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A pesquisa CNT/Sensus, o fator FHC e o fator Lula

Os dois gráficos que aparecem abaixo mostram uma maldade da 99ª pesquisa CNT/Sensus, divulgada nesta segunda-feira (23). A CNT (Confederação Nacional dos Transportes), presidida pelo ex-vice-governador de Aécio em 2003-2006, Clésio Andrade, dessa vez incluiu perguntas sobre a influência do ex-presidente FHC em 2010. E Clésio ainda comentou, implacável, ao mostrar os números, que "apoio ostensivo de Fernando Henrique está puxando Serra para baixo".

Por Bernardo Joffily

Observe os números. O gráfico de cima resume a "maldade" da CNT/Sensus: pela primeira vez, numa pré-eleitoral de 2010, a pesquisa quis saber o que o eleitor acharia de um candidato indicado pelo ex-presidente tucano. As fatias das respostas, sobre FHC e sobre Lula, estão representadas proporcionalmente.

O gráfico abaixo, também com dados da CMT/Sensus, mostra o "saldo" (número de avaliações 'bom' e 'ótimo' menos número de avaliações 'ruim' e 'péssimo') nos últimos quatro anos das administrações de cada um dos ocupantes do Alvorada.Observe que FHC só teve saldo positivo, modesto, em três das 43 pesquisas de 199 a 2002: as de fevereiro e abril de 2001 e a de junho de 2002.

Enquanto Lula teve saldos folgados e crescentes. O único momento de sufoco, sob o impacto das denúncias do "Mensalão", em novembro de 2005, ainda assim deu um número 2,1 pontos acima da linha de flutuação.

Não seria a primeira cama-de-gato intratucana

A parte que compara os governos FHC e Lula é tradicional na pesquisa CNT-Sensus. Nesta edição, 76% dos entrevistados consideraram o governo atual como melhor, contra… 10% que mostraram preferência pela gestão do tucano.

Porém a pergunta sobre a influência de uma indicação de FHC em 2010 é inédita. E não se exclui que tenha sido introduzida de caso pensado. Não seria a primeira nem a décima-primeira cama-de-gato intratucana na Disputa José Serra-Aécio Neves.

Como se os números não bastassem, Clésio ao apresentar a pesquisa colocou o dedo na ferida. "Serra está caindo devido ao apoio do FHC. Ele está muto ligado ao ex-presidente, que fala em seu nome e o coloca na mídia. Sem contar que ele foi ministro em seu governo", comentou.

"O apoio ostensivo de Fernando Henrique está puxando Serra para baixo", resumiu ainda o presidente da CNT. "Agora, se FHC atrapalha ou ajuda o Aécio, é difícil dizer", desconversou.

Punhaladas pelas costas em sequência

A aferição da impopularidade de FHC pelo Datafolha faz parte de uma sequência de punhaladas pelas costas entre as alas tucanas dos dois presidenciáveis e suas respectivas áreas de influência. Formalmente, os dois se apresentam como bons companheiros, mas por debaixo do pano a luta é encarniçada.

Ainda neste domingo (22), o jornal Folha de S.Paulo, engajado na pré-campanha do governador paulista, deu como manchete uma denúncia fria – Deputados usam empresas fantasmas – sobre o mau uso da verba indenizatória por parlamentares, cuja razão de ser foi deixar Aécio mal na foto. Afirma que "a verba indenizatória é criação de Aécio Neves", o qual "quando era presidente da Câmara, há quase uma década, encontrou uma forma engenhosa de dar aumento de salário aos deputados sem ficar com o desgaste por conta desse ato: inventou um benefício quase secreto e indireto". O texto traz o título Caixa Preta foi criada por Aécio Neves em 2001.

Isto para não falar de uma pérola mais impoluta, publicada no mês passado por um colunista do mesmo jornal, Juca Kfouri: sustentava de que Aécio ainda por cima bate na namorada.

FHC quer saber para onde vai

Em uma pesquisa onde todos os demais presidenciáveis ganharam alguns pontinhos, o interesse pelo presidente de honra do PSDB foi tão incômodo para Serra como a constatação de que em 12 meses ele perdeu 15 pontos na CNT-Sensus. Serra não quis comentar os números e o site nacional do PSDB manteve um silêncio gritante sobre a sondagem. Ambos preferiram o expediente de falar mal da visita do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad.

Quanto a Fernando Henrique, os dados da CNT/Sensus devem ter machucado sua vaidade, proverbial nos meios políticos, inclusive os do tucanato. Mas o ex-presidente faz política a frio. Sabe que o povão não gosta dele, resigna-se a nunca ser convidado a subir num palanque e joga no longo prazo, na esperança de que uma vitória tucana inicie um processo – difícil, demorado e incerto, de reabilitação.

Barrado nos palanques, FHC dedica-se à tarefa que lhe parece urgente, de dotar a causa da oposição a Lula de um discurso e uma plataforma. Seu artigo Para onde vamos? do dia 1º, denuncia um “autoritarismo popular”, baseado em laços entre o Estado e os sindicatos, os movimentos sociais, os fundos de pensão. Termina "dizendo que é mais do que tempo de dar um basta ao continuísmo antes que seja tarde".

O artigo parte de um preconceito social muito difundido nos círculos anti-Lula. Ao se referir ainda a um "subperonismo", arroga-se uma ambição de análise teórica que agrava e aprofunda seu conservadorismo.

Salva-se o título, que é uma boa pergunta. Para onde vão eles?

Se Serra mantiver um ritmo inalterado de perda de intenções de voto; se a força do fator Lula for a apresentada pela CNT/Sensus, se o discurso enfim encontrado pela oposição tiver como alvos o subperonismo e o presidente do Irã… Não dá para acreditar que irão muito longe.

Veja aqui o relatório completo da CNT-Sensus, em PDF
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