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Paulo Nogueira Batista Júnior: Crise levou Brasil ao G-20

O diretor-executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI), Paulo Nogueira Batista Júnior, destacou como resultado positivo para o Brasil após a crise, o fortalecimento do G-20 e a transformação do grupo em principal fórum de discussões econômicas e de fixação da agenda das instituições financeiras internacionais.

"A crise na verdade acelerou mudanças na governança mundial que viriam de qualquer forma, pois o peso dos países emergentes já vinha acontecendo. Para o Brasil foi ótimo, pois é a primeira vez na história que o País faz parte do principal grupo tomador de decisões do planeta", destacou.

As declarações foram dadas durante seminário realizado na terça-feira pelas comissões de Finanças e Tributação; e de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio para discutir os desdobramentos da crise financeira global. Paulo Nogueira Batista Júnior disse que ficou impressionado com o desempenho do Brasil diante da crise.

"Nunca imaginei que o Brasil conseguiria passar quase sem efeitos pela maior crise desde 1929 e ainda por cima emprestando dinheiro para o FMI. Logo nós que sempre fomos devedores hereditários", disse. O economista recomendou ainda que se tenha cuidado com o excesso de confiança para evitar que bolhas especulativas se desenvolvam, em questões como os juros e o câmbio valorizado do Real.

Câmbio e juros

O deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP) quis saber que melhorias podem ser feitas quanto às políticas cambial e de juros. Ele lembrou que Batista Júnior sempre foi um grande crítico da estratégia de juros adotada do Banco Central. O diretor do FMI respondeu que quanto ao câmbio, não vale a pena no momento tentar transformá-lo em câmbio fixo ou por bandas, como era no Brasil antes da crise econômica de 1999. Quanto aos juros, ele reiterou suas críticas aos juros altos que o País adotou ao longo da última década.

O representante da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, aplaudiu a forma com que o Brasil saiu da crise internacional. Ele ressaltou que a tendência para o próximo ano é ainda de uma recuperação anêmica da economia norte-americana e da queda do dólar em relação a moedas menos conversíveis, como o Real. "Essa fraqueza da economia deles deve manter o dólar a uma cotação barata por aqui", afirma.

Gomes acredita na tendência de aumento da valorização do Real frente ao dólar nos próximos meses. "Deveremos ter em 2010 um crescimento mais elevado que a média mundial, com uma inflação sob controle no curto prazo e também uma solvência fiscal, com crescimento da arrecadação e manutenção da posição do Brasil como credor externo", listou.

Entre os pontos positivos da economia no momento, Freitas Gomes lembrou que ainda há uma ociosidade da indústria, que vai permitir um aumento da produção sem pressão inflacionária. Já entre os pontos ruins, na opinião do dirigente, está a taxa de juros nacional, que apesar de estar baixa, sempre foi alta e existe o risco de voltar a subir nos próximos meses. "O crédito já está ficando mais caro. Se os juros fizerem o crédito ficar mais caro, isso poderá atrapalhar o nosso comércio e, consequentemente, a economia como um todo."

Alianças

Durante o debate, Paulo Nogueira Batista Júnior ainda destacou a atuação internacional da aliança dos Bric, grupo formado pelo Brasil, Rússia, Índia e China. "Esses quatro têm capacidade de atuação por si sós. Eles conseguem sustentar posições independentemente de terem outros apoios", explicou.

Outras alianças importantes seriam com países da América do Sul e com os Estados Unidos. Por outro lado, na opinião do economista, os principais adversários das economias emergentes hoje seriam os europeus. "Eles têm pouco mais que um quinto da economia mundial, mas controlam um terço dos votos do FMI e não querem abrir mão disso em benefício dos emergentes", afirmou.

Reforma do FMI

Sobre o FMI, Paulo Nogueira Batista Júnior destacou o Projeto de Decreto Legislativo 1791/09, que aprova a última reforma do fundo, realizada em 2008. O projeto está na pauta da Comissão de Finanças e Tributação e já tem parecer favorável do deputado Ricardo Barros (PP-PR).

O diretor explicou que o decreto vai confirmar a última reforma na composição do fundo, que ampliou em 2,5% a representação dos países emergentes entre os votantes do FMI. Na opinião do economista, a proposta precisa ser aprovada pelas duas Casas do Congresso para que o Brasil tenha mais argumentos diante das cobranças, principalmente dos europeus, contra uma nova reforma na composição de cotas do fundo, prevista para 2011.

A informação é da Agência Câmara