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OEA tenta que Zelaya possa sair da embaixada em segurança

A Organização dos Estados Americanos (OEA), paralelamente à busca de uma solução para a crise hondurenha, pretende obter do governo golpista, nesta quinta (08), uma autorização para que o presidente deposto, Manuel Zelaya, possa sair da embaixada brasileira e se abrigar, em segurança, em sua residência. Ontem à noite, chanceleres da entidade esteviveram na sede diplomática. Zelaya expôs seus argumentos e denunciou o cerco golpista à missão, pedindo desculpas ao Brasil.

A OEA defende que Zelaya necessita de uma acomodação mais apropriada. Há 16 dias, ele está alojado na embaixada brasileira, em condições precárias. O prédio da missão está cercado pelo exército, que controla a entrada de pessoas e vasculha tudo que entra e sai do local. A embaixada chegou a ter a água, a energia e o telefone cortados.

Ontem (07) à noite, ao receber a comissão de chenceleres, que acabara de se encontrar com o intransigente golpista Roberto Michelleti, Zelaya relatou toda a sua saga. Afirmou que não tinha a intenção de reeleger-se, que foi julgado sumariamente em uma noite e apenas teve conhecimento disso dois dias depois, quando já estava na Costa Rica.

Ele chegou a mostrar fotos e outras evidências de ataques à embaixada brasileira. Ele contou que toda a comida que chega ao local é aberta pelos policiais e cheirada por cães farejadores. Mostrou imagens de uma torta toda furada por baionetas e de aparelhos usados pelos militares para emitir ruídos para perturbar os ocupantes da embaixada, assim como para impedir o sinal de celular.

A reunião se deu em uma mesa improvisada na sala do embaixador. Como o ar condicionado está quebrado, a potrta ficou aberta, permitindo que os jornalistas acompanhassem o encontro. Dirigindo-se ao embaixador brasileiro Ruy Casaes, Zelaya pediu "desculpas pelos problemas que tenho ocasionado. Não era minha intenção".

Ele procurou fazer com que a Organização dos Estados Americanos (OEA) não recue da exigência de que o governo golpista lhe restitua o poder. Os representantes da OEA enfatizaram a importância do "diálogo", enquanto Zelaya mostrava que o presidente de fato, Roberto Micheletti, enveredou por uma ditadura e deve ser pressionado a devolver-lhe o cargo.

Na ocasião, os representantes dipolomáticos que pediram a palavra expuseram seu apoio à restituição de Zelaya e disseram já terem pedido a Micheletti melhores "condições físicas" para Zelaya, mas não deram detalhes do encontro com o ditador. O maior silêncio na reunião foi o de Thomas Shannon, o número um da chancelaria norte-americana para a América latina, que também não deu declarações à imprensa.

Segundo um alto funcionário da OEA, o governo de fato estaria propenso a aceitar a sugestão de um novo abrigo para Zelaya. Ele ficaria recluso em sua própria casa, em Tegucigalpa, sob "proteção" da polícia e do Exército. Mas haveria um compromisso formal do governo golpista de que, nesse período, Zelaya não seria levado a prisões do Estado nem submetido a tribunais e poderia pedir asilo político. O presidente deposto está na Embaixada do Brasil desde que voltou a Tegucigalpa, no dia 21.

Ontem, o chanceler de facto de Honduras, Carlos López Contreras, afirmou ser desejável a "normalização do interior" da embaixada brasileira. "Que sejam desarmados os estrangeiros e hondurenhos que se encontram no interior da missão do Brasil, pois ali, na minha opinião, só funcionários do Brasil deveriam exercer autoridade e, no exterior, só as autoridades hondurenhas", declarou no discurso de abertura da reunião com a OEA.

Insistir no diálogo

O secretário-geral d aOEA, José Miguel Insulza, afirmou na noite de quarta-feira que está claro que a posição do presidente de fato de Honduras, Roberto Micheletti, não mudou, mas insistiu que o diálogo deve prosseguir até um acordo.

"Temos que dialogar, tem que haver um acordo, as partes têm que aceitar, seguir conversando", declarou Insulza após o encontro com Zelaya. "Está claro que a posição de Micheletti não mudou, mas não devemos fazer conclusões agora", completou.

Antes do encontro com Zelaya, a missão da OEA se reuniu na Casa de Governo com Micheletti, que endureceu a posição e advertiu que só está disposto a deixar o poder se Zelaya desistir da exigência de ser restituído à presidência.

A delegação da OEA iniciou ontem amesa de negociações com representantes de Micheletti e Zelaya, na tentativa de encontrar uma solução para a profunda crise política provocada pelo golpe de Estado que derrubou Zelaya em 28 de junho.

Manifestação

Enquanto o diálogo se instalava num hotel de luxo em Tegucigalpa, manifestantes pró-Zelaya foram reprimidos pela polícia em pelo menos dois lugares da capital hondurenha. Na primeira delas, cerca de 200 manifestantes se reuniram diante da embaixada americana, que fica a duas quadras da representação brasileira.

O gás lacrimogêneo usado pela polícia chegou até o prédio brasileiro por volta das 11h20 (horário local). Várias pessoas tiveram irritação leve nos olhos, o que levou o médico de plantão a distribuir máscaras de gás aos 66 "moradores", entre os quais assessores e apoiadores de Zelaya, jornalistas e um diplomata brasileiro. Houve também choques na Universidade Pedagógica, tradicional ponto de encontro da "resistência", sem o registro de feridos.

Com agências