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Brasil “limpo” permitiria PIB maior, aponta estudo

A mudança climática terá um impacto sério na economia brasileira. Na melhor das hipóteses, a perda em 2050 será de R$ 719 bilhões e na pior, R$ 3,6 trilhões. A péssima notícia é que isto equivaleria a jogar fora um ano inteiro de crescimento nos próximos 40 anos. A notícia animadora é que a economia cresce mais no cenário ambientalmente limpo. Transporte coletivo e eficiência energética são vertentes que dão melhor retorno econômico do que a opção que emite mais gases-estufa.

As conclusões são do estudo “Economia da Mudança do Clima no Brasil: custos e oportunidades”, uma espécie de Relatório Stern brasileiro. O economista britânico Nicholas Stern, ex-economista chefe do Banco Mundial e consultor do governo apresentou, em 2006, os custos da mudança climática para o mundo. Os países deveriam investir 1% do PIB mundial para cortar emissões em 80%, em 2050, em comparação aos níveis atuais. Sem isto, o custo anual seria de 20% do PIB.

No caso brasileiro o desastre parece ser menor, mas é preciso ter cautela com este indicador. Segundo os dados do estudo que será lançado hoje, em Brasília, o impacto no PIB será de 0,5% no pior cenário (na definição do IPCC, o braço científico das Nações Unidas, seria um aumento de temperatura entre 1,4°C e 3,8°C em 2100) ou 2,3% no melhor (aumento de temperatura entre 2°C e 5,4°C). No trabalho brasileiro, as projeções climáticas alimentaram modelos de setores da economia para prever os efeitos da mudança.

O impacto menor que parece ser sentido pela economia brasileira tem a ver com os limites do estudo. Foram considerados apenas os comportamentos médios das variáveis climáticas. Eventos extremos, como secas e enchentes, tornados e tempestades, foram deixados de lado pela dificuldade de ter maior precisão sobre estes desastres. O problema é que é precisamente aí que ocorre a quebra de safras ou traumas sociais de grandes proporções. O trabalho alerta também que as consequências mais graves do aquecimento global serão sentidas após 2050 – justamente o ano-limite do relatório.

Mesmo com esta perspectiva mais conservadora, o trabalho confirma que as regiões mais vulneráveis à mudança do clima são a Amazônia e o Nordeste. Na Amazônia, se o aquecimento for de 7° C a 8 °C em 2100, prenuncia-se uma “savanização” de um bom pedaço de floresta – o clima mais quente reduziria a cobertura florestal em 40% no lado oriental.

No Nordeste, menos chuvas causariam perdas agrícolas em todos os Estados. Menos água reduziria em 25% a capacidade de produção de gado de pasto na região. A vazão dos rios em bacias do Nordeste, como a do Parnaíba, seria afetada. O estudo calcula redução de vazões impressionantes, de até 90% entre 2070 e 2100. “Perda de confiabilidade no sistema de geração de energia hidrelétrica”, diz o texto, com redução de 31,5% a 29,3% da energia que as usinas hidrelétricas efetivamente podem produzir. Os maiores impactos seriam no Norte e Nordeste – no Sul e Sudeste, os efeitos seriam mínimos neste tópico.

Na agricultura, confirma-se o estudo anterior da Embrapa e Unicamp. Com exceção da cana-de-açúcar, as outras culturas importantes perdem área de cultivo, especialmente soja, milho e café. O trabalho, feito por uma equipe multidisciplinar de institutos e universidades públicas e privadas (USP, Unicamp, Embrapa, INPE, COPPE/UFRJ. Fiocruz, IPEA e FIPE, entre outras) sugere alguns caminhos para que o Brasil se adapte às mudanças do clima. Modificações genéticas seriam alternativas para reduzir problemas agrícolas. Na lacuna energética, é preciso instalar capacidade extra, de preferência usando gás natural, bagaço de cana e energia eólica, a um custo próximo a US$ 50 bilhões.

“A mudança climática é um problema bastante relevante para a agenda de desenvolvimento do Brasil”, diz Sérgio Margulis, diretor técnico e coordenador do trabalho. A recomendação é que as políticas públicas incorporem a vertente climática nos setores de transportes, habitação, agricultura e indústria. Evidentemente, “estancar o desmatamento na Amazônia” é a sugestão fundamental. Segundo o trabalho, com preço médio de US$ 50 por tonelada de carbono, seria possível reduzir em 95% o desmatamento.

A informação é de Daniela Chiaretti, no jornal Valor Econômico