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 João Frazin: Kátia, senadora e grileira

O latifúndio é a pior espécie de propriedade: grande, improdutiva e quase sempre roubada. Antigamente, latifundiário disfarçava-se sob o nome de fazendeiro. Hoje, novos tempos, atende por ruralista.

Por João Frazin*, em Agência Sindical
 

Os ruralistas são uma classe ciosa de seus interesses e ruidosa na propagação de suas, digamos, ideias. Formam a maior bancada no Congresso Nacional, onde estão sempre dispostos a: 1) Obter perdão para dívidas junto ao governo; 2) Conseguir mais empréstimos e mamatas; 3) Abrir CPI contra o MST.

Durante anos, um dos buldogues ruralistas era Ronaldo Caiado. Mas, novos tempos, acabou substituído por uma figura menos troglodita, embora também raivosa em suas intervenções, a senadora Kátia Abreu, do DEM do Tocantins.

O Brasil não conhece bem essa senhora. Mas a revista Carta Capital nas bancas (número 573) vem ajudar nessa tarefa. Em reportagem de quatro páginas (por Leandro Fortes), a revista vai contando como, ajudado pelo próprio Estado, um grupo de ruralistas foi-se apossando das terras alheias. À própria Kátia coube uma big fazenda de 1,2 mil hectares, comprada na bacia das almas (em 1999) ao preço de meros R$ 8 mil o hectare (preço de um Gol velho).

Na matéria, fica-se conhecendo também a história dos lesados, especialmente do agricultor Juarez Vieira Reis, morador há décadas em uma gleba que hoje não lhe pertence mais. “Desgraçaram minha vida e da minha família, para deixar o mato tomar conta de tudo”, ele conta, dizendo também que sua antiga gleba não tem hoje um único pé de soja plantado.

Sou filho de pequenos agricultores (sítio de oito alqueires), sei o que é puxar enxada sob sol quente, curar bicheira de gado, esticar cerca de arame farpado debaixo de chuva e ter de vender a colheita a preços humilhantes (geralmente a um fazendeiro-atravessador) para poder pagar banco e sustentar a casa.

Não fico surpreso com matérias como esta da Carta sobre a senadora grileira. Fico apenas indignado e achando que Stalin, Mao e Fidel, lidando com quem lidaram, talvez não tenham exagerado nos métodos com que trataram os senhores da terra.

*João Franzin é jornalista e assessor sindical