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Ricos regateiam em Copenhague e Caribe pede socorro

Ao fim de duas jornadas de trabalho, a Conferência da ONU sobre a Mudança Climática (COP-15) viu hoje o sabor amargo do regateio dos países ricos, enquanto áreas como o Caribe gritam por socorro.

Por Susana Ugarte Soler, para a agência Prensa Latina

Um esboço de documento assinado pelos anfitriões dinamarqueses e que circulou na última terça-feira desatou a indignação de todos os países em desenvolvimento. Que deixar, então, para as pequenas ilhas do Caribe?

Segundo a ONU e o Fundo Mundial para a Natureza (WWF), as numerosas nações e estados insulares no Pacífico, Mediterrâneo, no Índico e no Caribe correm o risco de ficar submersos com o aumento do nível das águas oceânicas, por causa dos efeitos da mudança climática.

Entre outros impactos, também podem ocorrer, segundo a WWF, "a acidulação dos mares" que, devido a uma maior presença de dióxido de carbono, acaba "com os corais e ameaça as reservas de pesca" e o ecossistema marinho em geral, isto é, perderiam uma fonte básica de alimentação e sustento.

Em uma espécie de ataque por ar e mar, além da elevação dos oceanos, os caribenhos conhecem muito de perto a ação destrutiva dos furacões, agora exagerados pelo aquecimento global.

A região sentiu nos últimos anos, com especial crueldade, o poder demolidor desses fenômenos naturais.

Por causa do furacão Ivan, Granada, uma pequena ilha anglófona com cerca de 80 mil habitantes, teve em 2004 danos avaliados em US$ 889 milhões, o que equivale ao dobro do seu Produto Interno Bruto (PIB) do ano anterior.

Os furacões Gustav e Ike provocaram perdas em Cuba estimadas em US$ 10 bilhões, com a destruição, em setembro de 2008, de mais de 63 mil moradias e a devastação de cerca de 100 mil hectares de áreas cultivadas.

O cenário foi pior no Haiti, assolada na mesma época pelos dois furacões e por mais um, o Hanna, resultando em mais de 300 vítimas fatais e em um milhão de pessoas afetadas pelas tempestades.

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Haiti precisava então de pelo menos US$ 108 milhões de ajuda urgente.

A realidade é somente uma, as duas dezenas de nações insulares do Caribe e seus 40 milhões de habitantes enfrentam perigos iminentes.

As ilhas menores e de menor elevação podem desaparecer ao submergir sob niveis mais elevados do mar, enquanto todas pagam custos altos por ciclones cada vez mais intensos.

Tais impactos devastadores ocorrerão apesar de as nações caribenhas terem pouco contribuído com a emissão dos gases de efeito estufa, que provocam o aquecimento global.

Para ilustrar a questão, basta assinalar que em 2005, as ocorrências geradas por furacões no turismo e nas infraestruturas chegaram a 5,3% do valor do PIB e em 2050 chegarão a 10,3%.

O vazamento da proposta da presidência dinamarquesa explodiu nos frescos salões da COP-15 para gerar um forte repúdio das nações em desenvolvimento.

O documento em questão não fazia nenhuma referência ao Protocolo de Quioto, único instrumento jurídico que existe atualmente para lutar contra o aquecimento e ao qual os países em desenvolvimento tem apego especial, porque impõe obrigações aos países ricos, ao mesmo tempo que protege os países pobres.

Dos mais de US$ 200 bilhões estimados, inclusive por economistas do Banco Mundial, como uma assistência possível até 2020 às nações em desenvolvimento para contrabalançar a tormenta climática, o documento estima apenas US$ 10 bilhões de ajuda.

Soltando ainda mais faíscas, o esboço da Dinamarca recomenda um teto máximo de emissões para nações em desenvolvimento — no entanto sem precisar um número — algo que Brasil, Índia, China e África do Sul já tinham recusado de forma firme e coletiva em uma renião no fim de novembro, em Pequim.

Porta-vozes de organizações não governamentais declararam que "Há uma sensação de que algo deve ser feito agora, mas que não se pode aceitar, pelo motivo da urgência, uma chantagem onde nos seja imposto um acordo ruim, no qual não se reconhecem as desigualdades no tema da mudança climática".