Resistência hondurenha sai às ruas e pede desobediência civil
Milhares de hondurenhos reclamaram neste sábado a volta do presidente deposto Manuel Zelaya, quando se completaram 90 dias do golpe militar. Para assinalar a data, a Frente Nacional de Resistência ao Golpe (FNR) difundiu um comunicado, de número 24, estimulando os hondurenhos a prosseguir em "uma ação de desobediência civil".
Publicado 26/09/2009 21:12
"A 90 dias, ninguém se rende", "Queira ou não queira, Micheletti vai ora fora" e "Mel [apelido de Zelaya], amigo, o povo está contigo", gritava a multidão, que marchou pacificamente por uma das principais avenidas de Tegucigalpa.
Centenas de homens da da tropa de choque da polícia e soldados do exército ladeavam a manifestação. Quando a multidão se deteve nas proximidades da embaixada brasileira, onde Zelaya buscou abrigo desde segunda-feira (21), centenas de soldados bloquearam a rua, empunhando armas de guerra.
O Comunicado da FNR – que os hondurenhos chamam simplesmente de "a Resistência", também conclui com o lema "A 90 dias de luta, aqui ninguém se rende". Veja a íntegra:
"Comunicado Nº 24"
"1. Condenamos as ações repressivas do regime de fato, que continua a violar os direitos humanos fundamentais, impondo um toque de recolher ilegal, buscas domiciliares, detenção arbitrária de pessoas, inclusive menores, torturas físicas e psicológicas, uso de armas de fogo para dispersar manifestações pacíficas, permanente assédio e sabotagem da mídia independente.
2. Exigimos a libertação imediata de 13 pessoas que estão sendo ilegalmente processadas pelos órgãos de justiça do país com a intenção de intimidar os membros da Resistência.
3. Denunciamos a violenta remoção dos militantes da Resistência que estavam nos arredores da Embaixada do Brasil na madrugada de terça-feira, 22 de setembro, na qual os militares e policiais destruíram bens públicos e privados, em atos que foram atribuídos a militantes da Resistência.
4. Exigimos o fim do fustigamento e dos ataques contra as pessoas que estão na embaixada brasileira, contra a quem eles têm usado diferentes armas de guerra, inclusive dispositivos de alta tecnologia que emitem ondas ultra-sônicas e produtos químicos neurotóxicos que podem conter elementos radioativos como césio 132.
5. Somos reconhecidos às iniciativas de nossos companheiros e companheiras em todo o país, desafiando a cada dia a repressão e o toque de recolher, em uma ação de desobediência civil que demonstra a dignidade irreprimível do povo.
6. Reiteramos a posição da Frente Nacional de Resistência ao Golpe de Estado, de exigir o restabelecimento do legítimo presidente Manuel Zelaya Rosales, condenar os violadores dos direitos humanos e instalar a Assembléia Constituinte democrática e popular.
Desde o regresso de Zelaya, o tamanho das manifestações de rua contra o golpe aumentou visivelmente, apesar da repressão denunciada no comunicado da FNR.
Ao mesmo tempo, surgiram prognósticos, de observadores neutro e até de figuras do primeiro escalão do regime golpista – como o ministro da Presidência, Rafael Pineda Ponce – sobre um encontro entre Zelaya e Micheletti. "O presidente Micheletti expressou sua disposição de encontrar-se com o presidente Zelaya, em um processo de diálogo, não para amanhã, não para hoje, mas em um processo de diálogo", disse Ponce, , em entrevista ao micheletista diário hondurenho La Tribuna. Uma semana antes a hipótese seria sumariamente descartada.
A intensificação dos protestos de rua e os esforços pelo diálogo parecem tentar um movimento de pinça visando encurralar os golpistas. Entretanto, muitos enviados da imprensa estrangeira acreditam que a situação está "em ponto morto".
Da redação, com agências