Evo Morales pode garantir permanência de brasileiros na fronteira

O vice-presidente da Bolívia e presidente do Congresso Nacional boliviano, Álvaro García Linera, garantiu em entrevista coletiva que um decreto do presidente Evo Morales deverá conceder a cidadania boliviana a todos os brasileiros que vivem na faixa de fronteira e que a desejarem

Esta é a principal alternativa para que os agricultores acreanos mantenham suas propriedades naquele país. A segunda é a mudança para um projeto de assentamento em agrovilas no interior do país.

“Nós sempre recebemos os brasileiros de braços abertos. Sabemos que somos povos irmãos e que temos cidadãos brasileiros trabalhando no Brasil, na Argentina, no Peru e outros países. Nunca houve nenhuma ação de discriminação contra qualquer outro povo”, declarou Linera respondendo, também, à questão sobre a violência contra estudantes brasileiros em Santa Cruz de la Sierra.

A coletiva foi realizada nesta quinta-feira, 22, logo após uma reunião do vice-presidente com uma comitiva de parlamentares e prefeitos acreanos no auditório do Parque de Exposições da Vila Bush, a 30 km de Cobija, onde acontecia a abertura da Expo-Pando 2009. Linero foi representar Evo Morales na abertura do evento.

O presidente da Aleac, deputado Edvaldo Magalhães (PCdoB), liderou a comitiva composta pelos deputados, Elson Santiago (PP), segundo secretário da Mesa Diretora, Ney Amorim, líder do PT, e Moisés Diniz (PCdoB), líder do governo. A delegação de prefeitos reuniu Leila Galvão (PT) de Brasileia; José Ronaldo (PSB), de Epitaciolândia; Joais Santos (PT), de Capixaba e Paulinho Almeida (PT) de Plácido de Castro. Também participaram da reunião o cantor e apresentador de TV, Netinho de Paula, vereador de São Paulo e o delegado de Polícia Federal, Protógenes Queiroz, que estão na Bolívia a convite do comitê de campanha de Evo Morales.

INTEGRAÇÃO

O encontro da delegação do Acre com o vice-presidente da República da Bolívia foi realizado depois de duas cerimônias reunindo parlamentares do Acre e autoridades bolivianas em Cobija. Pela primeira vez, em mais de um século de história, instituições do Acre e do Departamento de Pando realizaram um encontro formal para discutir uma agenda de integração fronteiriça.

“Antes, as relações do Departamento de Pando com o Estado do Acre eram apenas pessoais e comerciais. Nunca as instituições se reuniram para debater uma agenda comum de desenvolvimento”, declarou Edvaldo na cerimônia do Palácio do Governo de Pando. Edvaldo transmitiu uma mensagem do governador Binho Marques (PT) de apoio para um seminário a ser realizado em novembro com objetivo de formalizar esse processo de integração.

A cerimônia foi realizada no final da tarde de quinta-feira no hall de entrada do Palácio do Governo. Os anfitriões eram o governador de Pando, contra-almirante Rafael Bandeira Arce, o senador Andrés Guzman e o ministro da Presidência da Bolívia, Juan Ramón Quintana que discursou classificando o evento como o “primeiro encontro entre instituições da história da fronteira”.

Quintana lembrou a guerra do Exército boliviano contra os acreanos, dizendo que Pando e o Acre têm uma identidade histórica comum, embora traumática. “Esta é uma história que já passou, hoje começamos a construir uma nova história que se chama integração”, declarou.

Edvaldo deixou claro para o público presente, que reuniu representantes de vários municípios bolivianos e entidades de classe, que a idéia de uma integração ampla foi do próprio ministro. “Quando procuramos o ministro para dialogar sobre a questão dos brasileiros que terão que deixar a faixa de fronteira e da violência contra estudantes brasileiros, ele propôs um debate mais profundo, com projetos de longo prazo, levando em conta a identidade de cada país. Isso calou fundo na nossa delegação”, relatou.

Edvaldo disse que o governador Binho Marques está entusiasmado com essa nova perspectiva de relacionamento com os vizinhos de Pando e que participará do seminário cuja data deverá ser fixada pelas autoridades bolivianas num prazo de três semanas.

ESTADOS MARGINAIS

Na reunião com os parlamentares do Acre, o vice-presidente Álvaro Linero, explicou que os estados bolivianos das fronteiras com o Brasil, Paraguai, Argentina e Chile sempre foram tratados como de segunda categoria pelos presidentes anteriores. “Eram feudos de proprietários de terras que nem sequer possuíam uma bandeira nacional”, afirmou.

Linero classifica os ex-presidentes bolivianos como representantes de uma elite sem visão de um Estado com presença forte nas fronteiras, tornando-os estados marginais. “Pela primeira vez estabelecemos um Plano Amazônico buscando integração e coesão interna. Cada milímetro de território boliviano tem que ser contemplado”, afirmou.

O vice-presidente informou que o governo boliviano está buscando financiamento para a construção de estradas e de uma usina hidrelétrica na fronteira com Rondônia para gerar 1800 MW de energia. “Com estradas e energia teremos produção. Nós queremos uma fronteira com desenvolvimento e distribuição de riqueza”, declarou.
Linero disse que a Amazônia boliviana ocupa um quarto do território do País e não pode servir apenas para ser fotografada. “É preciso integrá-la ao mercado de produção. Nós colaboramos com vocês e vocês conosco. Queremos cada cidadão com água, luz, saúde, escolas…”, finalizou.

Edvaldo informou a Linero que o Acre tem um governo entusiasmado com a sustentabilidade ambiental, sendo o Estado pioneiro na implantação de um zoneamento econômico-ecológico (ZEE). “Temos muita experiência a ser compartilhada. Nossos problemas vamos resolver dialogando”, afirmou. “Estamos aqui para externar nossa solidariedade com este projeto de governo e afirmar que queremos estar mais próximos de vocês”, concluiu.
 

João Maurício
Agência Aleac