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Luis Nassif: Porque o câmbio é fundamental

Vamos entender de forma simplificada o efeito câmbio sobre a economia brasileira.
Os personagens do jogo:

Por Luis Nassif, no Último Segundo

* Empresa Interna
* Empresa Externa
* Fornecedor Interno (que vende para a Empresa Interna)
* Fornecedor Externo
* Consumidor Interno (que é o trabalhador da Empresa Interna)
* Consumidor Externo

O que ocorre nesse universo quando a moeda nacional (o real) se valoriza em relação à moeda internacional (o dólar):

1. A Empresa Interna compra insumos do Fornecedor Interno e vende para o Consumidor Interno e para o Consumidor Externo.

2. Aí o dólar se desvaloriza e os produtos externos ficam mais baratos. Em um primeiro momento, a Empresa Interna passa a adquirir gradativamente insumos do Fornecedor Externo. Barateia seus produtos e melhora o poder aquisitivo do Consumidor Interno (porque os produtos vendidos ficam mais baratos). Melhorando o poder aquisitivo, o mercado interno cresce.

3. À medida que o dólar vai se desvalorizando, mais e mais a Empresa Interna aumentará sua compra do Fornecedor Externo. Com isso, o Fornecedor Interno vai reduzindo suas vendas e demitindo o Consumidor Interno.

4. Nesse segundo momento, a Empresa Interna terá cada vez mais dificuldades em vender para o Consumidor Externo, porque o dólar mais barato tornará seus produtos (cotados em reais) mais caros do que os concorrentes externos.

5. Internamente, a Empresa Interna aumentará cada vez mais a compra de insumos externos. No começo, alguns componentes; depois vai substituindo componentes mais complexos, fabricados no país, por produtos importados. Com isso, além de enfraquecer sua rede de Fornecedores Internos, precariza cada vez mais sua força de trabalho. A importação acaba substituindo o desenvolvimento interno. Com isso, os melhores empregos acabam sendo transferidos para os Fornecedores Externos.

6. No terceiro tempo, a Empresa Externa invade o mercado com produtos mais baratos. E a Empresa Interna demitirá mais e mais sua força de trabalho.

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Até agora se falou de empresas já instaladas e consolidadas no país. Mas com o dólar desvalorizado, torna-se extremamente difícil o aparecimento de empresas de conteúdo tecnológico – que são aquelas que geram os melhores empregos.
Japão, Coréia, China, seguiram um caminho único – que pareceu se abrir para o Brasil em 2003, quando houve uma maxidesvalorização cambial espontânea, que fugiu ao controle do Banco Central.

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Muitas pequenas empresas, com produtos com algum grau de tecnologia, entravam no mercado internacional graças ao preço mais barato – proporcionado pelo câmbio favorável. Esse processo ocorreu amplamente no Brasil em 2003.
À medida que as vendas fossem aumentando, as empresas cresceriam, ganhariam musculatura e passariam mais e mais a investir em pesquisa, inovação, a melhorar a qualidade de seus produtos. Foi esse mesmo procedimento que transformou a Sony, Toshiba, Toyota, LG, Samsung em multinacionais globais.

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As pequenas empresas brasileiras que arriscaram em 2003 foram varridas do mapa pela posterior apreciação do real. Quando o câmbio estiver no lugar certo, outras nascerão para retomar o caminho perdido.