Kissinger: Chineses não querem mais o predomínio do dólar
Em entrevista ao jornal francês Le Fígaro, o ex-secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger disse que a confiança dos chineses no dólar está abalada. O outrora "mago" da diplomacia norte-americana, patrocinador de vários golpes de Estado pelo mundo, mas, também, um dos primeiros defensores da aproximação sino-norte-americana durante a gestão de Richard Nixon, em 1970.
Publicado 23/10/2009 16:19
Ele sustenta que os chineses não querem mais o predomínio do dólar sobre a economia mundial e já consideram os norte-americanos não merecedores de confiança em temas de economia. Kissinger viajou há pouco à China e diz "ter constatado grande mudança, a qual está baseada no fato de que os chineses não confiarão jamais nos norte-americanos no setor financeiro".
"Nada é e nada será como no passado", diz, caracteristicamente. O fato de os chineses desdenharem a hegemonia do dólar como moeda de reservas cambiais internacionalmente não significa que já têm encontrado sua substituta.
"Não têm a solução, ainda", diz Kissinger. "Sabem que não depende apenas deles, mas eles têm paciência, estão acostumados a enfrentar desafios em escala de longo prazo. E agirão de forma gradual, no momento certo", adverte. Artigo publicado no jornal Diário do Povo, órgão oficial do Partido Comunista da China, parece compartilhar o ponto de vista de Kissinger.
"Se o dólar entrar em período de contínua desvalorização, sua posição como moeda básica de reservas cambiais internacionais será enfraquecida", diz a publicação. O Diário do Povo ressalta, no entanto, que será preciso tempo para se encontrar seu substituto. "Antes de surgirem novas moedas que poderão substituir o dólar, este manterá sua posição predominante no sistema monetário internacional", sentencia.
Mudança de tom
Para o Wall Street Journal, a recuperação da China está se tornando mais ampla e potencialmente mais sustentável, uma mudança que pode dar melhor suporte para uma economia global ainda frágil. Para reforçar esses sinais, o jornal destaca a mudança de tom do governo, antes mais cauteloso, agora mais confiante em uma sólida retomada.
O Produto Interno Bruto da China cresceu 8,9% no terceiro trimestre, em relação a igual período do ano passado, após alta de 7,9% no segundo trimestre. A expansão na produção industrial, a espinha dorsal da economia do país, acelerou em setembro para 13,9%, depois de avançar 12,3% em agosto.
Igualmente importante é a evidência de que as melhoras na economia ganham uma força que não é mais totalmente dependente do programa de estímulo do governo: "A mudança chave no último trimestre: a virada na saúde financeira das empresas chinesas. Os lucros das empresas chinesas voltaram a aumentar pela primeira vez desde o início da crise", destaca o Wall Street Journal.
Pesquisa do escritório de estatísticas chinês com grandes empresas industriais mostrou que os lucros no trimestre encerrado em agosto subiu 6,5%, frente a igual período do ano passado, invertendo as quedas observadas desde o final de 2008. Os lucros das empresas estatais subiram 12% em setembro, sobre o mesmo mês de 2008, o primeiro aumento em 13 meses.