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Nobel de Economia: Brasil precisa de políticas sociais infantis

O Brasil deveria implantar uma rede de atenção ao desenvolvimento infantil que cubra a maioria da população para atacar o problema da desigualdade educacional criada nos primeiros anos de vida. Esse foi um ponto de concordância durante uma troca de ideias entre James Heckman, prêmio Nobel de Economia de 2000, e o economista Ricardo Paes de Barros, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), considerado o mais importante pesquisador brasileiro de política social.

Heckman, que ganhou seu Nobel pelo desenvolvimento de ferramentas de avaliação de políticas sociais, foi o principal convidado da homenagem organizada pela Sociedade Brasileira de Econometria (SBE) e pelo Ibmec para comemorar os 55 anos de Paes de Barros. Os dois conviveram academicamente na Universidade de Chicago e em Yale. Nos últimos anos, Heckman tornou-se um grande defensor dos programas de desenvolvimento infantil nos primeiros anos de vida, como a melhor ferramenta para corrigir desigualdades e promover o desenvolvimento social.

Ele explica que, quando chegam à idade escolar aos 7 anos, crianças oriundas de famílias carentes e de classe média já apresentam uma defasagem na capacidade de aprendizado que tende a se manter pelo resto da vida estudantil, com reflexos no futuro desempenho no mercado de trabalho ou na probabilidade de envolvimento com crime.

Diversos programas americanos de apoio intensivo a crianças de famílias carentes, que tiveram posterior avaliação ao longo do tempo, mostram que esse tipo de intervenção pode ampliar a inteligência de forma definitiva apenas quando é feita até os 3 anos. Pode também influenciar as chamadas habilidades não cognitivas (perseverança, disciplina, motivação, capacidade de relacionamento) até fases mais tardias do desenvolvimento infantil.
Atualmente, Heckman vem dando grande ênfase a essas habilidades não cognitivas, que, para ele, são decisivas no futuro desempenho escolar e profissional, e também na redução da probabilidade de envolvimento com o crime. "A metade da variação para melhor que vimos nas crianças que participaram do Percy Preschool Program (um dos mais famosos programas americanos de apoio intensivo a crianças de famílias carentes em idade pré-escolar) deveu-se ao desenvolvimento das habilidades sociais e emocionais", disse.

No caso do Brasil, Heckman e Paes de Barros concordaram que um acompanhamento universal, que ensine pais de famílias carentes a cuidar melhor do desenvolvimento mental dos seus filhos, deveria ser o primeiro passo para a seleção de crianças a serem atendidas de forma mais focalizada por uma rede de creches de alto nível. Nesta quinta e sexta-feira (17 e 18), na Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio, Heckman participa de um encontro sobre desenvolvimento infantil em idade pré-escolar, com a participação de vários especialistas internacionais.

A informação é da Agência Estado