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OEA inicia hoje diálogo entre Zelaya e Micheletti

Em uma nova tentativa de encontrar uma saída para a crise política em Honduras, representantes do presidente deposto, Manuel Zelaya, e do governo golpista, liderado por Roberto Micheletti, devem se encontrar nesta quarta-feira (07), em uma mesa de diálogo impulsionada pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Apesar de existirem alguns sinais de que pode haver um recuo de Micheletti, o clima ainda é de incerteza e desconfiança entre as duas partes.

A ideia é que a negociação se inicie ainda hoje, em um hotel de Tegucigalpa, a partir das 10h30 (13h30 de Brasília), com a chegada do chenceleres da OEA. Apesar de Zelaya ter indicado, ontem, oito pessoas para lhe representar, no final, ficou decidido que cada parte formaria uma comissão de três pessoas.

O presidente deposto, que permanece na embaixada do Brasil em Tegucigalpa desde 21 de setembro após retornar de surpresa a Honduras, deve enviar para a discussões o líder sindical Juan Barahona e seus ministros de Governo e de Trabalho, Víctor Meza e Mayra Mejía. Já Micheletti estará representado pela ex-presidente da Suprema Corte de Justiça, Vilma Morales, o advogado Arturo Corrales, ex-candidato presidencial do opositor Partido Democrata Cristão, e pelo advogado Armando Aguilar.

Cinco chanceleres, o subsecretário de Estado americano para a América Latina, Thomas Shannon, e quatro vice-chanceleres, liderados pelo secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, estarão presentes na conversa com o objetivo de conciliar posturas antagônicas, em especial na que diz respeito ao inegociável retorno de Zelaya ao poder.

Na noite da terça-feira (06), Micheletti – que vinha sinalizando uma postura mais flexível, ao voltar atrás em alguns posicionamentos e abrandar seu discurso -, fez um pronunciamento no qual "convocava" oficialmente o diálogo com representantes de Zelaya.

O ditador destacou que os temas cruciais da conversa deveriam se referir "aos poderes do Estado e à anistia, sem prejudicar a abordagem de outros temas", mas não fez menção ao ponto central da questão, abordado na chamada proposta de San José, que é a restituição de Zelaya, uma exigência de toda a comunidade internacional.

O presidente golpista estaria complicado as negociações com propostas alternativas, como a indicação de um terceiro nome para a presidência, em uma tentativa de ganhar tempo. Informações dão conta de que ele apresentaria hoje uma proposta em que oferece ao presidente deposto Manuel Zelaya um retorno ao cargo no dia 2 de dezembro – três dias após as eleições presidenciais para eleger o seu sucessor.

A comunidade internacional e a Frente de Resistência ao Golpe, contudo, têm sido taxativos ao afirmarem que não reconhecerão o resultado de eleições realizadas por um governo ilegítimo. A oferta de Micheletti incluiria um pacote de outras medidas, como a indicação de um gabinete predefinido para Zelaya. Uma assessora de MIcheletti já falava ontem em um acordo Guaymuras, nome antigo de Honduras, em substituição ao de San José.

Se antecipando a manobras ou alternativas inaceitáveis, Zelaya explicitou, ontem, toda a sua desconfiança em relação ao governo Micheletti, que, segundo ele, estaria obstinado a não entregar o poder. O presidente deposto cobrou então uma atitude mais firme da OEA. "A OEA deve esclarecer sua posição, que está muito suave. Estão mostrando muita suavidade com o regime. São muito complacentes em sua posição com os ditadores", afirmou Zelaya.

O presidente destituído advertiu a OEA para não cair na "armadilha" montada pelo governo de Roberto Micheletti, que quer apenas ganhar tempo para se perpetuar no poder. "Alertamos a comunidade internacional e a OEA para que não sirva à manobra de prolongar a ditadura por mais 100 dias".

Uma das principais preocupações de Zelaya é com as idas e vindas na posição do governo de facto. Ontem, Zelaya criticou em um comunicado o anúncio da revogação do estado de sítio depois da prisão de 12 manifestantes e do fechamento da Rádio Globo e do Canal 36 de televisão. "Roberto Micheletti continua zombando do povo hondurenho, ao manifestar que revoga o decreto após obter o maior dano possível, reprimindo selvagemente o povo", diz o comunicado.

Nesta quarta-feira, Zelaya afirmou que acredita em uma saída à crise política que vive seu país, mas que não a vê próxima. "Acho que ainda há uma saída, mas não a vejo próxima", expressou Zelaya à rádio HRN, por telefone, desde a Embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Zelaya afirmou que o regime interino de Micheletti está obstinado "em levar este país a um precipício".

OEA

Esta é a segunda delegação da OEA que vai a Honduras tentar mediar a crise. Há cerca de dez dias, uma outra missão precursora da entidade foi impedida de entrar em Honduras, mesmo depois de receber o aval do governo golpista. O episódio foi considerado uma "afronta" à instituição.

O embaixador brasileiro Ruy Casaes avaliou que o papel da Organização também está "em jogo" com essa missão. Na semana passada, Casaes disse que a OEA estava "caminhando cada vez mais para um absoluto estado de irrelevância" no caso hondurenho. Em entrevista à BBC Brasil, o embaixador afirmou que a restituição de Zelaya ao poder é o centro das discussões e é inegociável. Outro ponto essencial, segundo ele, é a anistia política.

A avaliação do Itamaraty é de que um "novo plano" depende basicamente de dois fatores: de uma maior predisposição de Micheletti em sair do impasse – pois estaria perdendo apoio interno – e também da "habilidade política" de Insulza.

"Estamos em um ponto das negociações em que a OEA tem papel crucial. Caberá ao Insulza saber costurar um acordo que seja palatável para as duas partes", diz uma fonte do Itamaraty, que considera o secretário-geral da OEA um político "extremamente habilidoso".

Além disso, também é forte no Itamaraty a percepção de um "recuo" do governo interino, como por exemplo, no fato de Micheletti ter admitido o "erro" de expulsar Zelaya do país e ter anunciado a suspensão o estado de sítio, ainda que ele continuasse em vigor até ontem.

Com agências