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Afeganistão: Karzai é pressionado a aceitar segundo turno

Uma intensa atividade diplomática neste fim de semana tenta convencer o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, a aceitar a realização de um segundo turno das eleições presidenciais no país, segundo a BBC apurou.

As negociações comandadas por altos funcionários internacionais acontecem em antecipação à publicação do relatório final da Comissão de Queixas Eleitorais (CQE), apoiada pela ONU, sobre as supostas fraudes ocorridas durante o primeiro turno, realizado no dia 20 de agosto.

O relatório servirá como base para que a Comissão Eleitoral Independente (CEI) reveja então seus dados sobre a apuração da votação, provavelmente deixando a votação final de Karzai abaixo dos 50% necessários para vencer no primeiro turno.

Inicialmente a CEI havia anunciado o resultado final com 55% dos votos para Karzai e 28% para seu principal rival, Abdullah Abdullah.

Resistência

Membros do governo afegão e diplomatas internacionais dizem que o atual presidente resiste à ideia de enfrentar um segundo turno eleitoral.

O correspondente da BBC em Cabul Martin Patience observa que as denúncias de fraude sobre a votação de 20 de agosto provocaram um alto grau de incerteza política no país.

A discussão também acontece em meio aos debates nos Estados Unidos sobre um possível aumento da presença militar americana no país, com o envio de mais soldados.

A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, e o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, telefonaram para Karzai e Abdullah na sexta-feira para debater a possível realização do segundo turno.

Fontes dos dois governos relataram à BBC que Clinton e Brown pediram a Karzai que aceite as conclusões do relatório da CQE.

O ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, e o senador americano John Kerry, presidente da comissão de relações exteriores do Senado americano, também estão em Cabul para encontros com Karzai e Abdullah.

'Vitória provável'

"É provável que eles vão concluir que o presidente Karzai chegou muito perto dos 50% mais um necessários para evitar um segundo turno", afirmou Hillary Clinton à rede CNN.

"Acho que podemos concluir que a probabilidade de ele vencer um segundo turno é bastante alta", afirmou.

Mas membros do governo dizem que Karzai estaria "furioso" com a possibilidade de mudança de quadro e ameaça atrasar ou mesmo bloquear as tentativas de realizar um segundo turno.

Sua posição parece ter o apoio da CEI. O porta-voz da organização diz que nem todas as conclusões das investigações da CQE devem ser implementadas, apesar do fato de que a CEI é constitucionalmente obrigada a obedecer as ordens da CQE.

O aparente confronto entre as duas organizações poderia até mesmo atrasar a divulgação oficial dos resultados programada para este fim de semana.

Se aprovado, um segundo turno entre Karzai e Abdullah poderia acontecer em duas semanas, apesar das preocupações com a segurança e com as dificuldades logísticas por conta da aproximação do inverno.

Reforço da OTAN

Enquanto a comissão da ONU que investiga as denúncias de fraude eleitoral no Afeganistão se preparava para divulgar suas conclusões, chefes militares da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) decidiram ontem enviar reforços e mais recursos para as tropas da aliança no país.

De acordo com o coronel Massimo Panizzi, porta-voz do comitê militar da Otan, ainda não está definido o número de soldados que será enviado. A aprovação nesta semana, em Bratislava, na Eslováquia.

Panizzi ainda afirmou que os chefes da Defesa das 42 nações envolvidas na guerra no Afeganistão também pediram uma abordagem mais "centrada nas pessoas", que teria como objetivo proteger os civis afegãos. A Otan contribui com dois terços dos mais de 100 mil soldados estrangeiros em território afegão.

Com os últimos acontecimentos, ganha força a revisão da estratégia dos EUA para a região, na qual o presidente Barack Obama estuda o envio de mais 40 mil soldados para o Afeganistão.

Fonte: BBC Brasil