudo e perigoso declínio da atividade mundial e estabilizar os mercados financeiros", sublinharam eles hoje.

A reforma do sistema financeiro

O G20 compromete-se igualmente a "implantar um sistema financeiro internacional mais sólido, para reduzir os desequilíbrios do desenvolvimento". O G20 vai impor aos bancos normas mais exigentes quanto aos recursos próprios lastreando suas atividades.

Na abertura da cúpula, quinta-feira (24), fontes diplomáticas davam a entender que o G20 não iria cobrir os bônus das traders como queriam vários países europeus, inclusive a França. Na saída do encontro, o primeiro ministro britânico, Gordon Brown, que se opunha a tal projeto, afirmou que o G20 seria "mais duro do que se espera" em relação ao enquandramento nas fijnanças. O comunicado final também deveria endossar as recomendações do Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês), visando vincular a remuneração dos banqueiros e outros atores do mercado a desempenhos de longo prazo, e nâo ao recurso a riscos excessivos, e sugerir com esse propósito um sistema diferenciado de pagamento.

Nicolas Sarkozy [o presidente da França] declarou-se "satisfeito" com o que foi decidido na reunião e avaliou que foi ouvido por seus interlocutores quanto "ao conjunto das proposições". Para ele, o G20 marca uma "virada histórica" na cooperação internacional em matéria de economia.

Mais peso para os emergentes no FMI

Quanto à reforma do FMI, o presidente russo, Dmitri Medvedev, garantiu que o G20 estava próximo de um acordo visando a próxima gestão. Um alto funcionário chinês afirmou que o G20 tomaria uma decisão "muito importante" sobre o tema. Serão os europeus que farão sacrifícios, reconheceu a delegação francesa. Segundo ela, havia na sexta-feira à noite "o ensaio de um consenso", prevendo a transferência de 5% das cotas-partes de certos países para outros pior aquinhoados, como a China, Coreia do Sul e Turquia.

Os dirigentes do G20 também pediram que o FMI estude a eventual criação de uma taxa sobre as transações financeiras, a chamada Tarifa Tobin. Conforme uma fonte diplomática, esta "não será especificamente mencionada no comunicado final, mas foi debatida. O FMI passará a estudar essa questão e apresentará suas conclusões antes da próxima reunião do G20". As próximas reuniões do Grupo serão em 2010, no Canadá e depois na Coreia do Sul.

Fonte: Le Monde