Edvaldo, líder dos condutores de SP, delegado ao Congresso
Na longa fila para a eleição eletrônica do Comitê Central, no último dia do 12º Congresso do PCdoB, dei com um negro baixo e rijo, de barba grisalha, com um chapéu ostentando a foice e o martelo, lendo o jornal Brasil de Fato. Para minha surpresa e alegria era Edvaldo Santiago, 61. Um pedaço da história da luta de classes e do Sindicato dos Condutores de São Paulo entrara no partido no processo do Congresso.
Por Bernardo Joffily
Publicado 08/11/2009 16:53
Quem conhece essa história conhece Edvaldo. Veio do interior da Bahia aos 12 anos, para ganhar a vida, e ganhou. Entrou para a categoria dos condutores – motoristas, cobradores de ônibus, trabalhadores das garagens – e para a militância sindical, crescendo como líder no tumultuoso ascenso grevista dos anos 1980.
Quando Luiza Erundina (PT, hoje PSB) tornou-se prefeita de São Paulo, Edvaldo presidia o sindicato, que protagonizou um complexo jogo de alianças, acordos, pressões e memoráveis greves. Era então da tendência sindical CUT Pela Base. Numa categoria enorme, combativa e explosiva, politizada e complexa, deixou a diretoria para formar uma corrente oposicionista, o Resgate, que se ligou à Força Sindical. Via Resgate voltou à presidência, no lugar de Gregório Poço, do PCdoB. Na gestão Marta Suplicy (PT) chegou a ser preso, pela Polícia Federal, a pedido da prefeita. Atuou na área internacional do movimento, rodou a África e a Europa. De volta ao Brasil, criou uma organização para combater a aids na categoria. Hoje é o secretário-geral da entidade, que compõe o primeiro escalão do sindicalismo brasileiro.
Nessa trajetória atribulada, o traço permanente é a ligação com a categoria dos condutores de São Paulo. Figura polêmica, seus adversários já lhe imputaram os piores crimes; mas nunca ninguém ousou duvidar de sua enorme liderança.
O tempo se incumbiu de decantar esse militância de uma vida inteira. Edvaldo aproximou-se do trabalho do PCdoB na categoria, antigo, incansável e de massas, desde os tempos da ditadura militar e da CMTC (a grande empresa pública de ônibus, destruída em 1993 quando Paulo Maluf era prefeito).
Um episódio doloroso soldou a aproximação: um dos dois filhos do sindicalista, morreu afogado numa lagoa de Maceió, pouco depois de vibrar com uma vitória do Timão, cujas excursões costumava acompanhar. Edvaldo, desesperado, pegou o primeiro voo para Alagoas. Conseguiu desembaraçar-se dos trâmites burocráticos e voltar com o corpo do filho graças à ajuda de um alagoano ilustre, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que diz ter feito "o que eu gostaria que fizessem se fosse o meu filho".
Edvaldo Santiago, aos 61 anos, pediu ingresso no PCdoB. Foi eleito para o Comitê Paulistano e reúne-se semanalmente no organismo que responde pela base dos condutores. Quando ele entrou, perguntaram-lhe se tinha algum projeto político-eleitoral. Disse que não; filiava-se para fazer uma boa militância sindical. E está fazendo.
A moral dessa história é que a classe dos trabalhadores explorados pelo capital é um ser vivo, real, concreto, do qual os livros da teoria marxista são apenas o reflexo mais ou menos simplificado. A classe de carne e osso tem fronteiras, nem sempre nítidas, com outros segmentos da sociedade, desde o campesinato até a pequena-burguesia tradicional, ou a moderna, a intelectualidade, o lumpesinato; ela tem a sua história real, faz o seu aprendizado real, e produz os seus líderes reais (o mais célebre dos quais é o presidente Lula). A legenda que proclama no seu Estatuto ser "o partido político da classe operária e do conjunto dos trabalhadores brasileiros" está decidida a abrir espaços para estas lideranças, mulheres e homens que trazem consigo os laços concretos com a classe concreta. Como Edvaldo Santiago. Os Edvaldos de todas as categorias trabalhadoras do Brasil têm um posto de combate à sua espera nas filas do PCdoB.