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Com megaprojetos, NE ganha peso no BNDES

Dois grandes projetos industriais em construção em Suape, Pernambuco – a Refinaria Abreu e Lima e o Estaleiro Atlântico Sul – , vão alavancar os desembolsos do BNDES no Nordeste este ano. De janeiro a outubro, o banco liberou R$ 18,2 bilhões para apoiar projetos na região, valor equivalente a 17% dos desembolsos totais do banco no período.

Em dez anos – de 1999 a 2008 -, o Nordeste participou com 9,4% das liberações médias anuais do banco. Em 2009, o BNDES deverá desembolsar mais de R$ 20 bilhões em empréstimos para investimento na região, cerca de uma vez e meia mais que no ano passado.

A tendência é que o Nordeste termine 2009 com a mesma participação relativa nos desembolsos totais do banco verificada até outubro (17%). O crescimento será determinado, em grande medida, pelas liberações de financiamentos para esses dois grandes projetos. Só para o Atlântico Sul o BNDES contratou R$ 2,8 bilhões. Já para a refinaria Abreu e Lima o valor contratado com o banco é de R$ 9,9 bilhões. Esses valores são liberados em parcelas à medida em que o projeto é implantado.

A questão é saber o que vai acontecer depois da conclusão desses grandes projetos estruturantes. Em 2000 e em 2001, por exemplo, os desembolsos do banco para a região passaram de 12% e de 13%, respectivamente, parecendo que iriam mudar de nível. Nos anos seguintes, a curva voltou a ser declinante, até chegar a apenas 6,8% em 2004.

Na estratégia traçada no ano passado pelo BNDES para melhorar, de forma sustentada, a distribuição regional dos seus empréstimos, muito concentrados nas regiões Sudeste e Sul, já estava prevista a utilização do complexo industrial de Suape como piloto. O objetivo é desenvolver cadeias produtivas a partir dos grandes projetos que estão sendo desenvolvidos na região e tentar repetir a experiência em outros Estados, segundo as vocações de cada um.

Há uma tendência ao surgimento de um polo naval, com dois estaleiros grandes e dois menores, e um polo metalmecânico no entorno da refinaria e do estaleiro do complexo pernambucano. Há também um polo petroquímico, baseado em resina PET e em poliéster, crescendo no entorno de Suape. E outros empreendimentos devem surgir em Pernambuco e demais Estados do Nordeste.

A pergunta é se esses investimentos serão suficientes para manter ou ao menos aumentar a fatia histórica do Nordeste nos desembolsos totais do BNDES – um indicador da distribuição da riqueza por regiões.

Paulo Guimarães, chefe do departamento regional Nordeste do BNDES, diz que o objetivo é trabalhar com uma participação do Nordeste nos desembolsos totais do banco da ordem de 13%, que corresponde à fatia da região no PIB do país. “Se (a participação) ficar acima de 13% é importante, porque reflete o peso da região no PIB”, diz Guimarães.

O aumento para 13% ficaria em linha com a participação nordestina no PIB do país, mas ainda longe da fatia de 28% que a região tem na população brasileira. A economista Tania Bacelar, professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e diretora da Ceplan Consultoria Econômica e Planejamento, acha que se poderia “ousar um pouco mais”.

Ela concorda que um salto de grandes proporções não seria sustentável, mas sugere que uma participação de 20% seja tomada como alvo para a próxima década, ainda que o número possa ficar entre essa meta e os 13% propostos por Guimarães.

Ele diz que em um contexto de crescimento contínuo do orçamento do BNDES é importante que surjam novos grandes projetos de investimento. Guimarães afirma que existe um movimento para atrair fornecedores de bens e serviços para o estaleiro e para a refinaria, o projeto Suape Global, que vai ajudar a estruturar cadeias produtiva no local. Ele reconhece que há uma concentração de investimentos em Suape e nos Estados nordestinos maiores, mas diz que os desembolsos vêm crescendo em outros Estados da região.

Historicamente, Bahia, Pernambuco e Ceará concentram em torno de 80% dos financiamentos do BNDES ao Nordeste, com presença eventual mais ou menos forte de um ou outro Estado, dependendo de algum projeto específico. O que está acontecendo este ano é que Pernambuco, com 65,12% do total até outubro (R$ 11,85 bilhões) trocou de lugar com a Bahia, Estado que recebe historicamente em torno da metade das aplicações do banco na região e que este ano está com apenas 13,6%.

Com o aumento do total desembolsado para a região – o volume até outubro corresponde a 138,7% do total liberado em todo o ano de 2008-, cresceu a participação absoluta da maioria dos Estados nordestinos nos financiamentos do banco. Só Bahia (-1,15%) e Maranhão (-14,46%) estão com perdas de recursos na comparação com o mesmo período do ano passado, mas a configuração geral da distribuição dos empréstimos dentro da região permanece muito parecida com o desenho histórico.

A professora Tânia avalia que a existência de projetos de grande porte em vários Estados, como as refinarias da Petrobras no Maranhão e no Ceará, siderúrgicas da Vale e parceiros neste último Estado, a ferrovia Transnordestina que, segundo ela, “parece estar deslanchando”, além de vários projetos industriais e de distribuição na área de bens de consumo, sugerem que “há sustentabilidade” no crescimento do volume desembolsado pelo BNDES e também que há perspectivas de uma distribuição mais equitativa dos empréstimos pelo conjunto da região.

Para ela, uma conjugação de fatores está favorecendo o aumento dos empréstimos, tanto do BNDES como do próprio Banco do Nordeste do Brasil (BNB) para a região. Segundo ela, a preocupação da atual direção do BNDES em combater a histórica má distribuição dos seus recursos entre as regiões brasileiras encontrou terreno fértil no ciclo favorável da economia nordestina, em parte impulsionado pelas políticas de transferência de rendas, como o programa Bolsa Família.

Um exemplo, de acordo com a análise da economista, é o fato de os empréstimos do BNB terem saltado de R$ 300 milhões em 2002 para um montante que deve situar-se entre R$ 18 bilhões e R$ 20 bilhões este ano. “Os números mostram que a região tem projetos que justificam o crescimento das aplicações e facilitam a tarefa dos bancos (estatais) de aumentarem seus desembolsos”, analisou Tânia.

Guimarães, do BNDES, diz ser possível que em 2010 a participação do Nordeste nos desembolsos do banco ultrapasse a média histórica, situando-se em nível entre 11% e 13%. A previsão se apoia no fato de que há desembolsos financeiros para grandes projetos programados para o ano que vem. É o caso, por exemplo, da ferrovia Transnordestina, que tem contratados R$ 900 milhões no BNDES. Outro grande projeto financiado pelo banco na região é o Gasoduto Sudeste Nordeste (Gasene), com financiamentos contratados que somam R$ 6,2 bilhões.

Guimarães chamou a atenção para o crescimento no número de operações com micros, pequenas e médias empresas, o que demonstra que os financiamentos do banco também estão sendo pulverizados. De janeiro a outubro, o BNDES desembolsou R$ 1,8 bilhão em 27.177 operações para micros, pequenas e médias empresas nordestinas. O número de operações cresceu 111,2% em relação ao mesmo período de 2008, quando o BNDES desembolsou R$ 1,6 bilhão em 12.863 operações para micros, pequenos e médios empresários no Nordeste.

As informações são do jornal Valor Econômico