Sergipe inicia sua 1ª Conferência Livre de Comunicação

O debate está aberto. Na noite desta quinta-feira, 5, Sergipe iniciou os preparativos para um amplo processo de construção coletiva de uma nova comunicação. Em encontro no auditório do Sindicato dos Bancários, representantes da sociedade civil e do poder público abriram a Conferência Livre de Comunicação, etapa preparatória para a Conferência Estadual de Comunicação (Conecom).

Coordenado pela Secretaria de Estado de Comunicação Social (Secom), o evento objetiva desenvolver temas e propostas iniciais para a fase estadual do debate. A realização prossegue ao longo de toda esta sexta, 6, com vasta programação de palestras e rodas de discussão.

De acordo com o secretário de Estado da Comunicação, Carlos Cauê, a Conferência Livre é o reflexo inicial de uma inédita conquista da sociedade. “É a primeira vez que Governo e população começam a se organizar para discutir a comunicação. E desde este começo nossa intenção é dar voz a todos os sergipanos em relação a esse tema, promovendo um debate plural, respeitando as opiniões díspares e buscando a convergência. Estes serão os princípios que nortearão este encontro”, destacou.

Ainda segundo o secretário, a etapa preparatória antecipa a reparação de uma dívida da sociedade consigo mesma: o debate pleno sobre os rumos da comunicação. “Enquanto outras áreas já estabeleceram marcos regulatórios consolidados na sociedade, nós comunicadores ainda estamos um pouco atrasados na reflexão e na discussão sobre os processos que envolvem a comunicação. Mas hoje estamos dando um passo importante para delinear e formatar os paradigmas da área”, disse.

Carlos Cauê também ressaltou o esforço do Governo de Sergipe em garantir, enquanto coordenador do processo, um debate amplo e democrático. “Desde a convocação da Conferência Estadual, o Estado vem demonstrando seu compromisso com a pluralidade, o que se traduz na garantia de participação da sociedade civil em mais de dois terços da comissão organizadora. Assim, a sociedade é posicionada não apenas como proponente, mas como protagonista desse processo de conferência”.

Espaço para todos

Para Jonas Valente, representante do Coletivo de Comunicação Intervozes e um dos palestrantes que conduzirá os debates na programação da sexta, as conferências, em qualquer uma de suas etapas, carregam o ineditismo de transferir para a sociedade a decisão sobre ações que sempre foram tomadas de forma arbitrária. “Infelizmente, temos um histórico de grande déficit democrático na área da comunicação. Em toda história do Brasil as políticas para a área foram decididas a portas fechadas, dentro de gabinetes. Todo esse processo que integra a Conferência Nacional de Comunicação vem para estancar essa dinâmica e dar a espaço a todos, inclusive a segmentos que não estejam relacionados com a área”.

Valente tambem destacou a Conferência Livre como o local ideal para se discutir uma agenda regional e local de políticas públicas para a comunicação e posicionou o Governo de Sergipe como potencial condutor pioneiro do processo. “Tenho certeza de que o Governo do Estado, com base no seu compromisso com outras áreas, vai ter disposição para acolher esse processo de elaboração local, de modo que possa se posicionar, inclusive, como um exemplo de promotor de políticas democráticas de comunicação”.

A tambem palestrante Roseli Goffman, integrante do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), foi outra que destacou a importância do debate. “Foram realizadas cerca de 100 conferências nacionais em diversas áreas em todo o Brasil, sendo 60 só nesta última gestão do Governo Federal. E um dos temas que jamais foi contemplado foi justamente o da comunicação de massa em nosso país. Mas finalmente o momento chegou, e vamos garantir que a fala popular apareça com força nesse debate”, disse.

Roseli aproveitou para adiantar alguns dos temas que serão discutidos durante as atividades da Conferência Livre, tais como o processo de universalização dos meios. “Apesar de 98% da população brasileira ter televisão, a comunicação não está universalizada no país. A chamada convergência tecnológica entre televisão, internet, celulares e outros pode ter até nos alcançado, mas não constatamos uma distribuição do acesso a todos os brasileiros. E é nesse sentido que precisamos direcionar nossas proposições: para que toda a população tenha direito à comunicação em todos os níveis”, destacou.

Responsabilidade

Já Josimey Costa da Silva, representante da Associaçao Brasileira de Emissoras Públicas Educativas e Culturais (Abepec) e professora de comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), salientou o papel dos professores de ensino superior da área para a contribuição com a discussão. “O fato de ser professora me obriga duplamente a participar desse processo, pois somos nós que formamos pessoas não apenas para atuar nos meios de comunicação, mas também para pensar sobre a própria comunicação. Assim nós, educadores, temos uma grande responsabilidade”, declarou.

O decano do rádio sergipano José Eugênio de Jesus, presente à mesa como representante da Associação Sergipana de Imprensa (sociedade civil), demonstrou entusiasmo com o início do evento. “Todos nós, integrantes da comunicação sergipana, apoiamos toda e qualquer luta para o alcance de um bem que interesse a todos. E acreditamos que essa Conferência irá nos trazer isso”. Representante do setor empresarial, Miriam Carvalho também externou boas expectativas em relação ao debate. “Essa é uma oportunidade única para que possamos apresentar grandes idéias não só para a comunicação de Sergipe, mas também para o país. Temos tudo para isso”.

Presidente do Sindicato dos Jornalistas de Sergipe, George Washington foi outro que destacou o ineditismo da oportunidade apresentada pela Conferência Livre. “Estamos vivendo um momento ímpar, pois a sociedade nunca foi ouvida para a construção de nada relacionado à comunicação. Por isso estamos na expectativa de apresentar algumas propostas para formatar políticas publicas na área. Essa é a hora de colocarmos nossas ideias para que a comunicação no Brasil seja cidadã, plural e que vise principalmente a humanização do ser humano, uma vez que ela está sendo tratado como mercadoria. E sabemos que, basicamente, fazer comunicação não é isso, mas sim garantir que todos tenham vez e voz”.