"O passado ainda dói", diz filha de Allende, eleita senadora
A filha do presidente chileno, Salvador Allende, deposto por Augusto Pinochet em 1973, Isabel Allende Bussi, diz que o passado não está superado no país, como sustenta a direita. Isabel foi eleita senadora pela coalizão de centro-esquerda Concertação no domingo. Em declarações, ela avaliou o bom desempenho da direita na eleição.
Publicado 15/12/2009 11:28
"Houve um avanço relativo", disse. "É a primeira vez que eles (a direita) obtêm mais votos no primeiro turno. Mas Sebastián Piñera teve menos votos do que nas últimas eleições (no segundo turno de 2005, ele teve 47% dos votos). Eu estou confiante que as pessoas que nos apoiaram em algum momento e deixaram a Concertação nos apoiarão no segundo turno para não deixar a direita vencer."
Ela contesta a visão de Piñera, segundo a qual o país deve esquecer as feridas da ditadura. "Piñera diz isso porque precisa, mas a pergunta é se conseguiria dizer o mesmo olhando nos olhos de parentes de desaparecidos que ainda não sabem onde estão seus entes queridos. O passado é indispensável. Os povos não têm futuro se não são capazes de olhar para o seu passado, ter memória. Piñera não quer que a população se dê conta de que aqueles que o rodeiam são pessoas que apoiaram o golpe, que foram funcionários da ditadura quando se assassinou, se sequestrou, se degolou no Chile", coloca.
"Poucos na direita fizeram uma verdadeira auto-crítica", afirma Isabel. "Poucos foram capazes de dizer 'erramos por causa das atrozes violações aos direitos humanos'. Piñera sim, mas os que estão ao seu lado não. Eles nunca foram capazes de pedir perdão. Nem de dizer que nunca mais no Chile ocorrerá algo parecido."
Isabel reconhece que a Concertação cometeu erros na campanha: "Sempre houve boas intenções (no governo da Concertação), mas isso nem sempre se traduziu em eficiência. Por exemplo, a região pela qual eu fui eleita senadora deu muita riqueza ao país e recebeu muito pouco. Há graves problemas nas áreas de saúde e educação."
Ela pretende levar adiante os ideais do pai. "Em qualquer lugar do planeta onde há injustiça social é importante o pensamento de Allende. A razão de sua vida foi lutar pelos que tinham menos."Isabel foi eleita pelo Atacama, uma região muito allendista. "O legado de Allende está vivo na memória do povo", diz.
Fonte: O Estado de S.Paulo