O discurso do Presidente em São Luís

Abaixo a íntegra do discurso oficial do presidente Lula durante visita às obras do Residencial Camboa, que fazem parte do PAC Rio Anil.

Olhem, uma coisa importante… Eu queria pedir licença, até para não precisar falar o nome das pessoas que estão aqui, porque vocês já conhecem: o Prefeito, o Vice-Governador, o senador Lobão, o Deputado, o Secretário, a Governadora.
Mas eu queria dizer uma coisa para vocês. Olha, eu entrei ali, na casa do companheiro Valdeci e da companheira Cremildes e eu vi o orgulho dele e o orgulho dela. É uma casa modesta, mas é uma casa em um lugar digno, em que, da janela dele, ele vê uma quadra em que o filho dele pode praticar esportes, ele vê um lugar para os filhos deles poderem brincar, sem correr risco de estarem na rua.
Eu digo sempre, Roseana, digo sempre, Dilma, que a primeira casa que eu comprei tinha 33 m2 . Essa tem 42, portanto, tem 10 metros a mais do que a casa que eu tive uma vez. Eu brincava comigo mesmo, eu dizia que quando eu entrava no quarto a Marisa tinha que sair; quando a gente colocava a geladeira, tinha que tirar o fogão. Eu brincava comigo mesmo.
Mas esta casa, a orientação que nós demos ao Ministério das Cidades e à Caixa Econômica é a gente fazer a casa um pouquinho mais decente, na medida que caiba no orçamento das pessoas, porque as pessoas também vão pagar uma prestação muito pequena, sobretudo quem ganha de zero a três salários mínimos, que é o público preferencial do Programa Minha Casa, Minha Vida. É o maior programa habitacional já feito na história do Brasil. É uma coisa tão importante, Prefeito e Governadora, que eu detectei que os empresários brasileiros não estavam preparados para a quantidade de casas que nós encomendamos.
Quando eu chamei a ministra Dilma, e chamei o ministro Guido Mantega, da Fazenda, para dizer para eles que eu queria fazer um grande programa habitacional, a primeira reunião que nós fizemos foi com os empresários de São Paulo, para perguntar para eles qual era a capacidade de construção que eles tinham. Eles nos falaram que poderiam construir 200 mil casas. E eu falei: Duzentas mil casas não é um programa. Nós precisamos fazer muito mais, durante vários anos, para que a gente pague uma dívida com os mais pobres deste país, que o governo brasileiro deve há décadas e há décadas.
Então, nós fizemos um programa, e anunciamos um milhão. Agora, não é fácil, entre anunciar e acontecer a casa, leva tempo. Eu descobri uma coisa muito engraçada – a Dilma estava em uma reunião comigo – eu descobri que em uma casa pequenininha a pessoa pagava, de seguro da casa, o que ela pagava de prestação. Ora, qual é a lógica de a pessoa pagar de seguro o que paga de prestação? Então, nós, praticamente, acabamos com o seguro para o programa Minha Casa, Minha Vida, para as pessoas poderem ter a casa mais barata possível, e pagar uma taxa simbólica.
Depois nós descobrimos que a própria Caixa Econômica não estava preparada para receber o montante de casas que nós queríamos fazer. Por que não estava preparada? Porque durante 25 anos a construção civil, sobretudo na área da habitação, praticamente ficou estagnada. Não havia pedidos muito grandes. É só vocês pegarem o índice de construção de casas no Brasil e vocês vão perceber que teve um período em que caiu muito a construção de casas. Então, a Caixa não estava preparada. Nós levamos um tempo para contratar mais engenheiros, para contratar mais técnicos, para poder analisar os projetos que os empresários apresentavam dentro da Caixa Econômica.
Ontem à noite nós ficamos sabendo que a Caixa Econômica já tem 580 mil casas lá dentro, para serem analisadas pela Caixa. Se tudo der certo, até o meio do ano que vem a gente vai estar com 1 milhão dentro da Caixa, e vai estar com pelo menos metade disso contratada. Por que é importante isso? Duas coisas são importantes. Primeiro, porque o povo começa a perceber que vai poder ter sua casa. Segundo, o governo nunca mais vai poder diminuir o número de casas que nós estamos fazendo. Se nós podemos fazer 1 milhão de casas em dois anos, significa que quem vier governar o Brasil vai ter que contratar mais 1 milhão de casas, depois mais 1 milhão de casas, até que a gente resolva o problema habitacional no Brasil.
Mas esse programa tem uma coisa que a gente já tinha discutido no PAC. Eu, desde 1987, eu participei pela primeira vez de uma reunião aqui, numa palafita do Maranhão. Depois eu fui à palafita em Salvador, depois eu fui à palafita em Recife. E eu sempre achei: não há nada mais degradante do que uma pessoa morar em um quarto de 3 metros quadrados, numa palafita, onde ali, dentro daquele quarto, ela faz suas necessidades, ali ela dorme com o marido e com a família, ali ela cozinha. E quando ela olha para baixo, ela vê um mangue e vê lama fedida, com o que ela tem que conviver 24 horas por dia. Então, a ordem para o PAC era a seguinte: vamos ter que acabar com as palafitas neste país. Vamos tirar as pessoas, para morarem em um lugar digno.
Pois bem, vocês estão vendo que a qualidade do prédio é uma qualidade razoável, bonita. Vai passar uma avenida aqui na frente. Vai valorizar o prédio de vocês, vai valorizar porque aí vai passar transporte, aí outras empresas vão querer vir fazer investimento aqui. E eu sei que depois da casa, depois da televisão, depois do computador, depois do carro… Vocês, primeiramente, querem um emprego, porque é o emprego que vai permitir vocês comprarem todas essas coisas que vocês querem.
É por isso que nós resolvemos fazer uma mudança na matriz de desenvolvimento do Brasil. Ou seja, em vez de o Brasil continuar crescendo apenas no eixo Rio-São Paulo, nós resolvemos fazer com que o Brasil crescesse no Norte e no Nordeste brasileiro.
É por isso que vocês vão ver o que vai acontecer aqui no Maranhão, a partir de janeiro do ano que vem, fevereiro ou março. Na hora em que começar a terraplanagem da refinaria da Petrobrás que a gente vai fazer aqui no Maranhão, vocês vão ver a quantidade de máquinas e a quantidade de trabalhadores trabalhando aqui no estado do Maranhão.
E o mais importante é que vai ser uma das maiores refinarias do mundo. Só para vocês terem ideia, a maior refinaria que nós temos hoje é a refinaria de Paulínia, em Campinas. Ela refina o equivalente a 200 mil barris/dia, 200 mil barris de petróleo/dia. Essa do Maranhão vai refinar 600 mil barris/dia. Essa refinaria, só para ela ser construída, nós vamos investir R$ 40 bilhões. R$ 40 bilhões é tanto dinheiro, que não dá nem para imaginar o montante que eu estou falando. É pelo menos umas mil vezes a lotérica, quando ela está carregada, que ganha um cara só.
E isso vai gerar desenvolvimento para o Maranhão, porque atrás da refinaria virão outras empresas, e eu sei que o Maranhão precisa gerar emprego para essa meninada que está com dezoito ou dezenove anos, que tem que trabalhar, para essas meninas que estão com dezesseis ou dezessete anos, para trabalhar.
Portanto, eu virei aqui em janeiro. Marquem bem a data: dia 15 de janeiro – é uma quarta-feira, me parece que dia 15 de janeiro é uma quarta-feira – na sexta-feira, portanto, se quarta-feira é [dia] 15, quinta é [dia] 16, sexta é [dia] 17. Na sexta feira, ou dia 17 ou dia 18, nós vamos vir aqui para começar a terraplanagem na refinaria aqui no Maranhão, e aí vocês vão ver o bicho pegar aqui no Maranhão. Vocês vão ver, o bicho vai pegar aqui no Maranhão.
Eu acho que entre a construção dessa empresa terraplanagem…é importante lembrar que vai gerar mais de 100 mil empregos aqui no Maranhão. Portanto, vai ter oportunidade de trabalho para muita gente aqui. E é por isso que nós resolvemos fazer aqui cinco escolas técnicas, treze… Não, cinco novas… Treze. Doze ou treze? Treze novas. E por que fazer escolas técnicas? Para pegar essas meninas que estão com 14 anos e 15 anos e formá-las profissionalmente, para elas virarem mão de obra qualificada e, quando arrumarem emprego vão ganhar, em vez de um salário mínimo, ganhar quatro, ganhar cinco, ganhar seis salários mínimos e poder ajudar a cuidar da família. Porque esse será o futuro do País.
Portanto, minhas queridas companheiras e companheiros, é com uma alegria imensa que eu estou aqui. Já estou atrasado uma hora e meia. Eu cheguei atrasado, porque eu tive que falar com o Primeiro-Ministro da China, e eu e ele tínhamos dificuldade, porque ele não me entendia e eu não entendia ele. E aí nós ficamos lá, bem uns quarenta minutos, nos acertando, para a gente poder falar, porque nós vamos juntos agora para Copenhague, vamos nos encontrar.
Mas eu queria dizer para vocês o seguinte: podem ficar certos, a vida do povo do Nordeste e a vida do povo pobre deste país não voltará a ser a desgraça que era há algum tempo, não voltará. Acho que o País aprendeu uma lição: de que o pobre não pode ter valor apenas na época da eleição, o pobre tem que ser respeitado 24 horas por dia, durante 365 dias por ano e durante a vida inteira. Porque na época de eleição, as pessoas gostam muito de pobre e falam mal de rico. Mas, depois, governam para os ricos e desprezam os pobres.
Agora, a coisa inverteu. A coisa inverteu, este país aprendeu, este país aprendeu, e eu estou vendo na cara de vocês a alegria de quem está percebendo que está muito mais perto de a gente conquistar a felicidade do que voltar à desgraça anterior que a gente tinha neste país.
Por isso, queridos companheiros, um grande abraço. Que Deus abençoe todos vocês, e até a próxima inauguração de novos apartamentos.
(fonte Imirante)