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Dívida de países ricos infla com a crise

Dívida pública média dos países da OCDE vai atingir 100% do PIB. A explosão do déficit fiscal dos 30 países mais industrializados, membros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), vai impulsionar a dívida pública média a 100% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010.

O cálculo atualizado confirma previsões negativas sobre o estado das finanças públicas das nações desenvolvidas. Segundo a revista The Economist, só nos sete países mais ricos, o G-7, a conta já supera os US$ 35 trilhões. O desequilíbrio orçamentário é o efeito mais retardado da crise, e ameaça a estabilidade de todas as grandes potências: Estados Unidos, França, Reino Unido, Itália, Japão e, em menor escala, Canadá.

O hiperendividamento – um problema que o Brasil conheceu de perto nos anos 70, 80 e 90 – é consequência direta do aumento brutal do déficit público médio nos últimos dois anos. Em 2007, a cifra atingia 1,5% do PIB dos 30 países; em 2009, chega a 8%. “O déficit explodiu no mundo com a crise, que reduziu a arrecadação e exigiu mais gastos públicos, em especial pela adoção dos pacotes de estímulo à economia”, disse Jean-Luc Schneider, diretor adjunto do Departamento de Economia da OCDE.

A relação média entre a dívida pública e o PIB é mais grave no Japão, onde estaria na casa dos 200%, nos Estados Unidos, em cerca de 100%, e na União Europeia, próximo a 90%. E a perspectiva não é de redução, mas de crescimento de 30% entre 2007 e 2017. Nesses dez anos, a dívida crescerá de 63% para 103% nos EUA, passará de 47% a 125% no Reino Unido e de 70% a 99% na França. Levantamento do banco Barclays Capital nas contas públicas da zona do euro indica situação de calamidade em países como a Grécia – onde a dívida irá de 95% em 2007 para 149% em 2015. Na Irlanda, saltará de 25% a 144%.

Apesar dos números, a preocupação de organismos como a OCDE é reforçar a confiança na capacidade de pagamento de cada país. “É preciso ressaltar que ninguém ainda está à beira da crise de confiança”, diz Schneider, citando a credibilidade do Japão, mesmo com o buraco em suas contas. “Enquanto o mercado acreditar que estes governos são capazes de cortar seus déficits, eles estarão solventes.”

O mais grave, porém, não é a conjuntura econômica adversa que impulsionou o déficit e a relação dívida/PIB, mas a trajetória do endividamento nesses mesmos países, que já aumentava antes da crise financeira e dos planos de relançamento.

Nos últimos 20 anos, houve aumento constante da dívida pública, pela falta de rigor nas políticas orçamentárias e a importância dada ao crédito para fomentar o crescimento de economias como a americana. Em 1987, a dívida pública média na zona da OCDE era de 59%, e chegava a 75% em 2007.

Esse panorama fez o diretor do Departamento de Assuntos Orçamentários do Fundo Monetário Internacional (FMI), Carlo Cottarelli, definir a situação como “sem precedentes em tempos de paz”. O esforço para reequilibrar as finanças públicas, calcula Cottarelli, exigirá que países com déficit orçamentário na casa de 3,5% revertam o desempenho, com excedentes de 4,5%. Mesmo com esse esforço, eles levarão 20 anos para reduzir a dívida a cerca de 60% do PIB.

Como o Brasil, a Europa conhece exemplos da dificuldade em controlar o endividamento público. Em seu último relatório mensal, o Banco Central Europeu (BCE) lembra que a Holanda precisou de 13 anos para reduzir sua relação dívida/PIB de 78,5% para 46% – investindo todos os anos 2,7% de sua riqueza -, enquanto a Finlândia levou 14 anos para diminuir 24% do total devido. O exemplo mais bem-sucedido na Europa é o da Irlanda, que reduziu a dívida em 69% em 12 anos. Mas precisou crescer 7% ao ano, o que lhe valeu o apelido de “tigre celta”.

Cenário sombrio

US$ 35 trilhões é a previsão da revista “The Economist” de quanto estaria hoje o déficit fiscal nos sete países mais ricos do mundo

200% é a estimativa da relação média entre a dívida pública e o PIB no Japão, onde a situação é mais grave. Nos EUA, essa relação estaria em 100% e na UE, estaria próxima de 90%

30% é quanto se estima seja o aumento dessa relação entre 2007 e 2017. Nesses 10 anos, a dívida crescerá de 63% para 103% nos Estados UNidos; passará de 47% a 125% no Reino Unido; e de 70% a 99% na França.

A informação é do jornal O Estado de S. Paulo