Luís Nassif: Lula, o filho de dona Lindu
Fui assistir “Lula, o filho do Brasil. É um belo ensaio sobre o belo filme que poderia ter sido, mas não foi. Mal ajambrado, uma sucessão de cenas meio descosturadas, impedindo o desenvolvimento da trama e o uso da emoção.
Por Luís Nassif
Publicado 06/01/2010 14:39
Dá a impressão de ter sido finalizado apressadamente, para estrear nos cinemas em janeiro. Virou um semi-documentário, uma colcha de várias cenas que são interrompidas no meio, para dar lugar às cenas seguintes e assim sucessivamente.
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Mesmo assim traz lembranças profundas a todos aqueles que acompanharam o Brasil das últimas décadas. Principalmente conhecendo-se o final da história, do menino retirante se tornando presidente.
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A sucessão de cenas dispersas permite intuir a história.
Primeiro, o sertão seco do final dos anos 40, a vinda para São Paulo em pau-de-arara, os bicos para sobreviver.
Depois, o início da industrialização do ABC, ainda nos anos 50, com o emprego sendo oferecido por pequenas indústrias metalúrgicas.
Na seqüência, o curso de torneiro mecânico no Senai, o orgulho de vestir o primeiro uniforme e de conseguir o emprego na indústria automobilística.
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Embora em cenas picadas, sem desenvolvimento adequada da trama, o filme mostra a evolução do sindicalismo de Lula, o senso de oportunidade, de analisar as circunstâncias de cada momento para saber quando avançar, quando esperar.
Mostra Lula testemunhando e se assustando com os primeiros piquetes, violentos, pré-1964. Depois, sua entrada como “sangue novo” no Sindicato, na chapa de um velho pelego, preocupado apenas com a melhoria da situação dos trabalhadores e recusando o jogo ideológico.
Gradativamente, vai ampliando sua atuação. Quando percebe que o velho pelego preferia os conchavos com as empresas e melhorar as condições dos sindicalizados, insurge-se contra ele. Em uma Assembléia, lança-se candidato, mas preocupado em não crucificar o antecessor.
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Depois, abrindo-se para o jogo político. Quando o irmão é preso, ele enfrenta um militar agressivo e se dá conta de que o regime não permitiria manifestações em favor da melhoria de vida dos trabalhadores.
Aí, Lula vai se abrindo para a política. Perde os receios iniciais, a mentalidade quase de um pequeno burguês e se lança à luta enfrentando o regime.
Há trechos sobre os comícios de Vila Euclides. O filme não chega à fundação do PT. Termina antes.
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Mas o ponto forte é o destaque que dá à mãe de Lula – interpretada pela excepcional Glória Pires. Alguns críticos consideraram que foi piegas conceder tanto espaço à mãe.
Não julgo isso. Pelo contrário, realçou um aspecto extraordinários nas famílias brasileiras – no caso as de baixa renda: a importância da mãe como centro da casa, como referência afetiva e de valores, como orientadora dos filhos
Os programas sociais criados a partir dos anos 90 entenderam essa importância. Tanto que a Bolsa Família é entregue às mães, vistas como centros da estabilidade familiar.
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A ênfase da mãe Lindu apenas constatou o que a sociologia já consagrou: a importância fundamental das mães, especialmente nos segmentos de baixa renda, na consolidação das famílias.
Fonte: Último Segundo