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Ombudsman e leitores condenam Folha por 'estupro de Lula'

Em sua coluna semanal deste domingo (6), Carlos Eduardo Lins e Silva, o ombudsman da Folha de S.Paulo conclui que "não é positivo para o jornal" o saldo da controvérsia gerada pelo artigo de César Benjamin – acusando o presidente Lula de ter tentado estuprar um companheiro de cela quando esteve preso pela ditadura em 1980. Ele relata que 219 leitores lhe escreveram sobre o artigo e "só nove o elogiaram".

Por Bernardo Joffily

"Quando há acusação grave envolvida, o jornal deve ser especialmente cauteloso. Uma boa política editorial aconselha que mesmo em artigos seja feita uma checagem cuidadosa dos fatos relatados, sempre preservando a argumentação defendida pelo autor", opina Lins e Silva.

O ombudsman critica a Folha dos Frias por não "apresentar o depoimento dos outros personagens na mesma edição em que a análise de Benjamin foi publicada". Por não o ter feito "de modo suficiente", mesmo nas edições seguintes. Por ter dado apenas três parágrafos dispersos ao cineasta Silvio Tendler – a testemunha que ao que tudo indica fornece a interpretação verdadeira do episódio, "uma brincadeira" de Lula, que Benjamin "tenta transformar em drama". Por ter demorado a ouvir pessoas que estiveram presas com Lula em 1980, e sido furada pela concorrência ao se atrasar para ouvir a alegada vítima. E por não ter publicado, com destaque similar, um artigo que confrontasse Benjamin.

Afora o estilo algo melúfluo e ambíguo a que se obriga o ombudsman, talvez constrangido pela dubiedade de seu  cargo, o texto de Lins e Silva peca por não se rerir ao segundo artigo de Benjamin publicado pela Folha, na quinta-feira (2), o Por que agora?

Nele, César Benjamin diz que revelou a suposta tentativa de estupro, com 15 anos de atraso, por causa do filme Lula, o filho do Brasil. Acusa o presidentes, entre inumeráveis e inomináveis crimes bem piores que uma tentativa de estupro, de sequestrar o imaginário nacional. Termina dizendo que, se for verdade que "cometi um ato de imolação" com o primeiro artigo, "terá sido por uma boa causa".

É uma fraca defesa. Mas Benjamin já apanhou um bocado por seu golpe baixo. E não me somo aos que vaticinam que ele mudou de lado. Embora, no episódio, tenha evidentemente servido ao lado de lá, uma personalidade tortuosa não invalida um pensamento independente e fecundo como o de César Benjamin sobre o Brasil. Fico com a esperança de que, um dia, o pensador do Brasil triunfe sobre si mesmo.