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“Governo Uribe é ditadura narcomilitar aos pés dos EUA”

Em um momento em que as relações entre Venezuela e Colômbia estão cada dia mais deterioradas, o membro do Partido Comunista venezuelano, Francisco Contreras, defende que é preciso solidariedade com o povo colombiano. Ele analisou que, diante da política "entreguista" do governo Álvaro Uribe, é indispensável aprofundar a unidade das forças progressistas no continente. Contreras integra a delegação estrangeira do 12º Congresso do PCdoB.

Francisco Contreras - Vanessa Stropp

Em conversa com o Vermelho, o comunista, que também é médico, afirmou que o governo Uribe se comporta como "inimigo", não só da Venezuela, mas de todos os povos da região. Citando como exemplo a instalação de bases norte-americanas no território da Colômbia e casos de espioragem em países vizinhos, Contreras declarou que – "obedecendo aos ditames dos EUA" – Uribe se contrapõe "à integração regional e à busca da soberania latino-america".

Em decorrência disso, ele defendeu que a Venezuela tem o direito de revisar suas relações comerciais, políticas e culturais com a nação vizinha. Veja abaixo tópicos da entrevista:

Relações com a Colômbia

Entre Colômbia e Venezuela há uma relação que vem se deteriorando, fundamentalmente, pelo capricho do presidente Álvaro Uribe de confrontar-se ao plano dos demais países da região de criar relações sinceras, de respeito, harmoniosas, com os governos e organizações do continente. Uribe aceitou a instalação de bases militares dos EUA, desrespeitando a própria soberania nacional da Colômbia, sem consultar o Congresso, a instância legal que tem que emitir uma opinião sobre essa matéria.

Bases militares

Vocês sabem o que se passou na Unasul, onde Uribe, em Bariloche, se comprometeu a entregar e discutir a cópia do documento do acordo com os Estados Unidos e até agora não se conhece formalmente esse acordo. Parecia algo secreto.

Consideramos que isso (o acordo) representa um perigo para a paz e tranqüilidade não só nos países vizinhos, mas em toda a região. Porque essas bases militares não só estão na Colômbia, mas estão disseminadas por todo o mundo e há muitas delas na América Latina, exercendo um controle geopolítico sobre praticamente todo o continente. As bases atentam contra a segurança e a livre autodeterminação de cada país.

Para barrar o avanço soberano da região

Consideramos que (a estratégia de instalação das bases) é a continuidade de um plano destinado a minar as bases de um desenvolvimento autônomo de nosso povos, que vem acontecendo no Brasil, na Venezuela, no Equador, Bolívia, Uruguai, Paraguai.

Aí está o exemplo de Honduras, que representa essa continuidade de uma política de frear o desenvolvimento autônomo de nossos povos e a busca da soberania. Por isso, sabemos que esse processo integracionista – que vem se formando através da Alba, Unasul, Mercosul – está sendo torpedeado pelos Estados Unidos.

A intenção é não permitir sob nenhuma circunstância que possamos conquistar um processo integracionista da América Latina e Caribe e o encontro que está se dando entre os povos irmãos, de diferentes formas, em diferentes instâncias, rompendo com limitações que existiam antes.

Fortalecer a unidade

O imperialismo não vai ficar de braços cruzados, sabemos disso. E hoje, mais que nunca, devemos fortalecer essa unidade continental, conformar uma ampla frente de defesa de nossos interesses comuns, de nossa integração, de nossos processos revolucionários.

O conflito armado e a espionagem colombiana

Consideramos que o conflito armado de mais de 50 anos de existência é um problema que ultrapassa uma situação interna da Colômbia. É um conflito que se translada a nossos países, haja vista o que estão fazendo agora, com agentes do governo, do DAS – Departamento Administrativo de Segurança -, incursionando, fazendo espionagem em nosso país. Aliás, tanto na Venezuela, quanto em Cuba e no Equador há denúncias fortes nesse sentido.

Recentemente, a Venezuela prendeu membros do DAS em seu território. Isso atenta contra a política interna de qualquer país. Não é uma relação de amizade, mas de tentar torpedear o processo interno e externo no continente latino-americano. Por isso, temos direito de revisar todo um conjunto de relações no marco comercial, econômico e cultural, com um país que se faz praticamente inimigo de nosso povo.

O governo Uribe, podemos menos que classificá-lo como uma ditadura narcomilitar e que se posta ao pés dos ditames dos Estados Unidos, do pentágono, a cumprir ao pé da letra todos os mandatos do imperialismo. Isso é o que significa o governo Uribe.

Solidariedade com a Colômbia

Nós consideramos que as forças progressistas e revolucionárias de países progressistas devem ampliar a solidariedade com o povo colombiano, porque há na Colômbia uma intervenção militar do imperialismo norte-americano, na qual, inclusive, os militares gozam de imunidade e podem cometer assassinato, violar leis, e a justiça colombiana não pode atuar sobre eles.

Isso é um ato indigno, de covardia e humilhação o que está fazendo o presidente Uribe ao entregar a Colômbia aos gringos simplesmente por uma complacência entreguista. Temos que lutar, fortalecer a solidariedade com o povo colombiano, em todos os níveis.

O Congresso do PCdoB

Queria expressar nossa solidariedade com o PCdoB, no seu 12º Congresso, com o povo brasileiro e seu processo de luta para aprofundar a democracia, a justiça social, as conquistas da classe trabalhadora. É um país que podemos ver que está avançando até a construção de uma sociedade socialista. E o PCdoB vai sair fortalecido desse Congresso para seguir defendo suas bandeiras.

De São Paulo,
Joana Rozowykwiat

Foto: Francisco Contreras