Ivina Carla – O contigente não viu o coração de Bergson

As semanas que antecederam a Conferência Estadual do PCdoB, pude participar da elaboração de um curta metragem sobre o guerrilheiro do Araguaia Bergson Gurjão, estudante de Química da UFC. Os depoimentos colhidos foram os mais diversos e que traziam consigo uma característica que é necessário ser destacada: o tamanho do coração deste jovem.

Na música do Itamar Correia, retirei a frase "ê meu irmão você fez renascer o sertão e o maior contigente não viu o tamanho do seu coração…". Esse trecho, depois de todas as referências feitas a Bergson, é a que mais parece com ele. Como relata a ex-guerrilheira Luzia Reis: "Quando cheguei ao Araguaia, aquele rapaz alto e sorridente me recebeu e disse que faria de tudo pra me ajudar a adpatar-me à vida no campo". Esse é o relato sobre um jovem que dedicou a vida para transformar a realidade vivida naquele lugar e que trazia consigo a solidariedade, o espírito comunista.

A mãe, Dona Luiza, de 94 anos conta que "um dia ele estava estudando na área de casa, quando um homem parou e pediu esmola porque a esposa se encontrava doente no hospital precisando de sangue" e ele disse que não tinha dinheiro, mas tinha sangue e foi ajudar. Esse episódio me remete a fazer uma ligação com a morte dele: foi o mesmo sangue que ele deu ao Brasil e que salvou os seus companheiros da emboscada.

Aos amigos que conviveram com ele, que cantaram Noel Rosa depois das passeatas e reuniões, ele deixou essa marca: de amigo, conciliador, destemido. Que mesmo na disputa política, respeitava a diversidade de opiniões e valorizava as amizades. E para a minha geração ele deixou algo que nunca sairá de mim: a esperança de que um outro Brasil é possível. E nós, herdeiros do Araguaia, temos o dever de honrar a sua coragem, lutando por uma nova sociedade, porque foi por isso que Bergson deu sua vida, por um país com justiça social, democracia e por dias melhores para seu povo.

Ivina Carla é acadêmica de Jornalismo e militante da UJS