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Candidatos hondurenhos veem diálogo no horizonte

É iminente o estabelecimento de um diálogo entre o deposto presidente Manuel Zelaya e o presidente de fato Roberto Micheletti para negociar uma solução d a crise em Honduras. A base será o plano do governante da Costa Rica, Oscar Arias, da Costa Rica, disse neste sábado (26) Bernard Martinez, porta-voz dos candidatos à presidência hondurenha que participam do esforço para debelar a crise. O jornalista Juan Ramón Durán, enviado a Tegucigalpa, pelo Costa Rica Hoy, faz uma viva síntese da crise.

Após uma série de consultas com as partes, com o mediador Arias e outras instâncias internacionais, é possível iniciar um diálogo entre Zelaya e Micheletti "nas próximas 48 horas", disse Martinez. O grupo é composto pelos candidatos Elvin Santos, do Partido Liberal (PL), Porfirio Lobo, do direitista e oposicionista Partido Nacional (PN), Felícito Avila, da Democracia Cristã (DC), e o próprio Martinez, do Partido Inovação e Unidade (PINU), social-democrata, designadopor unanimidade como coordenador dos quatro.

"Recuperar a família hondurenha"

Nessas conversas serão examinadas as posições de ambos os lados com vistas à construção de um acord, baseado em concessões mútuas. "Não será nada fácil, mas os interesses do país se impõem aos pessoais", disse Martinez.

"Este é um momento que requer nosso máximo esforço para recuperar a unidade da família hondurenha, e que todos renunciemos a qualquer interesse particular pelo bem comum e os grandes interesses nacionais", disseram os candidatos presidenciais em um comunicado.

Estas gestões adiaram a visita de uma missão do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Miguel Insulza, e seis ministros de Relaçõe Exteriores da América Latina, para promover o diálogo entre as partes em conflito, com base no plano proposto pelo presidente Arias.

O próprio presidente da Costa Rica disse que não visitaria Honduras "por enquanto". Mas sugeriu uma missão do ex-presidente americano Jimmy Carter (1978-1981), Prêmio Nobel da Paz, como ele. Ambos tinha sido convidados por Micheletti par constatar in loco que "não houve golpe Estado, mas uma sucessão presidencial com base na Constituição".

Enquanto isso, aguarda-se nesta segunda-feira (28) a chegada de uma delegação do Senado brasileiro, para verificar o status da embaixada do paísem Tegucigalpa, onde está refugiado Zelaya, sua mulher, Xiomara Castro, e cerca de 30 simpatizantes, além de um reduzido grupo de funcionários da missão diplomática.

O plano Arias e seus pontos em disputa

O plano Arias contempla como um primeiro ponto a restituição da presidência a  Zelaya, mas em troca do abandono do projeto de uma Assembléia Nacional Constituinte para "refundar Honduras". Ele também prevê a formação de um governo de unidade nacional, anistia para os crimes políticos cometidos pelos envolvidos no golpe e a antecipação das eleições gerais marcadas para 29 de novembro.

Os simpatizantes de Zelaya, reunidos na Frente Nacional de Resistência ao Golpe (FNR, ou simplesmente "a Resistência") insistem que a restituição da presidência e a Assembléia Constituinte são condições irrenunciáveis. Além disso, eles rejeitam o processo eleitoral, uma vez que não há garantia de eleições livres e transparentes sob um governo golpista.

Micheletti rechaça frontalmente o regresso de Zelaya, como presidente. Sustenta que as eleições serão livres e transparentes e constituem a única saída para a crise.

O boom das manifestações de rua

A Resistência mantém a mobilização de seus militantes desde junho de 28, minutos depois que foi noticiada a prisão e deportação de Zelaya para a Costa Rica.

A FNR é formada por membros do Partido Liberal, partidários do presidente deposto, as três centrais de trabalhadores ("operário-camponesas"), o poderoso Sindicato dos Professores do ensino básico e médio, e do Bloco Popular, que por sua vez reúne mais de uma dezena de fortes sindicatos do funcionalismo público.

As marchas da Resistência aumentaram drasticamente de tamanho após o regresso clandestino de Zelaya a Tegucigalpa, na segunda-feira (21) e seu refúgio na embaixada brasileira.

O jornal El Heraldo, um duro crítico de Zelaya, disse em sua edição deste sábado (26) que o governante queria, após sua volta a Tegucigalpa, que a resistência organizasse uma manifestação com cerca de 500 mil pessoas, para tomar pela força a Casa de Governo e expulsar Micheletti.

Naquele dia, a Rádio Globo e a TV Canal 36 chamaram a Resistência a se concentrar em frente à sede das Nações Unidas, onde se disse que Zelaya estava, mas em seguida os manifestantes marcharam até a embaixada do Brasil em uma grande demonstração. O governo de fato impôs o toque de recolher que durou de segunda até quarta-feira, e depois passou a vigir entre as 20 e as seis horas.

A esposa de Zelaya, Xiomara, calculou que cerca de 100 mil pessoas se reuniram em frente à embaixada brasileira. Micheletti, disse que foram 2.500, enquanto os observadores imparciais calcularam 20 mil.

Na terça-feira, a onda repressiva

Na madrugada do dia seguinte, forças combinadas do exército e da polícia reprimiram violentamente os manifestantes com balas de borracha, cassetetes, gás lacrimogêneo e  moderna tecnologia repressiva, procedente de Israel, de acordo com a FNR.

A Resistência denunciou graves violações  dos direitos humanos, devido ao uso excessivo da força militar e policil contra os manifestantes, tanto em passeatas pelas avenidas centrais de Tegucigalpa como na periferia, em bairros pobres e de classe média.

Nos primeiros cinco dias de presença de Zelaya em Tegucigalpa, sucederam-se relatos de detenções em massa de manifestantes, que foram posteriormente libertados, bem como o uso excessivo da violência para dispersar populares que ergueram barricadas nos bairros, entre a noite de quarta-feira e a manhã de quinta.

O Canal 36 mostrou cenas dramáticas, onde aparecem mais de duas dezenas de pessoas com ferimentos graves, principalmente na cabeça, devido a golpes de cassetete.

Líderes de organizações de direitos humanos apontaram graves violações das garantias constitucionais, que eles denunciaram junto à Procuradoria-Geral de Honduras.

O procurador-geral do Estado, Luis Rubio, disse que a Secretaria de Direitos Humanos recebeu 200 denúncias desde que Zelaya retornou ao país.

Um "canhão da dor" contra a embaixada brasileira

O líder deposto denunciou na sexta-feira  um intenso fustigamento da embaixada por parte das autoridades, usando gases tóxicos e um sistema de ondas sonoras que afetam o ouvido, produzem ulcerações na pele e sangramento.

O governo permitiu a entrada da embaixada da Cruz Vermelha na missão diplomática, assim como do ex-ministro da Saúde, Carlos Aguilar, e outros médicos, para cuidar de Zelaya e seus seguidores.

Após a consulta, os médicos confirmaram que a maioria das 80 pessoas que estão na embaixada sofrem de taquicardia, ansiedade, sangramentos e stress, gerados pela atmosfera de tensão, além de um agravamento de doenças como diabetes.

Eles também denunciaram o atraso na entrega de alimentos e material de higiene pessoal. Porta-vozes da polícia desmentiram o uso de gases tóxicos contra a embaixada brasileira, mas confirmaram o uso de um sonar, conhecido como "canhão da dor", já retirado.

Cerca de 2 mil policiais e soldados ainda bloqueiam as ruas em torno da embaixada e não permitem a passagem de nenhum cidadão.

Fonte: Costa Rica Hoy; intertítulos do Vermelho