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Candidato renuncia e declara apoio à volta de Zelaya

Imagine passar a tesoura em quase 15 milhões de cédulas eleitorais para excluir um candidato. É possível que isso seja feito em Honduras para as eleições de 29 de novembro, caso elas sejam mesmo realizadas sob o regime golpista, sem a volta do presidente deposto Manuel Zelaya ao posto para o qual foi democraticamente eleito.

David Matamoros, um dos três magistrados do Tribunal Superior Eleitoral, confirmou que essa estratégia pode ser utilizada após Carlos H. Reyes, da CI (Candidatura Independente, vinculada à Frente de Resistência), ter renunciado definitivamente à disputa, em protesto contra a não restituição de Zelaya.

As eleições em Honduras são feitas com cédulas de papel. Em 29 de novembro, cada eleitor terá de depositar três delas: uma para escolher o presidente, outra para eleger nominalmente cada deputado e uma terceira para escolher o prefeito.

Em cada papel, verticalmente, aparecem nome e foto de cada candidato, além do símbolo do partido. O eleitor precisa marcar com uma caneta as preferências.

Caso o espaço destinado a Reyes não seja recortado, todos os votos recebidos pela Candidatura Independente serão anulados, explicou Matamoros, que confirmou que todas as cédulas já foram impressas.

Reyes declarou ontem (9) que não participará da eleição pois esta “legitima e legaliza o golpe de Estado e a continuidade dos golpistas no poder”.

O político acrescentou que não quer “servir de ornamento a uma mentira orquestrada pelos partidos Liberal, Nacional e o TSE”. Tanto a Candidatura Independente (CI) como a Frente de Resistência estão convencidos que as próximas eleições serão fraudulentas.

Matamoros lamentou a retirada da candidatura e reiterou que “há fatores mais do que suficientes para que as eleições possam ser consideradas transparentes”.

Afirmação esta questionada por muitos analistas políticos, que lembram que nunca houve processos eleitorais limpos no país e que ainda se usa o termo “eleições ao estilo de Honduras”, em referência à repartição histórica do poder entre liberais e nacionais.

Sem garantias

Álvaro Cálix, sociólogo da Universidade Nacional Autônoma de Honduras, explicou ao Opera Mundi que, mais do que um debate sobre a legitimidade da disputa, feita sob a influência de uma ditadura, está a desconfiança.

“É impossível ter confiança num processo quando ele vem seguido de um golpe de Estado, pelo fato de dois dos três juízes do TSE antes ocuparem cargos públicos nomeados pelo Partido Liberal e Nacional, respectivamente, e as urnas estarem sob custódia do mesmo exército que ilegalmente derrubou o presidente eleito do país.”

Segundo Cálix, “não existem os mecanismos suficientes de garantia”, pois não há recursos econômicos suficientes para pagar observadores independentes em cada uma das urnas e as etapas de filtragem dos resultados.

Enquanto isso, na embaixada do Brasil, Manuel Zelaya felicitou a CI pela decisão pois, segundo ele, “estão denunciando a fraude”. Acrescentou que, no atual contexto, não faz sentido haver eleições impulsionadas pelas elites econômicas para benefício próprio.

Fonte: Opera Mundi