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Le Monde: Obama reduz ambições no Oriente Médio

A solução do conflito israelo-palestino hoje parece tão problemática que caiu vários pontos no tratamento da mídia dos Estados Unidos. Os recentes confrontos em Jerusalém não foram manchete. A chegada à região nesta quarta-feira (7) de George Mitchell, o enviado especial do presidente Barack Obama, não despertou mais que um interesse polido, fora do círculo dos especialistas.

Por Sylvain Cypel, correspondente do Le Monde em Nova York

O espetacular relançamento do processo de paz" causou grande surpresa quando Obama nomeou seu enviado especial ao Oriente Médio, apenas dois dias depois de sua posse. Oito meses e meio depois, a conclusão geral é que a diplomacia dos EUA sofreu reveses.

O presidente não conseguiu, como queria, um congelamento dos assentamentos israelenses. O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, chegou mesmo a anunciar a construção de novas colônias na véspera da chegada de Mitchell. Quanto a Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, sua incapacidade para obter qualquer concessão de seus interlocutores israelenses, para não mencionar o fim do bloqueio econômico imposto por Israel na Faixa de Gaza, não o desacredita apenas os olhos de seu conterrâneos.

O tabu do Hamas

Nos grandes think tanks democratas, esta fraqueza agora também é percebida como um sinal de que é preciso mudar. De acordo com eles, o "relançamento" do processo de paz teve, até agora, dois perdedores – Obama e Abbas – e dois vencedores – Netanyahu e o Hamas.

O discurso do presidente americano para o mundo árabe-muçulmano, no Cairo, em 4 de junho, ensejou muitas esperanças. Mas Obama, depois de renunciar a impor a Netanyahu um congelamento das colônias", achou-se na desconfortável posição de ter de persuadir Abbas e o mundo árabe a engolir a pílula, diz David Makovsky, diretor de pesquisa Winep (Washington Institute for Near East Policy), um think tank americano próximo do Likud.

Resultado: Obama deveria esboçar um plano de paz na Assembléia Geral das Nações Unidas; faz mais de duas semanas que a Assembléia terminou e ninguém evoca essa ambição.

Na quarta-feira, um correspondente diplomático do The Washington Post tratou de um tabu: "O que fazer com o Hamas?"

Ele lembrou que Mitchell, quando agia como mediador no conflito da Irlanda do Norte, deparara-se com uma exigência em relação ao IRA similar à apresentada face ao Hamas pela comunidade internacional (a Grã-Bretanha exigia que o IRA depusesse as armas antes de estabelecer qualquer negociação). Mais tarde, ele explicou por que teve de fugir da lógica dos ultimatos: "É difícil parar uma guerra, se você não falar com aqueles que a travam".

Hoje, pergunta o jornal, como podemos avançar, se o Hamas, que demonstra diariamente o quanto é incontornável, está excluído dojogo? Isso, numa situação em que Israel não tem a menor intenção de reocupar Gaza, onde o Hamas manda, e onde Abbas, o interlocutor reconhecido pela comunidade internacional, não tem nenhuma chance de derrotá-lo politicamente.

Fonte: Le Monde