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Alon Feuerwerker: Rumo ao plebiscito

Escrevi semana passada que as dificuldades das oposições abrem a possibilidade de Dilma Rousseff ocupar uma fatia do potencial discurso oposicionista, apresentando-se como diferente do padrinho político dela, em certa medida. Ou na medida certa.

Alon Feuerwerker, no Blog do Alon*

Numa coincidência feliz (para o colunista), naquele mesmo dia a ministra-chefe da Casa Civil fez um movimento inédito, marcou a diferença entre a posição dela e a de Luiz Inácio Lula da Silva sobre Honduras. Ontem reforçou a estratégia, lembrando que ser o nome da continuidade não significa que um eventual governo Dilma será igual.

A candidata também deu suas cotoveladas, ainda que de leve, em quem insinua a tentação de aumentar os juros. Outra ampla avenida oposicionista à disposição dela. Registre-se que o maior combatente dos juros altos no governo Lula vem sendo o vice, José Alencar. Conte isso a alguém de fora e ele vai dizer que não somos um país normal. Talvez não sejamos mesmo.

Como o PSDB e o Democratas desistiram de fazer oposição programática, o movimento de Dilma é executado sem dar a sensação de recuo, sem perda de substância política, sem transmitir impressão de fraqueza. Tudo se dá naturalmente, como os sons saídos de uma orquestra bem afinada, comandada pelo maestro da República, Lula. A um sinal dele, o violino começa a executar o solo, enquanto a plateia assiste, embasbacada.

Ontem, mais uma pesquisa, desta vez do Ibope, mostrou Lula nas alturas. Mostrou também que as políticas de governo não vão tão bem quanto o presidente. O que vai prevalecer no final? A liderança de Lula? A necessidade de mudanças administrativas, novas ações na saúde, na educação, na segurança? Ou a satisfação com a economia vai se sobrepor, trazendo a prudência para o primeiro plano? “Melhor não mexer, já que está funcionando tão bem.”

A mesma pesquisa apontou oscilações dos pré-candidatos dentro da margem de erro. Outro dia, conversei com um político experiente das oposições, que fez uma observação curiosa sobre pesquisas a tanto tempo da eleição. “Todo mundo sabe que elas vão mudar no futuro, quando começar a propaganda, mas os políticos não têm outro instrumento objetivo para tomar decisões no presente”, disse.

Como os números reagirão ao início, para valer, da campanha? Como estará o eleitor na época em que efetivamente passar a se preocupar com o assunto? Pelo menos um dado parece certo. Lula vai atravessar 2010 fortíssimo, a não ser que haja uma surpresa. A hipótese no governismo é que na hora “h” o eleitor dará um voto de confiança ao presidente. A hipótese nas oposições é que o povo gosta de Lula, não de Dilma, nem do PT.

Daí as oposições acreditarem que podem levar o troféu e derrotar o PT mesmo com Lula nas alturas. Parece uma opção arriscada. Ou talvez o PSDB e o Democratas não tenham outra, e estejam a dourar a pílula. Mais provável é que alguma hora as oposições precisem enfrentar o presidente, nem que num segundo turno. Ainda que este aconteça já no primeiro. Como se diz no petismo, e com razão, será difícil os adversários escaparem do plebiscito.

Fonte: http://www.blogdoalon.com.br/