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A teologia feudal e os gorilas da mídia

Certa vez li que o pensamento teológico fascista é uma espécie de fio condutor de setores sociais ainda apegados aos valores pré-revolução francesa.Talvez isso explica a sua forte presença no interior da Igreja Católica.

Por Osvaldo Bertolino, no blog O Outro Lado da Notícia

Chega a ser impressionante como esse pensamento tem se manifestado, por meio de militantes católicos, nas lutas de classes na América Latina — particularmente no episódio de Honduras.

As manifestações desses grupelhos fascistas a favor do regime goriletti têm o mesmo tom das que protestam contra o avanço da democracia progressista na América Latina.

São, a rigor, as mesmas de quando houve o golpe militar em 1964 aqui no Brasil — cuja expressão máxima foi aquela marcha comandada pela teologia feudal de triste lembrança.

O tom dos editoriais daquela época se repete hoje, principalmente por meio dos “comentários” dos gorilas da mídia.

Impressiona também a semelhança dos discursos dos fascistas midiáticos do passado e do presente com as palavras da ministra da Cultura do regime goriletti hondurenho em entrevista ao jornal Zero Hora, de Porto Alegre.

“Zelaya deixou de ser presidente ao violar a Constituição, ao invocar a instalação de uma Assembleia Constituinte, que permitiria que ele se perpetuasse no poder. Está nos artigos pétreos (imutáveis)”, disse a fascista.

A Folha de S. Paulo do dia 27 de março de 1964, em editorial intitulado “Até quando?”, indagou:

“Até quando as forças responsáveis deste país (…) assistirão passivamente ao sistemático, obstinado e já agora claramente declarado empenho capitaneado pelo presidente da República (João Goulart) de destruir as instituições democráticas?”

O jornal O Estado de S. Paulo do dia 14 de março de 1964 disse:

“(…) Depois do que se passou na Praça Cristiano Ottoni (…), após a leitura dos decretos presidenciais que violam a lei, não tem mais sentido falar-se em legalidade democrática, como coisa existente”.

No dia anterior, cerca de duzentas mil pessoas participaram do famoso comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, no qual foi anunciado que o presidente acabara de assinar, no Palácio das Laranjeiras, o Decreto da Supra (Superintendência da Política Agrária), que propunha um plano de desapropriação dos latifúndios improdutivos acima de 500 hectares, por interesse social.

O presidente mexeu em um vespeiro.

No dia 19 de março de 1964 — dia de São José, padroeiro da família — mulheres ricas paulistas lideraram uma “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, incitando o golpe militar.

Em nome da família, de Deus e da Liberdade, o movimento estava defendendo os terrenos interesses dos latifundiários, banqueiros e industriais.

No dia seguinte, o jornal O Globo comentou:

“Sirva o acontecimento para mostrar aos que pensam em desviar o Brasil de seu caminho normal, apresentando-lhe soluções contrarias ao ideal democrático e ensejando uma tomada do poder pelos comunistas, que o povo brasileiro jamais concordará em perder a liberdade, nem assistira de braços cruzados aos sacrifícios das instituições”.

Qualquer semelhança com a defesa do regime goriletti de Honduras pelos gorilas midiáticos e pela teologia feudal, não é mera coincidência.