Sem categoria

Edvaldo, líder dos condutores de SP, delegado ao Congresso

Na longa fila para a eleição eletrônica do Comitê Central, no último dia do 12º Congresso do PCdoB, dei com um negro baixo e rijo, de barba grisalha, com um chapéu ostentando a foice e o martelo, lendo o jornal Brasil de Fato. Para minha surpresa e alegria era Edvaldo Santiago, 61. Um pedaço da história da luta de classes e do Sindicato dos Condutores de São Paulo entrara no partido no processo do Congresso.

Por Bernardo Joffily

Quem conhece essa história conhece Edvaldo. Veio do interior da Bahia aos 12 anos, para ganhar a vida, e ganhou. Entrou para a categoria dos condutores – motoristas, cobradores de ônibus, trabalhadores das garagens – e para a militância sindical, crescendo como líder no tumultuoso ascenso grevista dos anos 1980.

Quando Luiza Erundina (PT, hoje PSB) tornou-se prefeita de São Paulo, Edvaldo presidia o sindicato, que protagonizou um complexo jogo de alianças, acordos, pressões e memoráveis greves. Era então da tendência sindical CUT Pela Base. Numa categoria enorme, combativa e explosiva, politizada e complexa, deixou a diretoria para formar uma corrente oposicionista, o Resgate, que se ligou à Força Sindical. Via Resgate voltou à presidência, no lugar de Gregório Poço, do PCdoB. Na gestão Marta Suplicy (PT) chegou a ser preso, pela Polícia Federal, a pedido da prefeita. Atuou na área internacional do movimento, rodou a África e a Europa. De volta ao Brasil, criou uma organização para combater a aids na categoria. Hoje é o secretário-geral da entidade, que compõe o primeiro escalão do sindicalismo brasileiro.

Nessa trajetória atribulada, o traço permanente é a ligação com a categoria dos condutores de São Paulo. Figura polêmica, seus adversários já lhe imputaram os piores crimes; mas nunca ninguém ousou duvidar de sua enorme liderança.

O tempo se incumbiu de decantar esse militância de uma vida inteira. Edvaldo aproximou-se do trabalho do PCdoB na categoria, antigo, incansável e de massas, desde os tempos da ditadura militar e da CMTC (a grande empresa pública de ônibus, destruída em 1993 quando Paulo Maluf era prefeito).

Um episódio doloroso soldou a aproximação: um dos dois filhos do sindicalista, morreu afogado numa lagoa de Maceió, pouco depois de vibrar com uma vitória do Timão, cujas excursões costumava acompanhar. Edvaldo, desesperado, pegou o primeiro voo para Alagoas. Conseguiu desembaraçar-se dos trâmites burocráticos e voltar com o corpo do filho graças à ajuda de um alagoano ilustre, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que diz ter feito "o que eu gostaria que fizessem se fosse o meu filho".

Edvaldo Santiago, aos 61 anos, pediu ingresso no PCdoB. Foi eleito para o Comitê Paulistano e reúne-se semanalmente no organismo que responde pela base dos condutores. Quando ele entrou, perguntaram-lhe se tinha algum projeto político-eleitoral. Disse que não; filiava-se para fazer uma boa militância sindical. E está fazendo.

A moral dessa história é que a classe dos trabalhadores explorados pelo capital é um ser vivo, real, concreto, do qual os livros da teoria marxista são apenas o reflexo mais ou menos simplificado. A classe de carne e osso tem fronteiras, nem sempre nítidas, com outros segmentos da sociedade, desde o campesinato até a pequena-burguesia tradicional, ou a moderna, a intelectualidade, o lumpesinato; ela tem a sua história real, faz o seu aprendizado real, e produz os seus líderes reais (o mais célebre dos quais é o presidente Lula). A legenda que proclama no seu Estatuto ser "o partido político da classe operária e do conjunto dos trabalhadores brasileiros" está decidida a abrir espaços para estas lideranças, mulheres e homens que trazem consigo os laços concretos com a classe concreta. Como Edvaldo Santiago. Os Edvaldos de todas as categorias trabalhadoras do Brasil têm um posto de combate à sua espera nas filas do PCdoB.