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Ricos especulam e compram terras agricultáveis

O motivo para a realização da "excursão turística" de Roma foi proporcionado pela corrida de preços, ano passado, do custo de alimentos básicos como o trigo e o arroz. A corrida foi iniciada pela galopante alta de custo de energia, o crescente aumento do uso de alimentos para produção de biocombustíveis, assim como os já tradicionais movimentos especulativos nos mercados de alimentos.

Por Mary Stassinákis, no Monitor Mercantil

A explosão dos preços fomentou conflitos em 60 países, assim como o início de apressada aquisição de terras cultiváveis pelos países ricos que cobrem suas necessidades de alimentos graças às importações. O "tema" assumiu a primeira posição na agenda política e, apesar do subsequente recuo dos preços, ninguém exclui o surgimento de nova corrida.

Voltando ao texto do comunicado final do encontro de Roma, os líderes incluíram a manifestação de sua pretensão de pedirem às organizações internacionais "que examinem provável relação entre a especulação e as mudanças nos preços dos produtos agrícolas".
Quanto aos biocombustíveis, cuja produção triplicou de 2000 até 2008 e dos quais o rápido crescimento até 2050, avalia-se, aumentará o número de crianças subnutridas em idade pré-escolar na África e na Ásia em 3 milhões e 1,7 milhão respectivamente. Assim, os líderes pediram "para que se realizem novos estudos para a viabilidade de sua produção".

Abismo se amplia

Conforme destacou o The New York Times, "a Reunião de Cúpula sublinhou o abismo de pontos de vista entre países ricos e pobres". O presidente de Mali, Amadu Tumani Toure, reconheceu: "Finalizando, concluímos que estamos indo embora com o estômago cheio de promessas, acreditando que achamos solução. E na próxima reunião de cúpula começaremos tudo de novo, do começo".

O International Policy Network, que atribui a responsabilidade pelo aumento da subnutrição às restrições comerciais, comenta que "até os verdadeiros motivos da fome e da insegurança dos alimentos sequer aparecem na agenda e muito menos no texto da declaração final".

Igualmente, "desapareceram", aliás, sete dos oito líderes do Grupo G-7+1, com exceção do anfitrião, Silvio Berlusconi. E anotem que, na Reunião de Cúpula, dos oito países mais ricos, realizada em julho aqui, na Itália, por iniciativa do presidente Barack Obama, os oito líderes haviam formulado compromisso de oferecer US$ 22 bilhões durante os próximos três anos, destinados ao desenvolvimento agrícola, em uma importante guinada para as estratégias de longo prazo, além de liberação de ajuda emergencial.

E como os líderes dos países ricos brilharam com sua ausência, o clima todo nos dias anteriores lembrava mais uma encontro de líderes de países da América Latina e da África.

Acordo forçado

A Reunião de Cúpula de Roma realizou-se à sombra da Reunião de Cúpula de Copenhague sobre as mudanças climáticas. O secretário-geral da ONU, Ban Ki Mun, atrelou os dois temas destacando que "não poderá existir segurança de alimentos sem a segurança de clima".

Mun convocou os líderes "para concluírem um acordo conciliatório que alicerçará um acordo legal de compromisso para a mudança climática" – e, caracteristicamente, concluiu: "Caso a temperatura aumente em mais de dois graus celsios, África, Ásia e América Latina terão sua produtividade agrícola reduzida em 20%-40%."

Em um lance "simbólico", pouco antes da abertura da Reunião de Cúpula de Roma, Jacques Diouff, diretor-geral da Organização de Alimentos e Agricultura (FAO), realizou uma greve de fome de 24 horas, declarando-se "compadecido dos milhões de famintos do mundo".

Diouff, em companhia do prefeito de Roma, Gianni Alemano, deveria comparecer a vários eventos paralelos de organizações não governamentais, com o slogan "Domínio do povo sobre os alimentos agora".