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“Queremos internacionalizar a experiência da Bolívia”

Em entrevista ao Vermelho, o senador boliviano Andrés Guzman defendeu a integração latino-americana e uma relação de irmanamento entre Bolívia e Brasil. Nesse sentido, ele anunciou um acordo de cooperação político-partidária de sua sigla, o Movimento ao Socialismo (MAS), com o PT e o PCdoB. Também falou sobre o cenário pré-eleitoral na Bolívia e um provável segundo governo de Evo Morales, que, de acordo com ele, será voltado a uma “revolução econômica”. Veja abaixo:

A exatamente um mês das eleições presidenciais, como está o cenário político na Bolívia?

O presidente Evo Morales representa a vontade popular, um homem pré-destinado a retomar o destino da Bolívia. Governos neoliberais fizeram com que esta nação ficasse atrasada por mais de 50 anos em seu desenvolvimento. A Bolívia está cansada disto e levou Evo Morales a esse destino. Estamos absolutamente confiantes de que, com essa refundação do país, tenhamos um horizonte muito melhor.

Nos últimos quatro anos, temos dados que a Bolívia nunca possuiu. Hoje temos reservas no Banco Central que superam 10 bilhões de dólares – fruto das medidas que Evo implementou. Antes, os presidentes chegavam ao fim do ano com uma canequinha na mão e iam pedir dinheiro emprestado para inaugurar o novo ano legislativo na Bolívia.

A Bolívia sempre foi um país rico. Mas os recursos ficavam nas mãos de meia-dúzia de cidadãos que levaram o país à bancarrota. Hoje, pela primeira vez, um presidente faz a distribuição dessa renda para as maiorias postergadas. Portanto, a Bolívia, dia 6 de dezembro, volta às urnas e não temos dúvida de que irá reeleger (Morales) de maneira massiva, batendo recordes históricos de votação. Nas últimas pesquisas, o presidente supera os 69%.

Como está a campanha? Que estratégia a oposição tem usado?

Nós acreditávamos que a oposição pudesse dar um respiro, fruto das últimas quatro derrotas que sofreu. Mas, ao contrário, não devemos subestimar partidos e cidadãos que há mais de 40 anos estavam na administração pública. Agora eles vêm copiando, parodiando o que Evo tem feito, inclusive repetindo programas de governo que o presidente já aplicou.

Como o presidente, que sofreu uma tentativa de golpe, conseguiu reverter esse quadro, passando a vivenciar talvez a situação mais tranqüila entre os progressistas da região?

Não é difícil fazer política quando há consciência. Aprendemos isso na prática. O único feito do presidente Evo Morales é gerar essa justiça social, uma redistribuição da renda. A grande maioria da sociedade ficou esquecida durante tantos anos de governos neoliberais. E o povo não é bobo. Qualquer povo muitas vezes se embriaga pelos discursos, acredita, deposita seu voto, sua fé. Mas, com o passar dos dias, meses e anos, esses povos percebem que foram enganados.

O que ocorreu é que, com essas mudanças radicais, governantes acostumados ao uso da coisa pública não querem sair e geram violência porque o povo se mobiliza. O povo hoje está satisfeito, porque sabe que tem um representante na máxima cadeira boliviana.

A Bolívia quer estimular os bolivianos que moram no Brasil a votar…

O companheiro Netinho (de Paula, vereador do PCdoB), que é um verdadeiro irmão, tem a sensibilidade que nós sempre procuramos em algum companheiro, foi convidado a nos visitar, há 15 dias, na fronteira do Acre com o departamento de Pando. E, lá, ele esteve com Protógenes Queiróz (delegado federal, filiado ao PCdoB) e teve uma conversa muito boa e produtiva na qual identificamos coincidências vigorosas entre nós.

Netinho pode nos ajudar muito porque ele também representa essas minorias postergadas. É um verdadeiro representante do mundo negro. Pode colaborar conosco, fazendo essa divulgação das eleições do dia 6 de dezembro na colônia de bolivianos, que chega a 200 mil habitantes. Porém, apenas 25 mil deles se cadastraram para votar. Pela primeira vez na história republicana, os bolivianos que estão na diáspora poderão votar pelo seu presidente. Então existe hoje uma mobilização espontânea.

Como deve ser um segundo mandato de Evo Morales?

Estamos fechando um ciclo de refundação do país. Essa primeira etapa, o presidente está cumprindo. Agora vamos iniciar a revolução econômica. Nós precisamos nivelar o pobre, a classe média, precisamos gerar desenvolvimento, fontes de emprego e, fundamentalmente, investirmos em educação.

Nós sabemos que o destino da Bolívia, por ser o próprio coração da América do Sul, pode ser esse dínamo de distribuição de riquezas. Porque o Brasil, por exemplo, se não dominar o Pacífico, não acredito que possa ser uma potência como hoje é os EUA. O Brasil já domina o Atlântico e, inevitavelmente, tem que passar pelo território boliviano para acessar o pacífico. E nós queremos que isso ocorra.

Sabemos que o destino da Bolívia é um acoplamento, uma integração, com esse colosso Brasil. Temos 3,2 mil km de fronteira em comum. Portanto, nós sabemos que a Bolívia tem um futuro fantástico, de compreensão, irmanamento e integração latino-americana, que deve passar inevitavelmente pelo Brasil.

É nesse sentido que o MAS busca integração com partidos brasileiros?

Hoje é dia histórico para nós. Assinamos uma acordo de cooperação político-partidário MAS-PT e ainda hoje devemos fazer o mesmo com o PCdoB. Em quatro anos de governo, tínhamos uma tarefa interna e a cumprimos. Agora queremos desenvolvimento e internacionalizar o MAS, porque o nosso processo é único no mundo.

O que significa internacionalizar o MAS?

O MAS precisa absorver essas experiências de países irmãos, para nos adequarmos aos novos desafios do terceiro milênio. Hoje precisamos pensar o bem-estar dessas grandes maiorias, e precisamos nos unir para buscarmos soluções, absorvermos experiências e doarmos os feitos bem sucedidos no nosso país. Então, a internacionalização representa isso.

O que prevê esse acordo de cooperação com partidos brasileiros?

São trocas de informações. Por exemplo, no Legislativo, precisamos que nossos parlamentares se reúnam, a cada três meses, para trocar informações políticas. Temos que estimular as juventudes a se reunirem porque elas são o presente e o futuro dos nossos países.

Vamos trocar informações na administração pública, fazer cursos de capacitação político-partidária. Portanto é uma integração nos diversos âmbitos da vida social e política.

– Veja também:
Vídeo: "Bolívia pode permitir acesso do Brasil ao Pacífico", diz senador do MAS

De São Paulo,
Por Joana Rozowykwiat