O Copom e o capitalismo imposto à força
O Boletim Focus do Banco Central (BC), divulgado nesta segunda-feira, anuncia que a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) não alterará a taxa básica de juros, a Selic, na reunião desta semana. O Boletim, que emite a opinião de uma meia-dúzia de “analistas” do mercado financeira, é uma espécie de bússola do BC.
Por Osvaldo Bertolino
Publicado 19/10/2009 14:43
Os “analistas” disseram a Selic permanecerá em 8,75% ao ano. Entretanto, eles aumentaram pela quarta vez seguida a estimativa para a Selic ao final de 2010. A taxa básica de juros é o instrumento usado pelo Copom para supostamente controlar a inflação, mas que verdade é sustentáculo da especulação financeira.
O BC usa a Selic para manter inflação dentro do centro da meta de 4,5%, para 2009 e 2010. A meta tem margem de dois pontos percentuais para mais ou para menos, ou seja, o limite inferior é de 2,5% e superior de 6,5%. O governo escolheu o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para acompanhar a meta de inflação.
Apesar do presidente Lula pregar a redução dos juros praticamente todos os dias, apesar do vice-presidente José Alencar reclamar diuturnamente que “o nosso discurso de campanha de 2002 ainda não chegou ao poder”, forças aparentemente misteriosas e supostamente sobrenaturais fazem com que o Brasil ainda tenha a mais elevada taxa de juros do mundo.
Terceiro Mundo
O economista Ney Bassuino Dutra, em artigo publicado recentemente no Monitor Mercantil, diz que o Brasil tem a sua economia algemada desde 1964, quando a indexação de juros imposta pelos monetaristas conseguiu a façanha de transformar o país no maior centro de agiotagem financeira do mundo. Foi a arma que os neoliberais usaram, na década de 90, para pavimentar o caminho que levaria o Brasil ao abismo em pouco tempo.
Segundo Dutra, os monetaristas, desde 1964, ludibriam o povo brasileiro impondo um falso combate à inflação. “Os monetaristas que se apresentam prometendo ao povo extinguir a inflação, não passam de meros farsantes”, diz. “A terrível crise financeira que amedronta, abala, castiga implacavelmente as economias do mundo é resultante da aplicação imoderada da doutrina monetarista do neoliberalismo”, afirma. Para ele, os trabalhadores em geral são as maiores vítimas do monetarismo.
Não conseguindo exterminar a inflação utilizando juros extorsivos, os monetaristas imaginaram poder livrar a economia da ruína por meio do desemprego generalizado, explica Dutra. “Não entenderam, sequer, que a economia existe para servir a sociedade, não o contrário”, enfatiza. Pode ser que entenderam sim. O problema é que, como diz Noam Chomsky em entrevista recente, o único lugar onde o capitalismo existe é nos países do Terceiro Mundo, onde ele é imposto à força. Vale complementar: à força de mentiras.