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The Independent pode ser vendido a ex-agente da KGB

Depois de ter adquirido por apenas uma libra o Evening Standard – e ter assumido as dívidas do centenário tablóide londrino – o ex-oficial da KGB e oligarca Alexander Lebedev poderá comprar o respeitado diário The Independent. A empresa Independent News & Media (INM), proprietária do título The Independent, confirmou que vem discutindo com o milionário russo a venda de seus jornais. O milionário russo assinou um acordo de exclusividade com o grupo INM, válido até 15 de fevereiro.

As ações da INM listadas na bolsa de valores de Dublin já subiram 7% depois de anunciadas as conversações. Apesar da euforia, o grupo INM enfatizou a que conversas ainda estavam em uma fase inicial e 'sujeito às cautelas que este tipo de negociação exigem'. 'Não há nenhuma certeza da que as discussões resultarão na venda', alertou o grupo INM em comunicado divulgado na edição de 27 de dezembro de seu principal jornal.

As discussões sobre a venda reacenderam depois que o grupo INM anunciou a necessidade urgente de reestruturar sua enorme dívida. A dificuldade de colocar em prática as estratégias para negociar com credores e a crise econômica que afeta a economia britãnica empurraram o grupo para a última opção, a venda do controle acionário.

Um ata de reunião do grupo INM, divulgada em seu portal institucional, revela o conteúdo de uma reunião realizada em Dublin em novembro passado. A reestruturação visa reduzir significativamente o peso da dívida, estimada em torno de 350 milhões de euros em 2009, para dar ao grupo estabilidade a financeira necessária e liquidez para buscar a recuperação econômica de seus principais 'ativos de mídia'.

Caso a venda se concretize, a segunda aquisição de Lebedev será suficiente para agitar o morno mercado da mídia londrina. É fácil prever que Lebedev unirá o centro de produção e impressão do Evening Standard com os títulos ligados ao The Independent, com uma logística de distribuição mais econômica, uma vez que os títulos do INM já compartilham os mesmos escritórios. O russo também teria um papel mais destacado na Associated Newspapers, entidade que reúne os proprietários de jornais britânicos.

Grupo INM, presente em 22 países

Cerca de 90 postos de trabalho foram cortados na rede de jornais do INM em 2009, para cumprir um plano de corte de custos exigido pelos acionistas. O INM está presente em quatro continentes atuando em 10 mercados principais e com área de abrangência que atinge 22 países. A circulação semanal somada de seus jornais alcançam mais de 32 milhões de exemplares, com uma audiência semanal de mais de 100 milhões de consumidores.

Na Irlanda e Reino Unido, o grupo INM possui 21 títulos de jornais. O grupo mantém ainda oito sites de publicações de classificados na Inglaterra, jornais e emissoras na Austrália (10 publicações, 13 emissoras de rádio e cinco portais de classificados e de empregos), Nova Zelândia (15 veículos, um site de busca e uma rede de rádio), África do Sul (32 títulos e um portal de internet) e Índia (dois jornais e um portal no idioma hindi).

O portal do Independent News & Media (INM) informa também que o grupo possui nove empresas de publicidade exterior (outdoor e anúncios em taxis), sendo oito na Austrália e uma na Ìndia. O grupo também presta serviços de impressão na Inglaterra, Irlanda, África do Sul e Austrália. Na Inglaterra e Irlanda do Norte, o grupo presta serviços de distribuição de jornais, aproveitando a logíustica montada para seus 21 títulos. Em todos os países onde atua, o grupo também edita revistas segmentadas e regionais.

As atividades on-line dos veículos do INM é destaca, com mais de 100 websites de notícias, classificados e e-commerce
locais. A rede de emissoras na Austrália opera mais de 130 estações de rádio. As empresas de propaganda ao ar livre atuam nos mercados da Australáia, Hong Kong, Malásia, Índia, Indonésia e África do Sul.

O INM Group emprega aproximadamente 8.700 pessoas. O grupo anunciou um plano de corte de custos operacionais de 91 milhões de Euros para 2010.

Credibilidade

Mas o que chama mais atenção na negociação é o futuro do conceituado The Independent, chamado carinhosamente por seus leitore de Indie, e de sua concorrida edição de domingo, apelidada de Sindie, que já são alvos de especulações deste meados do ano passado, quando a queda nas receitas de publicidade tornou-se mais acentuada. Lançado em 1986, o The Independent é um dos grandes títulos da imprensa britânica de qualidade. Distingue-se dos concorrentes pelo seu posicionamento pró-europeu. Conta com, entre outros, o renomado repórter Robert Fisk, conhecido pelas suas veementes críticas em relação à política anglo-americana no Oriente Médio, e cronistas como Dominic Lawson, ex-ministro de Margaret Thatcher.

Desde o início da década de 1980, em pleno governo da Dama de Ferro (Margaret Thatcher), a equipe do The Independent apostou manter um diário não filiado em nenhuma das duas grandes correntes políticas britânicas. Com isso, o jornal distinguiu-se pelo tom inovador e aberto à cobertura de grandes temas não abordados pela impfrensa britãnica.

O premiado jornalista inglês Robert Fisk, correspondente no Oriente Médio, é a ''cara'' do The Independent. Fisk vive em Beirute, onde mora há mais de 25 anos. Trabahou como correspondente internacional do Times na Irlanda e em Portugal.

Em 1976, foi convidado por seu editor no Times para ser o correspondente do jornal no Oriente Médio. Fisk trabalhou para o The Times até 1988, quando se transferiu para o The Independent – após uma discussão com seus editores sobre a modificação de seus artigos, sem seu consentimento. A discussão se tornou pública, deixando a impressão de uma certa censura, e Fisk assegura que, até hoje, seus textos são publicados sem qualquer alteração The Independent – o que seria uma característica apreciada pelos jornalistas britãnicos, cansados das alterações de estidos feitas pelos ''copydesks'' e editores.

''Durante o ano eu tenho que arriscar minha vida debaixo de fogo de artilharia e eu não faria o que faço ainda se eu não soubesse que o que eu escrevi irá para as páginas do jornal da forma como eu escrevo, e tenho de saber que meu editor me defenderá contra todos os embaixadores, contra todas as instituições, contra todos lobistas, ciente de que eu arriscarei minha vida para fazer o meu trabalho'', afirma o jornalista de 63 anos, em depoimento divulgado no portal institucional do INM. ''Eu trabalhei em outros jornais, eu senti pressões editoriais e eu deixei tudo para eles. Do The Independent eu não sairia por isso''.

Apesar de ter conquistado um considerável sucesso editorial, o The Independent continua, no entanto, com a menor circulação dos diários nacionais de qualidade. mesmo sem ostentar afiliação política, é considerado, na prática, um jornal afinado com as ideias do partido liberal britânico (Liberal Democrats).

Nos jornais, a origem do INM

As origens de INM remontam ao início do século 20, na Irlanda, onde uma rede de jornais independentes foram fundados por William Martin Murphy em Dublin em 1904.

A empresa teve início com um diário matutino, com ênfase em uma política editorial independente. O sucesso do primeiro jornal ewncorajou a empresa a lançar mais dois títulos, uma edição noturna e um título de domingo. Nas décadas seguintes, a companhia se tornaria a principal editora de jornais do mercado irlandês e, nos anos sessenta, passou a editar jornais regionais em diferentes pontos da Irlanda.

Em 1973, Anthony O'Reilly comprou a companhia do acionista principal da família Murphy, que ainda segurou uma participação minoritária. Sob a direção de O'Reilly, a companhia expandiu-se em busca de novos mercados. O grupo fundou jornais e emissoras de rádio na Austrália, Nova Zelândia e África do Sul.

Índia

O Jagran Prakashan Limited (JPL), pertencente ao INM, é um dos principais grupos de mídia da Índia, onde publica o Dainik Jagran, jornal de maior índice de leitura dpo País, com de 56,6 milhões de leitores. O jornal foi considerado, em recente pesquisa da Globscan, como o mais confiável da Índia.

Fundado em 1942, o Dainik Jagran foi criado por um líder do movimento de independência da Índia, Late Shri Puran Chandra Gupta. O jornal é publicado atualmente em 37 edições, produzidas em 11 estados e impressas em 30 gráficas diferentes espalçhadas pela Índia.

O JPL é proprietário do maior portal de internet da Índica – Jagran.com – e é o parceiro local do Yahoo!. A associação com o Yahoo! tornou o Jagran.com o portal de de idioma hindi do mundo.

Além disso, a JPL investe em informação móvel e conteúdo online, fornecendo notícias para as principais operadores de celulares e dispositivos móveis da Índia. O portal www.jagran.yahoo.in lançou um portal de classificados, www.khojle.com, que permite aos anunciantes localizar o público-alvo de forma revolucionária, com a internet integrada à plataforma de SMS.

O INM tem 20% (o máximo atualmente permissível para investidores estrangeiros) das ações da Rádio Mantra. Lançada em 2007, a Rádio Mantra opera em oito cidades e tem planos para criar novas emissoras, criando uma rede na Índia.

Midia e poder

Lebedev se tornou o primeiro oligarca russo a possuir um título de jornal britânico ao adquirir o Evening Standard. O movimento foi sentido pelos elitistas barões da mídia britãnicos, que procuraram minimizar a possível expansão do milionário, sob o argumento de que o diário londrino por ele adquirido, além de deficitário, estaria 'decadente' e não representaria uma concorrência significativa.

Mas agora, com a possível aquisição dos veículos do INM e do respeitado The Independent, as atenções se voltam novamente sobre Lebedev, que fez fortuna na Rússia com empresas mineradoras, companhias de seguros e com o controle da empresa aérea russa Aeroflot.

Enganam aqueles que acreditam que Lebedev é novato na indústria da mídia. Na Rússiam, ele ingressou no ramo ao fundar a revista de notícias Korrespondent. Ele também é o acionista principal, ao lado do ex-líder soviético Mikhail Gorbachev, no jornal russo independente Novaya Gazeta.

Lebedev fez mudanças substanciais no Evening Standard desde que ele assumiu como presidente. sua meta é fazer o jornal sair dos atuais 250 mil exemplares para superar a circulação de 600 mil jornais diariamente. O vespertino também está planejando abandonar sua edição do meio-dia para concentrar esforços somente ma edição noturna, a partir de 2 de janeiro. Lebedev comprou a empresa Daily Mail and General Trust (DMGT), que pertenciam a Lord Rothermore

Enquanto Lebedev planeja ampliar suas atividades, o grupo INM informou prejuízos da ordem de 161,4 milhões de euros (143,5 milhões de libras) ano passado, um deterioração de 165% em relaçãoaos resultados de 2007.

Fonte: Expresso da Notícias