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Luis Nassif: Como o BC quase quebrou o país

Já há algum tempo a diretoria do Banco Central (BC) tem dado mostras de desfaçatez inéditas no mercado financeiro – área em que os melhores se pautam por comportamento discreto e análises técnicas.

Por Luis Nassif, no Último Segundo

No final do ano passado, o Diretor de Política Monetária Mário Torós e o de Política Econômica Mário Mesquita cometeram a imprudência de, em pleno período de tensão do mercado com a crise, darem entrevistas em “off” – isto é, sem revelar o nome, com as declarações sendo atribuídas a “fontes do BC”- ameaçando se demitirem se a Fazenda adotasse determinadas medidas.

Foram desautorizados publicamente pelo presidente do BC, Henrique Meirelles. Mereciam uma denúncia à polícia, por ameaça de perturbação da ordem econômica.

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Agora, em mais um lance inacreditável, concederam ao jornal “Valor Econômico” entrevistas contando o que ocorreu com o mercado após a crise de outubro do ano passado.

Houve uma corrida bancária perigosa, que obrigou o BC a injetar bilhões de dólares na economia para conter, flexibilizar o compulsório dos bancos (a parcela dos depósitos que os bancos são obrigados a manter no BC), criar linhas emergenciais para permitir a bancos maiores adquirirem bancos menores.

Por pouco, não se desemboca em uma crise bancária cujo epicentro era a falta de informações sobre as empresas que tinham aplicado no mercado de “derivativos” (altamente especulativos). Sem saber o que ocorria, o crédito estancou. Grandes empresas, mesmo aquelas altamente sólidas – como a Petrobras – da noite para o dia tiveram que recorrer a operações emergenciais para manter a roda girando.

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Tudo isso ocorreu devido à profunda irresponsabilidade com que o governo Lula – no seu braço Banco Central – tratou da questão cambial.

Desde dezembro de 2007, aqui se alertava para a imprudência de permitir a valorização imprudente do Real; desde meados do primeiro semestre de 2008 alertava-se para a imprudência em dobro do BC estimular operações especulativas com o câmbio.

Tratava-se do “swap reverso”, uma operação em que em uma ponta ficava o BC e na outra grandes empresas exportadoras ou financeiras. Cada vez que o real valorizava, essas empresas perdiam dinheiro com exportações. Para compensá-las, o BC instituiu o tal “swap reverso”, um jogo de cartas marcadas que permitia às empresas lucrar no mercado financeiro com a valorização do real – com o BC pagando a conta.

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Os prejuízos do BC com essa jogatina chegaram a US$ 10 bilhões apenas em 2008. Em junho, alertei aqui que se houvesse qualquer crise que invertesse a mão do câmbio, explodiria uma crise sistêmica no mercado.

Foi o que ocorreu. De repente, as maiores empresas brasileiras viram-se encalacradas com essas jogadas. Como o BC não tinha controle sobre quem jogara e quanto jogara, o mercado inteiro parou. Levou meses para que houvesse uma estabilização no mercado.

O país foi salvo pela ação decisiva do Ministério da Fazenda e do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social). Nada ocorreu com os aventureiros do BC.