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Articulador político de Lula vê eleição polarizada em 2010

"A única coisa que acho sobre a eleição de 2010 é que vai ser polarizada, que confronta dois projetos para o país", disse o novo articulador político do governo Lula, o ministro Alexandre Padilha, em entrevista à Folha de S.Paulo nesta segunda-feira (19). " O eleitor vai decidir sobre o futuro a partir dos ganhos que ele teve no presente", avaliou o ministro de Relações Institucionais, que acenou com composições do PT nos estados. Veja a entrevista.


Folha de S.Paulo: Havia a expectativa de que o governo Lula quebraria a tradição de utilizar a negociação de cargos e emendas para ter uma base aliada forte no Congresso. É possível quebrar esta corrente?

Alexandre Padilha: Tanto acho possível que estamos quebrando esta engrenagem.

Folha: Lula foi muito criticado pelo apoio a José Sarney, Renan Calheiros, Fernando Collor. Para governar é preciso ser assim tão tolerante?

Padilha: Primeiro, nós governamos com as características do sistema político brasileiro e estamos promovendo mudanças. A ideia de um governo de coalizão é um avanço nisso.

Folha: O sr. acha possível aprovar uma nova versão da CPMF, a Contribuição Social, voltada para a saúde?

Padilha: Isso não é um tema nem uma iniciativa do governo. Acho que só é possível se existisse um processo de mobilização de governadores, prefeitos, da sociedade. Isso não se demonstrou até o momento.

Folha: O governo lutou para prorrogar a CPMF, agora o sr. diz que este não é um tema de governo. Houve também um recuo na tributação da poupança. O governo está refém da eleição?

Padilha: Não. O único cálculo que o governo faz é da importância das medidas para o momento que o Brasil vive, para a superação da crise. O que avaliamos como importante encaminhamos para o Congresso, enfrentando inclusive o debate que é promovido por ele.

Folha:
Será enviado o projeto de taxação da poupança de IR?

Padilha: Teve um debate no fim do primeiro semestre no âmbito do conselho político, a Fazenda apresentou uma proposta. Depois, o próprio ministério não deu continuidade à apresentação do projeto.

Folha: Qual deve ser o lema do candidato do PT em 2010?

Padilha: A única coisa que acho sobre a eleição de 2010 é que vai ser polarizada, que confronta dois projetos para o país.

Folha: Mas o sr. não acha que o eleitor estará mais preocupado com o futuro do que com o passado?

Padilha:
O eleitor vai decidir sobre o futuro a partir dos ganhos que ele teve no presente.

Folha: Na sua avaliação, como será a escolha do eleitor em 2010?

Padilha
: Confio plenamente que o governo do presidente Lula terá todas as condições de fazer a sua sucessora.

Folha: A ministra Dilma?

Padilha: A ministra Dilma, não tenho dúvida, é a pessoa que expressa isso dentro do governo, quem mais acumulou os conhecimentos sobre aquilo que o governo Lula mudou na vida da população.

Folha: A ministra, que até então era vista como a mais técnica, tem agora dividido sua agenda de trabalho com ações políticas. Não temem ser acusados de abuso da máquina?

Padilha: Não, não tem nenhum procedimento feito pelo governo que caracterize isso.

Folha: O sr. acha que o vice dela deve ser do PMDB?

Padilha: Vejo com muita simpatia o desejo do PMDB de compor e de apoiar Dilma e acho que ele tem quadros políticos que podem contribuir.

Folha: Como avalia as candidaturas da ex-ministra Marina Silva (PV) e do ex-ministro Ciro Gomes (PSB)?

Padilha: São dois quadros extremamente valiosos. O ministro Ciro teve um papel fundamental de contribuição ao governo no primeiro mandato. Sem dúvida alguma pode contribuir muito para o embate eleitoral que vamos ter em 2010, numa eleição que vai ser polarizada. Ela caminha para termos uma candidatura única.

Folha: Só uma?

Padilha:
Caminha para isso. Por ser uma eleição polarizada, caminha para ter uma candidatura por parte do governo.

Folha: A tendência então é o Ciro ser candidato em SP?

Padilha: Você tem de perguntar para ele.

Folha: Ele pode ser vice da ministra Dilma?

Padilha:
Acho que não existe nenhuma tendência para se fechar essas situações hoje.

Folha: Muitos defendem que o PT ceda nos Estados pela aliança nacional. Isso pode acontecer?

Padilha: O PT está bastante comprometido com o projeto nacional, bastante convencido de que a prioridade para o PT é a eleição da ministra Dilma como sucessora do presidente Lula. A outra prioridade é constituir uma forte bancada no Senado e na Câmara.

Folha: Mas até agora nenhum pré-candidato do PT abriu mão.

Padilha: O fato de a gente já ter, em vários Estados, um conjunto de forças políticas em torno de outros candidatos é uma demonstração de que o PT prioriza o projeto nacional.

Folha: Cite um exemplo?

Padilha: Tem vários Estados em que o PT não lançou pré-candidato. É uma situação única no PT essa não sinalização de candidatos, apoiando desde o início outros partidos.

Folha: Quando tiver dois candidatos da base aliada, como na Bahia, significa que Lula vai subir no palanque dos dois?

Padilha:
Faço minhas as palavras do governador Jaques Wagner, que disse que a prioridade dele é o projeto nacional. Aquilo que puder contribuir e ajudar para a candidatura de Dilma ele vai fazer. Se for a existência de dois palanques, ele vai conviver com isso.