A dinâmica do jogo dólar fraco, matérias-primas caras
O jogo denominado "dólar fraco, matérias-primas caras" não é nada novo nos mercados internacionais. Os investidores já há longos anos investem, cada vez mais e mais capitais em matérias-primas, moedas estrangeiras e bolsas de valores estrangeiras toda vez em que o dólar desaba.
Por Lee Wong, no Monitor Mercantil
Publicado 16/10/2009 14:14
É isto que aconteceu há alguns dias, quando a Austrália – de repente – elevou suas taxas de juros, tornando-se o primeiro grande banco central que pré-avaliou o risco de inflação, mas, simultaneamente, depositando seu "voto de confiança" à recuperação econômica.
No final da semana passada tornou-se claro que os demais países-membros do Grupo G20 não estavam – por enquanto – particularmente dispostos a imitar os passos de Camberra. Mas o preço do ouro teve tempo para registrar mais um recorde, atingindo o preço de US$ 1.062,95 nesta quarta, registrando sucessivas altas em sete das oito últimas semanas.
O preço do ouro registrou recordes por três sucessivos pregões, semana passada, por causa dos temores da volta de inflação. Mas recuou após as declarações do presidente do Federal Reserve (Fed), Ben Bernanke, sobre a política monetária do Fed.
Suas declarações fortaleceram o dólar e a liquidação de desempenhos por parte dos investidores. Contudo, o preço nos contratos a prazo permaneceu superior em 4,4% em relação à semana anterior, impulsionando os maiores desempenhos semanais desde 24 de abril deste ano.
O otimismo gerado comprovou que o lance do Banco Central de Camberra originou-se do fato de que a economia australiana é mais saudável do que a norte-americana ou as dos países europeus, graças à alta de preços dos metais e as demais matérias-primas que produz.
A Austrália aproveita a forte recuperação da China, sua maior parceira comercial, a qual importa gigantescos volumes de minérios de ferro, enquanto a economia australiana registrou crescimento durante os dois primeiros trimestres deste ano, em antítese aos EUA, que permaneceram em evolução descendente.
E a primazia do Banco Central da Austrália, elevando suas taxas de juros, proporcionou mais um indício garantindo que as economias emergentes se recuperarão antes das desenvolvidas, como os EUA.
Petróleo em alta
A decisão australiana incentivou uma onda de maciças aplicações em ouro como refúgio seguro contra as pressões inflacionárias que apavoram os mercados internacionais, assim como da desvalorização do dólar.
"Ninguém sabe a que alturas chegarão os preços", reconhecem agora círculos dos mercados internacionais, que recordam que, ano passado, os preços do petróleo atingiram no verão o recorde de US$ 147 o barril, para recuarem em dezembro até US$ 32 o barril.
Entretanto, no caso do ouro, a situação pode evoluir diferentemente. A Ásia e sua demanda é utilizada como um de seus argumentos pelo mega-investidor Jim Rogers para prever nova alta forte do ouro pelos próximos dez anos. Rogers, que é conhecido por suas previsões otimistas sobre os mercados de matérias-primas, avalia que os preços do ouro atingirão US$ 2 mil a onça ao longo dos dez próximos anos.
Também os preços das demais matérias-primas aumentarão, como do petróleo, cobre e açúcar, assim como, as reservas se contrairão, enquanto a demanda estará em alta, particularmente na Ásia.
Rogers esclarece que "como o exigível é a pulverização do risco, o portfólio é enriquecido com aplicações em matérias-primas, as quais evoluem em sentido contrário ao dos demais elementos do ativo".
"O dólar – de acordo com Rogers – é uma moeda terivelmente deficiente. E enquanto permanece astênico, os investidores buscarão a segurança de refúgios como o ouro e as demais matérias-primas".
Rogers considera, contudo, que "a prata e o paládio registrarão ainda melhores desempenhos do que o ouro". Sobre a prata, destaca que "seu preço mantém-se 70% inferior ao de sua alta histórica, enquanto o paládio, a US$ 300 a onça, encontra-se muito distante dos US$ 1 mil que havia atingido no início de 2001".
Sexta-feira passada, um dia após o novo recorde de preço do ouro, o banco J.P Morgan revisou "para cima" suas previsões para o metal vil, assim como para a prata e os demais metais básicos.