George Câmara: República, 1889 – 120 anos

No último dia 15 de novembro, domingo, celebramos 120 anos da Proclamação da República. Acontecimento histórico marcante no Brasil, que sepultou a moribunda monarquia, a nossa República surge também em meio a várias contradições. No final da década de 1880 a monarquia brasileira enfrentava uma situação de crise, na medida em que representava uma forma de governo que já não correspondia às exigências da nossa sociedade.

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Crise do modelo de organização político-administrativa e, sobretudo, crise de uma economia escravocrata de mais de três séculos, cujos ciclos produtivos estavam completamente subordinados ao mercado externo. Foi assim com o pau-brasil, com a cana-de-açúcar, com a borracha, com o ouro e com o café.

Nossa República chega com um século de atraso. Cem anos depois da Revolução Francesa, consagrando os ideais de igualdade, liberdade e fraternidade, o Brasil ainda estava às voltas com o problema da escravidão, em que um ser humano ainda era propriedade de outro. A mais absoluta negação da igualdade, da liberdade e da fraternidade.

Tal era o atraso de nossa sociedade, do ponto de vista dos valores humanitários, que um dos maiores impulsionadores da Campanha Abolicionista foi a crise de um modelo econômico insustentável pelas suas próprias contradições. Predomínio da agricultura mais atrasada, de baixa produtividade, a se confrontar com uma indústria nascente em consolidação nos países centrais. O ouro de nossas Minas Gerais financiou a Revolução Industrial inglesa.

A República surge de um golpe militar. Como superar um regime atrasado tipo a monarquia sem envolver as parcelas mais interessadas no avanço social, numa sociedade tão marcada pelas desigualdades? É a confirmação de que a elite brasileira, nos momentos de crise, sempre procura se antecipar para evitar as verdadeiras mudanças.

Repete-se o desfecho de 1822, na crise que levou ao Grito do Ipiranga, no contraditório episódio do fidalgo português que se transformou no “defensor perpétuo” do Brasil. Aconselhado pelo seu pai, Dom João VI, de volta a Portugal.

Passados esses cento e vinte anos, os ideais republicanos ainda são uma reivindicação do povo brasileiro. Muitas de nossas bandeiras de luta de hoje não são outra coisa senão bandeiras republicanas. Que somente serão atendidas através da luta do povo brasileiro.

Para se completar o ciclo da República em nosso país, é preciso colocar o Estado brasileiro em sintonia com o seu povo. Como afirma o Partido Comunista do Brasil em seu recente 12º Congresso, “a sociedade brasileira está a exigir um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento”, ideal eminentemente republicano. A proclamação da República, conduzida pelas elites, ficou devendo as reformas mais necessárias. Dívidas política, econômica e social que ainda perduram.

Nesse projeto, as reformas democráticas estão na ordem do dia: a reforma política de sentido progressista; a reforma tributária que exija dos mais ricos o financiamento do Estado; a reforma educacional que aponte para o desenvolvimento da plenitude do ser humano.

A reforma agrária que ponha fim à chaga do latifúndio; a reforma urbana que torne as cidades o lócus da qualidade de vida e da dignidade humana; a reforma da mídia, que assegure a democratização dos meios de comunicação; o fortalecimento do Sistema Único de Saúde, da seguridade social e da segurança pública.

Penso que dessa forma, através de sua luta, o povo brasileiro estará acertando as contas com essa vergonhosa dívida social. Republicanamente.
 

          George Câmara, petroleiro, advogado e vereador em Natal pelo PCdoB
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