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Relatório do “apagão” confirma meteorologia adversa como causa

Um relatório inconcluso feito durante o dia de ontem por cerca de 70 técnicos de empresas e órgãos envolvidos com o blecaute ocorrido no sistema elétrico brasileiro na semana passada não esclareceu definitivamente as causas do evento, mantendo duas hipóteses, ambas decorrentes de condições meteorológicas desfavoráveis.

Diz o documento que as três linhas que ligam a hidrelétrica de Itaipu, no Paraná, ao Sudeste do país, foram desligadas simultaneamente na subestação de Itaberá (SP) ou por “descargas atmosféricas” (raios) ou pela perda de capacidade de isolamento de uma das linhas provocada por acúmulo de água da chuva nos isoladores.

As informações foram dadas no começo da noite de ontem pelo diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp. O ONS é o órgão encarregado de fazer funcionar o Sistema Interligado Nacional (SIN) de abastecimento elétrico e a reunião foi realizada na sua sede (centro do Rio). Chipp disse que o documento, denominado Relatório de Análise de Perturbação, estará concluído na sexta-feira ou, no máximo, na segunda-feira, para ser encaminhado ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) e, em seguida, à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), órgão fiscalizador do sistema.

Chipp disse que as conclusões a que se chegou até agora resultaram da análise dos registros feitos pelos equipamentos instalados nas principais subestações do SIN. Em linguagem bastante técnica, ele buscou explicar que o apagão, que atingiu 18 Estados e reduziu em mais de 52% a carga elétrica do país no dia 10 deste mês não tinha como ser evitado nas condições em que ocorreu, com intervalo de milésimos de segundo entre o desligamento de uma linha e outra.

Segundo os dados, um curto-circuito, provocado por raio ou por perda de capacidade de isolamento, desligou primeiro a fase B da linha nº 1 (cada linha tem três fases). Apenas 13,5 milésimos de segundo depois, houve outro curto na fase A da segunda linha e 3,2 milésimos de segundo depois, outro curto atingiu a terceira linha.

O desligamento da primeira linha, naquelas condições, pode ter causado sobrecarga nas demais, gerando o desligamento em cadeia. Chipp disse que de 2000 a 2009 foram registradas nove ocorrências triplas e dez duplas de curtos-circuitos nas mesmas linhas sem provocar blecautes porque, naqueles casos, houve intervalos de três a cinco segundos entre cada curto.

O diretor do ONS, assessorado por técnicos, disse que, nas condições em que ocorreu, o blecaute não tinha como ser evitado. Segundo ele, o desligamento de uma das linhas, para reduzir a carga por medida de segurança, feito às 13h31 da tarde do mesmo dia foi apoiado nas informações meteorológicas recebidas permanentemente do Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), acrescentando que as informações recebidas à noite não justificavam novos desligamentos, embora o tempo continuasse ruim. O blecaute começou às 22h13.

Segundo informações do setor, à tarde a chuva e o vento chegaram a caracterizar situação de ciclone na área de Foz do Iguaçu, o que não teria ocorrido à noite. Ante a insistência de jornalistas para saber se as informações meteorológicas recebidas pelo ONS poderiam ter subestimado a intensidade das chuvas, ventos e raios, Chipp, irritado, disse que a pergunta deveria ser feita aos órgãos meteorológico.

Ele mostrou também irritação quando foi lembrado de que o Inpe soltou um aviso de que as condições de tempo em Itaberá não eram ruins na hora do blecaute. “Acho que o Inpe deve cuidar das condições climáticas. Do efeito disso quem cuida somos nós. As consequências para o setor elétrico são da responsabilidade do setor elétrico.”

Chipp concordou que o fato das ocorrências terem acontecido perto da subestação de Itaberá, para onde as três linhas convergem, pode ter facilitado o blecaute, mas disse que seria antieconômico fazer uma outra linha (redundância) por outro caminho, como sugeriram especialistas. “É antieconômico construir um sistema para suportar esse tipo de contingência. Presido um grupo que congrega as 12 maiores operadoras de sistemas do mundo. Ninguém tem esse nível de redundância.”

A informação é de Chico Santos e Rafael Rosas, no jornal Valor Econômico