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A China moderna é rebento da Revolução

Em primeiro de outubro transcorre o 60º aniversário da fundação da República Popular da China, ponto culminante da grande revolução popular dirigida pelo Partido Comunista Chinês sob a liderança de Mao Tsétung. Na história milenar do povo chinês, a vitória da Revolução equivale a um renascimento nacional e à redenção da grande nação asiática das humilhações sofridas desde que o país se tornou presa das potências imperialistas.

Por José Reinaldo Carvalho*


Durante a primeira metade do século 19, em plena decadência da dinastia Qin e do regime feudal, a primeira Guerra do Ópio (1840-42) resultou na subjugação e divisão da China pelo Império Britânico. As classes dirigentes renderam-se aos poderes internacionais da época, sob cuja dominação o país debilitou-se, o povo definhou, a nação se dividiu a ponto de quase desagregar-se à mercê do equilíbrio de poder entre as potências de então e das visões estreitas e provincianas dos senhores da guerra locais.

A primeira tentativa heróica do povo chinês de se libertar, construir uma nação independente, buscar o progresso social e desempenhar com altivez um papel relevante num mundo em mutação marcado por revoluções e cruentas disputas interimperialistas, foi a Revolução de 1911, liderada pelo Dr. Sun Yatsen, um patriota precursor dos combates e batalhas que comoveriam e revolveriam a China e o continente asiático durante toda a primeira metade do século 20 e mais além. A Revolução de 1911 tinha um marcado caráter nacional e democrático. Seus limites, porém, não permitiram avançar rumo à verdadeira libertação nacional e social do povo chinês. Já naquela altura, tornara-se patente que a questão nacional não se podia dissociar do antiimperialismo e da perspectiva socialista. A direção democrática-burguesa não era mais suficiente para abrir uma etapa histórica nova à grande nação asiática.

Encontro com o marxismo-leninismo

Foi o encontro da vanguarda chinesa com o marxismo-leninismo, concretizado pela fundação do Partido Comunista Chinês, em 1º de julho de 1921, que abriu novos horizontes e largas perspectivas ao desenvolvimento da Revolução.

A história de três décadas incompletas desde a fundação do Partido até a tomada do poder em outubro de 1949 condensa ricos ensinamentos para as atuais gerações de lutadores pela causa do socialismo no mundo. Certamente, é outro o contexto histórico, o que desautoriza as repetições e cópias mecânicas. A própria Revolução Chinesa se desenvolveu e se tornou vitoriosa rejeitando o dogmatismo, o que em si já é uma lição a reter. Uma das grandes virtudes da direção chinesa foi conduzir a Revolução tomando como referência fundamental as peculiaridades nacionais, a particularidade de cada momento e etapa. Uma grande visão estratégica e raras flexibilidade e habilidade táticas garantiram um bom manejo político em cada batalha concreta. A maestria da velha guarda chinesa, com Mao Tsétung à frente, e com dirigentes da envergadura de Deng Xiaoping, Chou Enlai, Liu Xaoxi e outros, fez com que o Partido soubesse alterar as táticas conforme os fluxos e refluxos do processo objetivo, concertar alianças as mais amplas e variegadas, o que lhe permitiu sortear difíceis obstáculos.
Tal capacidade de direção e de condução política só foi possível pela combinação de duas virtudes essenciais numa vanguarda revolucionária: o conhecimento vasto e profundo da realidade nacional e o domínio do marxismo-leninismo. Foi esta combinação que tornou a direção chinesa vitoriosa. Nisso reside um dos “segredos” da condução política – firme nos princípios sem ser dogmática; ampla e flexível nos métodos e procedimentos táticos sem ser pragmática nem liberal.

Salto civilizacional

A Revolução traduziu-se num espetacular salto civilizacional para o povo chinês. O triunfo da Revolução em 1º de outubro de 1949 tem por cenário uma China retrógrada, uma das sociedades mais pobres e atrasadas do mundo de então, semifeudal, semicolonial, dependente e submissa às potências imperialistas.

A Revolução tornou a China independente, abriu caminho para a construção do socialismo, enfrentou complexos e angustiantes problemas econômicos e sociais e retomou o processo de unificação do país, de construção da China una, indivisível e com plena integridade territorial. Durante estas seis décadas, ocorreram lutas políticas de envergadura contra as classes outrora dominantes e os intentos de desestabilização do novo poder – a ditadura da democracia popular – pelo imperialismo. Foi uma evolução sinuosa, marcada por sérios conflitos internos. O país avançou em meio a acertos e erros, a fluxos e refluxos e comemora hoje os 60 anos da Revolução Popular nacional-libertadora que iniciou a construção do socialismo, com o justo orgulho de que venceu importante etapa de uma longa e gloriosa caminhada.

Rumo a uma sociedade próspera

Metade do caminho percorrido corresponde ao período em que se aplica a política da Reforma e Abertura, no quadro da etapa primária do socialismo, iniciada em 1949 e que pode durar até 2050, quando a direção chinesa tem a expectativa de haver construído uma sociedade próspera. Durante a Reforma e a Abertura, a China aboliu a economia estritamente planificada e adotou os critérios de mercado, racionalizou o setor estatal, diversificou as formas de propriedade, introduziu extensamente o capital estrangeiro, incrementou enormemente a produção voltada para as exportações e absorveu tecnologia, cultura e métodos de administração do exterior. Em pouco tempo, observa-se extraordinário desenvolvimento das forças produtivas, um vertiginoso progresso econômico, uma veloz mobilidade social e a acelerada redução da pobreza. A China é hoje uma das principais economias do mundo e em todos os sentidos pode ser chamada de potência emergente.

Por óbvio, a par das enormes conquistas, surgem inevitavelmente sérios problemas e desequilíbrios econômicos, sociais, ambientais, culturais, morais e políticos. A atual direção chinesa, liderada pelo presidente Hu Jintao, propõe, em face desses problemas, que se adote o caminho científico do desenvolvimento, consciente de que tal como os problemas não surgem espontaneamente nem da noite para o dia, não serão resolvidos subjetivamente nem com um passe de mágica.

Fase luminosa da história da China

Irrepetível como toda revolução, a Revolução Chinesa mudou as correlações de forças no mundo. Episódio no século 20 somente superado pela Grande Revolução Socialista de Outubro que a antecedeu na velha Rússia, e que foi a experiência pioneira de triunfo de uma Revolução Socialista, a Revolução Chinesa exerceu grande influência no mundo. A China de Mao Tsétung estimulou as lutas anticoloniais e antiimperialistas da segunda metade do século 20, impulsionou movimentos revolucionários e solidarizou-se com todos os povos amantes da paz, da liberdade e da independência. Hoje, num contexto inteiramente distinto, a China continua a dar sua contribuição para a paz, a cooperação e o desenvolvimento no mundo. Como potência emergente, é fator incontornável no atual balanço internacional de forças, aliada estratégica das forças que lutam pela paz, contra o hegemonismo, pela independência e soberania nacionais e pelo socialismo.

Se a China vive hoje a fase mais luminosa de sua milenar história, se o país dá passos significativos para vencer definitivamente a pobreza, se alcança indicadores importantes de progresso social, se reúne melhores condições de promover a justiça social, se está dando gigantescos saltos em seu desenvolvimento econômico, consolidando o poderio nacional, fortalecendo sua independência e avançando irreversivelmente na unificação e integridade territorial, tudo isso é fruto das heróicas gestas revolucionárias que culminaram na vitória de 1º de outubro de 1949. É fruto das gigantescas e inesgotáveis energias do povo chinês, mobilizado, organizado e unido sob a direção do Partido Comunista. Esta China moderna, progressista, avançada, desenvolvida, que constrói a prosperidade de seu povo, que encanta e surpreende a tanta gente no mundo e assombra os inimigos da paz e do progresso social, é um belo rebento da Revolução. É a ela que, como amigos da China, do povo chinês e de seu Partido Comunista rendemos neste momento as nossas homenagens.

*secretário de Relações Internacionais do PCdoB